terça-feira, 29 de março de 2016

Expiação Limitada



Texto baseRm 5.8-11

Introdução

A expiação limitada é o terceiro dos intitulados cinco pontos do calvinismo. É uma doutrina que se desenvolveu na tradição reformada. Ao contrário do que muitos pensam, não foi Calvino quem formulou este esquema soteriológico. Os cinco pontos do calvinismo são apenas uma parte, e não o resumo do calvinismo.

Os cinco pontos do calvinismo foram elaborados somente 54 anos após a morte dde Calvino (1509-1564) pelo Sínodo de Dort, “composto de 84 teólogos, 18 representantes seculares, 27 delegados da Alemanha, Suíça, Inglaterra e outros países da Europa, reunidos em 154 Sessões, desde 13 de novembro de 1618 até maio de 1619.”1

O objetivo de ter-se formulado os cinco pontos do calvinismo era refutar o documento apresentado pelos “discípulos do professor reformado de um seminário holandês chamado Jacob Arminius (1560-1600), que tinha sérias dúvidas quanto à graça soberana de Deus, visto que era inclinado aos ensinos de Pelágio e Erasmo, no que se refere à livre vontade do homem”.2 No entanto, os alunos de Arminius, que formularam os cinco pontos do arminianismo, tencionavam mudar os símbolos oficiais das doutrinas das Igrejas da Holanda, que se apoiavam na Confissão Belga e no Catecismo de Heidelberg, para substituírem pelos ensinos de Arminius. Portanto, essa foi a razão pela qual os cinco pontos do calvinismo foram elaborados.

Explanação

A doutrina da expiação ou redenção limitada salienta a obra redentora executada por Cristo através de sua morte na cruz. Jesus se ofereceu como o único e perfeito sacrifício pelos pecados para satisfazer a justiça de Deus, sofrendo a ira divina, tornando-se maldito e morrendo no lugar de pecadores. Em suma, é “a obra que Cristo realizou em sua vida e morte para obter nossa salvação”.Essa doutrina tem como base a doutrina da predestinação, onde se diz que, desde toda a eternidade, antes do mundo vir a existir, e antes que houvesse a queda, Deus escolheu para si um número limitado de pessoas para salvar (Ap 5.9), enquanto o restante é entregue segundo o seu decreto soberano aos seus próprios pecados como punição pela desobediência ao Senhor e, finalmente, à morte eterna (Rm 1.18-21, 24-32; 6.23).

“A palavra expiação é usada muitas vezes no Antigo Testamento. Além de ser um termo teológico muito incomum”4, significa um “ato ou efeito de expiar; o cumprimento da pena ou castigo que se reputa equivalente à culpa ou delito de alguém. Significa remir culpas ou delitos pelo cumprimento de pena; sofrer as consequências de alguém, cumprir a pena que reabilita uma pessoa e, por fim, purificar”.Por exemplo:

“Se um homem não pode pagar uma dívida que tem com o banco, mas se um amigo voluntariamente paga esta dívida por ele, então, esta dívida é coberta e o homem está livre de toda obrigação. Esta é a ideia da expiação”6 e literalmente o que Cristo fez pelos seus escolhidos na obra da redenção, pagando a dívida que tínhamos com Deus.

Todavia, a doutrina da expiação limitada possui algumas implicações de suma importância que devem ser mencionadas. Vejamos, pois:

1. A causa da expiação

Qual foi a razão que levou a Cristo se abdicar de toda a sua glória, vindo a este mundo em forma de homem, nascer do ventre de uma mulher, tendo de passar por todo o processo de nascimento, crescimento e desenvolvimento humano e sofrer as limitações, fraquezas e tentações que nos assolam, ser perseguido, maltratado e, finalmente, morto? “Por qual motivo Deus operou desse modo para cumprir seu propósito? Por que o sacrifício do filho de Deus? Por que, ao morrer, morreu a morte maldita da cruz”? 7

Indubitavelmente, o motivo da expiação foi “afetar a relação de Deus com o pecador, o estado e a condição de Cristo como o Autor Mediatário da salvação, e o estado e a condição do pecador”.8 Com efeito, o motivo da expiação é caracterizado por dois pontos:

1.1 O imensurável amor de Deus

Podemos ver o amor de Deus explícito como a fonte da expiação em João 3.16 – Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

Essa passagem relata o grande amor que Deus teve para com o “mundo perverso e pecador”.9 A expressão de tal maneira não se encontra no grego, mas podemos entender não somente por essa passagem, mas por todo o Novo Testamento, especificamente sobre os textos que abordam a missão de Jesus, a intensidade do amor de Deus. O amor de Deus é algo que não se pode medir. A atitude de dar o seu único filho para morrer no lugar e em favor de pecadores (Rm 5.8), para que aqueles que acreditarem em Cristo como o salvador e filho de Deus não serem condenados à morte eterna, mas terem a vida eterna, é magnificente! 

1.2 A Sua justiça

Além do amor de Deus ser a causa da expiação (Jo 3.16; Ef 2.4), todavia, a justiça de Deus também faz parte desta súmula. A justiça de Deus requeria que Ele “encontrasse o meio para que a penalidade por causa dos nossos pecados fosse paga. Deus não poderia nos aceitar em comunhão consigo mesmo a menos que a penalidade fosse paga.”10 Essa foi a razão pela qual Deus enviou Cristo para realizar a propiciação. O sacrifício que aplacaria a ira de Deus contra nós, por termos ofendido a sua santidade através do pecado, foi transferido para Jesus (Ez 18.4; Rm 6.23). 

Romanos 3.25-26 – A quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impune os pecados anteriormente cometidos; Tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.

Na versão da NBV, podemos entender melhor o que Paulo quis dizer nessa passagem. Vejamos:

Romanos 3.25-26 – “Deus foi quem enviou a Cristo Jesus para levar o castigo pelos nossos pecados, e assim pôr fim à ira de Deus contra nós. Ele usou o seu sangue para, mediante a fé, nos salvar da sua ira. Deste modo, Ele foi justo, mesmo não tendo castigado aqueles que pecaram em tempos passados. Isto porque aguardava a chegada do dia quando Cristo viria e apagaria os pecados anteriormente cometidos”.11

2. A necessidade da expiação

Será que não haveria outra forma de Deus salvar a humanidade sem a necessidade da expiação? Era realmente preciso Jesus morrer em nosso lugar?

Indubitavelmente, sabemos pela doutrina da eleição incondicional, o segundo ponto do calvinismo, que o homem não escolhe se voltar para Deus através do seu livre-arbítrio, mas é Deus que escolhe salvar quem Ele quer pela sua “livre e soberana graça”12, independentemente das obras (Ef 2.8; Jo 6.44; 10.24-28; 15.16; 17.6-9,20). “Contudo, salvar homens perdidos não era necessidade absoluta, mas bondade soberana de Deus”.13  

No entanto, como Deus não era obrigado a salvar ninguém devido à necessidade absoluta, a expiação se tornou necessária. “Uma vez que foi proposta, a salvação deveria ser assegurada por meio da satisfação que poderia ser conquistada somente pelo sacrifício substitutivo e pela redenção comprada pelo sangue”.15 Heber Carlos de campos complementa essa verdade acerca da necessidade absoluta, dizendo que em Hebreus 2.17 Cristo “teve que experimentar as coisas próprias de um ser humano, ou seja, limitações, fraquezas e tentações. Ele teve de sofrer para entender as coisas relativas à misericórdia e tinha de ser fiel para ser um sumo sacerdote perfeito. Para que isso viesse acontecer, o redentor teve de passar por um processo de aprendizagem”.16 Em hebreus é mencionado também que é impossível que o sangue de touros e bodes remova pecados (referência aos rituais de purificação do AT) (10.4) e que um sacrifício superior é requerido (9.23).  

Conclui-se, então, que somente o sacrifício de Cristo é eficaz para aniquilar completamente o pecado (9.26), e que não havia outro modo pelo qual Deus pudesse salvar pessoas a não ser pela morte substitutiva de Jesus.

3. A natureza da expiação

Esse tema retrata a obediência de Cristo, que é descrita como obediência ativa e passiva. Esses dois aspectos estão inseridos “nas categorias mais especificas com que as Escrituras apresentam a obra expiatória de Cristo, que são o sacrifício, propiciação, reconciliação e redenção”.17

3.1 A obediência ativa

Essa expressão trata especificamente sobre a obediência de Cristo por nós. Como é impossível o homem obedecer completamente a Deus, Jesus teve de viver durante a sua vida quando esteve neste mundo em total obediência à lei de Deus em nosso favor (Fp 2.8), “de modo que os méritos positivos de sua obediência perfeita pudessem ser atribuídos a nós” 19 (Rm 5.19). Isso é o que chamamos de obediência ativa.

3.2 A obediência passiva
      
Esse expressão ressalta que “Cristo tomou sobre si os sofrimentos necessários para pagar a penalidade pelos nossos pecados”,20 como havia sido profetizado em Isaías 53.3 sobre a vinda do Messias, o qual seria um homem de dores e experimentado no sofrimento. Hebreus 5.8-9 diz-nos que mesmo sendo Filho, aprendeu a obediência por aquilo que padeceu. E tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem.

Os sofrimentos de Jesus como fraquezas, limitações, tentações, rejeição e oposição dos homens, a dor psicológica de suportar o pecado e a culpa como se Ele mesmo fosse um pecador, a dor física da crucificação, o abandono do Pai na cruz, a dor de suportar a ira de Deus contra o pecado e o pecador e a morte, é que fizeram de Jesus o perfeito salvador. Por outro lado, a obra da expiação tem inúmeros efeitos sobre nós. Veremos agora os quatro efeitos da expiação mais detidamente, que são o sacrifício, a propiciação, a reconciliação e a redenção. “Esses quatro termos demostram como a morte de Cristo satisfez as quatro necessidades que temos como pecadores”.21

i. Sacrifício. Cristo morreu em nosso lugar como substituto e pagou a penalidade da morte que merecíamos por nossos pecados contra Deus (Hb 9.26). 

ii. Propiciação. Para que a ira de Deus contra o pecado e contra nós (pecadores) fosse aplacada e removida, Cristo morreu em nosso favor, propício a nós (1Jo 4.10). 

iii. Reconciliação. Para que a barreira que nos separava de Deus fosse derrubada (Ef 2.14-18), e a barreira que nos impedia de ter comunhão com Deus fosse removida (Is 59.2), era preciso que alguém intervisse em nosso favor, nos reconciliando com Deus (2Co 5.18-19).

iiii. Redenção. Como pecadores, somos escravos do pecado e de 
satanás”.22

Redenção traz a ideia de um resgate, que é “o preço pago para redimir alguém da escravidão ou do cativeiro”23. É de vital importância ressaltarmos que Cristo não pagou resgate algum a satanás e muito menos ao pecado, e também não digo que foi a Deus, porque não foi Ele que nos manteve na escravidão, mas satanás e nossos pecados. Cristo comprou e buscou a redenção, e, portanto, nos “é suficiente saber que o preço foi pago e aceito por Deus (a morte de Cristo), onde o resultado foi termos sido redimidos da escravidão”.24

4. A extensão da expiação

A pergunta crucial que envolve a síntese da extensão da obra expiatória é Por quem Cristo morreu? “No lugar de quem Cristo se ofereceu como sacrifício”25? Existem inúmeras passagens nas Escrituras referentes à morte de Cristo, onde podemos observar que a expiação foi “aparentemente” universal ou que a morte de Cristo foi por todas as pessoas ou pelo mundo todo. 

Entretanto, se analisarmos acuradamente o contexto geral acerca da morte de Cristo, constataremos que a expiação não foi universal, mas limitada ou particular. Em outras palavras, Jesus não morreu por todas as pessoas nem pelo mundo inteiro. Embora o sangue de Cristo derramado na cruz fosse “suficiente para cobrir os pecados de todos os homens e para satisfazer a justiça de Deus contra todo o pecado, ele efetua a salvação somente aos eleitos”.26 A expiação se reduziu ou foi eficazmente aplicada somente para algumas pessoas a quem Deus escolheu salvar.

Outro fator importante que envolve a extensão da expiação é que ela também abrange os não eleitos, que desfrutam dos benefícios da morte de Jesus, no que tange as bênçãos terrenas (Mt 5.45). Isso é o que denominamos de “providência geral” ou “graça comum”Logo, como interpretar as diversas passagens onde é descrito que Cristo morreu por todas as pessoas e pelo mundo todo?

Tanto os cristãos arminianos quanto os cristãos reformados concordam que “o sangue de Cristo é suficiente, em valor, e que sua morte vicária é de valor infinito aos olhos de Deus, e é eficiente ou eficaz somente em relação aos eleitos. O ponto de vista arminiano da expiação universal não é sustentável. Desse modo, a única saída dos arminianos para dizer sobre os que rejeitam a Cristo é dizer que a vontade de Deus é frustrada pelo homem, porque Cristo, ao que pressupõe, morreu por todos os homens aos quais Deus quis salvar, porém, não pôde fazê-lo”27, devido ao “livre-arbítrio” que o homem possui em escolher ou não se voltar para Deus.

Vamos analisar algumas passagens onde os termos muitos e mundo aparecem, e demonstrar que apesar de favorecerem a outra interpretação, enfatizam justamente a expiação limitada. Vejamos:

(Is 53.4-12; Mt 26.28; Mc 10.45; Jo 1.29; Jo 3.16; Rm 5.7-10; 1Cor 15.3; Gl 1.3-4; Tito 2.14; 1Jo 2.1-2; Hb 2.9; Ap 5.8-9; Mc 4.11-12; Jo 10.11,15, 26-28; Jo 17.6-9, 19-21...)

Por essas e outras passagens, vemos que “a bíblia utiliza expressões que são universais em forma, mas que não se referem a todos os homens no sentido distributivo inclusivo. Palavras como mundo e todos, expressões como cada um e todo homem nem sempre significam, nas Escrituras, todos os membros da raça humana”;28 mas sim, a universalidade e diversidade dos eleitos espalhados por todo o mundo e à inclusão dos gentios na obra da expiação. 

Nessa mesma linha de pensamento, Ronald Hanko afirma que “o que tais passagens ensinam é que Cristo morreu por todos os homens sem distinção, não por todos os homens sem exceção. Em outras palavras, tais passagens ensinam que Cristo morreu por todos os tipos de homens (1Tm 2.6a), por todos que estão nEle (1Co 15.22), ou pelo mundo de seu povo, isto é, por seus eleitos de todas as nações”.29 Por isso a ideia de que Jesus morreu por todos os homens, mesmo que todos não sejam salvos, deve ser rejeitada. Seria o mesmo que dizer que a obra de Cristo, no projeto da salvação, não foi perfeita, mas ineficaz, e que o sangue de Jesus foi derramado em vão por alguns que não o querem. Destarte, seria necessário ajudar a Jesus salvar o homem pela livre escolha dele.

Portanto, a expiação limitada não é o meio que pode vir tornar possível a salvação, antes, é o meio que tornou possível a salvação dos eleitos que foram predestinados por Deus Pai em Cristo.
5. A perfeição da expiação

Cristo não veio fazer os pecados expiáveis; Ele veio para expiar pecados!

Hebreus 1.3 – Depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da majestade, nas alturas.

Cristo não veio para fazer Deus reconciliável, Ele reconciliou Deus conosco por meio de seu sangue.30

Conclusão

“A expiação é uma obra completa, jamais repetida ou passível de repetição”.31 “Ela é a provisão eterna do amor no coração de Deus”.32 Ela não força nem constrange o amor de Deus; antes, o amor de Deus constrange a expiação, que se fez instrumento para a realização do propósito determinado do amor”.33

A obra expiatória foi perfeita em todos os aspectos e alcançou o seu objetivo. “Cristo não morreu por todos os homens! A expiação é limitada! A redenção é particular! Só a noiva eleita de Cristo (a igreja) é o objeto do amor de Deus no plano da salvação”.34  

Efésios 5.25b – Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela...



NOTAS:

1. Tradução livre e adaptada do livro The Five Points of Calvinism 
2. Duane E. Spencer, TULIP, Os Cinco Pontos do Calvinismo à Luz das Escrituras, pág 111-112, Parakletos.
3. Teologia sistemática Wayne Grudem, pág 259.
4. Gise J. Van Baren. Expiação limitada.
5. Dicionário Priberam da língua portuguesa.
6. Gise J. Van Baren. Expiação limitada.
7. John Murray. Redenção consumada e aplicada, pág 12.
8. Louis Berkhof. Teologia sistemática, pág 386.
9. Bíblia de Estudo MacArthur. Notas de Rodapé.
10. Wayne Grudem. Introdução à Teologia sistemática, pág 271.
11. NBV.  
12. John Murray. Redenção consumada e aplicada, pág 13.
13. Ibid.
14. Wayne Grudem. Teologia sistemática, pág 272.
15. Turretin, Francis. Institutio Theologiae Elencticae, Livro XIV, Q.X; Thornwell, James Henley. “The Necessity of the Atonement”, em Collected Writings, vol II (Richmond, 1886), pág 205-261; Stevenson, George. A Dissertation on the Atonement (Filadélfia, 1832), pág 5-98; e Hodge, A.A. The Atonement (Londres, 1868), pág 217-222.
16. Heber Carlos de Campos. As Duas Naturezas do Redentor, pág 109-110.
17. John Murray. Redenção consumada e aplicada, pág 19.
18. Ibid, pág 21.
19- Wayne Grudem. Introdução à Teologia sistemática, pág 273.
20. Ibid, pág 274.
21. Ibid, pág 278, 279.
22. Ibid.
23. Ibid.
24. Ibid.
25. R.C. Sproul. Eleitos de Deus, pág 152.
26. John Murray. Redenção consumada e aplicada, pág 55.
27. Duane Edward Spencer. Artigo sobre a Expiação Limitada.
28. John Murray. Redenção consumada e aplicada, pág 53.
29. Ronald Hanko. Doctrine according to Glodiness, Reformed free publishing Association, pág 155-156.
30. John Murray. Redenção consumada e aplicada, pág 47. 
31. Ibid.
32. Ibid, pág 48.
33. Hugh Martin. The Atonement: in Relations to the Covenant, the Priesthood, the Intercession o four Lord (Edimburgo), pág 19.
34. Duane Edward Spencer. Artigo sobre a Expiação Limitada.

Autor: Leonardo Dâmaso
Divulgação: Reformados 21

Como receber o Espírito Santo







Gostaria de saber apenas uma coisa: foi pela prática da lei que vocês receberam o Espírito, ou pela fé naquilo que ouviram? (Gl 3.2)


São muitas as pessoas que acreditam que o recebimento do Espírito Santo é uma bênção dada depois da conversão. Geralmente, essas pessoas também acreditam que a evidência de que o Espírito foi dado é o falar "línguas estranhas" — uma enxurrada de sílabas soltas, sem sentido algum.


O que mais escraviza essa gente, porém, é a crença de que para receber o Espírito Santo é necessário que o crente se empenhe numa busca contínua e incessante — uma luta que pode durar anos — fazendo tudo para passar pela sonhada experiência que, segundo entendem, colocará o cristão num patamar de espiritualidade mais elevado.



Na Bíblia, porém, ninguém que recebeu o Espírito Santo, e também ninguém que falou em línguas (as verdadeiras) jamais se empenhou na busca de nada disso. Não há nas Escrituras nenhum exemplo de pessoas buscando intensamente o recebimento do Espírito como a gente vê especialmente no meio pentecostal. Essa prática é estranha ao Novo Testamento e se constitui apenas em mais uma novidade desse povo.


Mesmo assim, milhares de crentes sofrem, se angustiam, se sentem frustrados, cansados e temerosos, enquanto se empenham numa procura inútil por algo que é resultado apenas de emoções, de autossugestão e de pressões do grupo. Em meio a suas preocupações, esses irmãos mal instruídos perguntam: "Por que não recebo logo o Espírito? O que preciso fazer, afinal, para que isso me seja dado?". As respostas que surgem, vindas de mestres sem instrução, as escravizam ainda mais. Os tais mestres dizem a essas pobres almas que é preciso orar com fervor (gritos, clamores, lágrimas...), fazer longas vigílias (especialmente em lugares isolados como florestas e montanhas), louvar vigorosamente a Deus (sapateando, pulando, rodopiando), jejuar por dias a fio... Enfim, segundo dizem, a pessoa tem que se sujeitar a diferentes receitas, esforçando-se ao extremo, tudo para obter o que, na verdade, é dom da graça divina e de nada mais.


O texto que encabeça este artigo, porém, vai contra tudo isso. Paulo deixa claro em Gálatas 3.2 que nem mesmo a guarda da Lei divina pode conferir o Espírito Santo a alguém. Ora, a Lei de Deus é a perfeicão da justiça! É de origem sobrenatural — algo santo, perfeito, justo e bom (Rm 7.12). Se a observância dessa Lei não confere o Espírito Santo a uma pessoa, como acreditar que a observância de regras humanas o fará? Se Deus não dá o Espírito nem mesmo a quem cumpre o que Moisés falou com base na revelação, acaso o dará a quem cumpre o que o pastor pentecostal falou com base em invenção?


O fato, porém, é que, como disse o bom e velho Paulo no texto acima, o Espírito é dado a quem crê na pregação apostólica. Para recebê-lo, basta somente isso: crer! Foi precisamente essa lição que o mesmo Paulo ressaltou na Epístola ao Efésios: Quando vocês ouviram em creram na palavra da verdade, o evangelho que os salvou, vocês foram selados em Cristo com o Espírito Santo da promessa (Ef 1.13).


Quão libertadora é essa verdade! Quantos crentes sinceros não se livrariam de fardos pesados, de horríveis sentimentos de culpa, de frustrações amargas e até de encenações grotescas caso assimilassem essa maravilhosa mensagem de Deus! Infelizmente, porém, o orgulho humano resiste a qualquer coisa que lhe remova o mérito de suas conquistas. Por isso, ao que tudo indica, o meio evangélico continuará ainda por muito tempo a ver gente berrando, chorando e se desgastando na busca de algo que vem de pronto e de graça quando o homem crê no evangelho.






Autor: Marcos Granconato

Artigo extraído do Facebook do autor
Via:Reforma21

segunda-feira, 28 de março de 2016

Desemprego e a Soberania de Deus

"Estou desempregado! E agora??" por Josemar Bessa







"Pastor, estou desempregado... o que faço agora?"




O que Deus promete para aqueles que estão desempregados?


Por causa tão somente de Cristo, Deus proverá tudo o que você precisa.


Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno. - Hebreus 4:16
O desemprego não é pecado. Mas todos nós, empregados e desempregados, pecamos. Mas a boa notícia é que, porque Jesus morreu para pagar pelos nossos pecados, se de fato estamos em Jesus Cristo e confiamos Nele, Ele nos dará tudo o que é necessário para nós.


E eu quero dizer tudo - perdão completo, a fé mais forte, sabedoria, resistência, sustento, um trabalho - tudo o que precisamos.


Deus nos livra mesmo de problemas que causamos a nós mesmos.


Você pode fazer tudo certo e ainda ser demitido. Mas e se você causou o teu desemprego? E se você não trabalhou duro, foi pego mentindo ou cometeu erros? Olhe para a promessa de Deus no Salmo 50:15.


“Invoca-me no dia da angústia; Eu te livrarei, e tu me glorificarás.”


Se você realmente confessar qualquer erro, humilhar-se diante de Jesus Cristo, e chamá-Lo, Ele te livrará. Pode haver consequências do que você fez. Mas Deus não se desviará de nós por causa do pecado ou erros.
...


Lembre-se como a mentira de Abraão causou a ida de sua esposa Sara para o harém de Faraó? Deus teve misericórdia dele e resgatou Sara. Ele também vai te resgatar.


Deus nos abençoa mesmo através de erros que outras pessoas cometem.


E se você perdeu seu emprego por causa de um patrão injusto, difamação de alguém, ou políticas tolas? Seria fácil ver-se como uma vítima. Mas você não é. Mesmo os erros cometidos a você por outros são parte do plano de Deus para trazer-lhe um grande bem.


Por exemplo, os irmãos de José o venderam como escravo, resultando em anos em uma masmorra. Mas olha como ele descreve isso quando ele está falando com seus irmãos -


“Vós bem intentastes mal contra mim; porém Deus o intentou para bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar muita gente com vida.” Gênesis 50:20


Ninguém pode fazer nada a você que vai fazer com que você tenha uma perda final. Deus planejou cada perda como uma maneira de trazer-lhe grande e glorioso bem.


O controle de Deus é completo.


Deus não está preocupado com o crescimento do PIB, taxa de desemprego, ou índices de produção. Ele controla tudo, incluindo o coração de cada proprietário de negócios em tua cidade -


“Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do SENHOR, que o inclina a todo o seu querer.” - Provérbios 21:


Deus está no controle completo de seu emprego. Não é que você possa pular a procura, entrevistas, envio de currículos, e orar por um emprego. Deus irá trabalhar através de seus esforços. Mas Ele está em controle completo do resultado.


Haverá provisão de Deus para trabalho e sustento que você precisa.


Isso é o que Jesus promete em Mateus 6:33 -


Mas buscai primeiro o reino de Deus ea sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.


Existe uma condição - que devemos buscar em primeiro lugar o seu reino e a sua justiça. Isso não significa que buscamos perfeitamente - deste lado da vida nenhum de nós busca a Deus perfeitamente. Mas isso significa buscá-Lo realmente, sinceramente, e confessando quando falhamos.


Se esse é o seu coração, então o Deus que tem sido sempre desde toda a eternidade, que criou os céus e a terra, e que nunca quebrou uma promessa, promete que Ele proverá o trabalho e renda que você precisa.


Não necessariamente o trabalho e renda que você deseja . Mas o trabalho e a renda que você precisa para cumprir seu chamado e encontrar a sua maior alegria nEle.


O plano de Deus é perfeito e abrange todos os dias da tua vida, inclusive os dias que você está desempregado.


... No seu livro foram escritos, cada um deles, todos os dias que foram formadas para mim, quando ainda não havia nenhum deles. Salmo 139: 16


Uma vez que Deus está no controle completo, a cada dia você está desempregado é um dia que Ele escolheu para você ficar desempregado. E Deus tem atividade significativa para você durante cada um desses dias.


Então o que é que Ele quer que você faça? Ele vai lhe dar sabedoria para responder a esta pergunta ( Tiago 1: 5 ). Obviamente você vai estar em ativo, enviando currículos e fazendo trabalho de pesquisa...


Mas também gastando mais tempo na Palavra e oração. Tire um tempo cada dia para definir o seu coração mais fortemente sobre o Livro. Te incentivo a orar com outras pessoas que estão desempregadas. Um dos meus amigos trabalhou no Uber para fazer algum dinheiro e manter-se produtivo durante seu desemprego.


Não basta passar os seus dias à espera de um emprego. Deus tem um plano perfeito para cada dia que você está desempregado.


Deus é poderoso para nos dar alegria completa nEle, mesmo sem emprego.


Isso é em Habacuque 3: 17-18 -


Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; Todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação.




Isso não será fácil. Você vai ser tentado a pensar que a sua alegria depende de um trabalho. Mas isso não é verdade.


Então, peça a Deus para derramar o Seu Espírito sobre você. Suplique que para que Ele o leve a deixar de confiar em um trabalho para ser sua fonte de alegria. Coloque o seu coração em cima das Escrituras onde a satisfação me Deus é manifesta – Deus e mais nada. E ore sobre essa Escritura até ver - e sentir - que Jesus é tudo que você precisa.


Deus jamais falhou em nenhuma de suas promessas.




“Nem uma palavra de todas as boas promessas que o Senhor tinha feito para a casa de Israel tinha falhado; tudo se cumpriu.” Josué 21:45


Deus tem um histórico perfeito. Ele cumpriu todas as promessas que ele fez para a casa de Israel. E por causa da morte de Jesus na Cruz, e sua confiança em Deus recebida como um dom, Ele vai cumprir cada promessa que Ele fez a você.


Então - confie nele.
Via:Tulipa Reformada

domingo, 13 de março de 2016

O valor da contribuição

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editorial-650
Editorial da Semana: Marcelo Feltrin
A Palavra de Deus traz diversos princípios sobre contribuições: entre outras coisas, o cristão deve ofertar com alegria (2Co 9:7), proporcionalmente à sua renda (1Co 16:2), voluntariamente (2Co 8:3), generosamente (2Co 9:6-11) e sistematicamente (1Co 16:2). Um outro princípio fala sobre a contribuição estar no topo de nossas prioridades (Pv 3. 9).
Seguir a orientação bíblica já dever ser motivo mais que suficiente para o cristão ser um fiel contribuinte. No entanto, olhar a maneira como nos organizamos pode também nos ensinar e estimular a contribuir.
É bom vir à igreja domingos e encontrar um local adequado onde podemos nos reunir para louvar e cultuar a Deus, ou salas de aula onde podemos estudar a Bíblia. E estas instalações tem um custo. Precisamos também pagar salários a uma série de pessoas, pois precisamos mais que instalações, e dado o nosso tamanho é preciso ter pessoas dedicadas exclusivamente a certas funções. O Corpo de Cristo precisa de instalações e de gente com dedicação integral em muitas atividades. Espera-se que o crente tenha uma motivação diferente de um clube, onde pagamos mensalidade pra poder usar a piscina ou a quadra de esporte. Nossa motivação é fazer da igreja local algo funcional, operante, tendo em mente a ideia de Corpo de Cristo (I Co 12), com suas diversas partes cooperando de maneira integrada, promovendo cuidado mútuo e crescimento.
Por falar em crescimento, nossa visão vai além de nossa própria comunidade: sustentamos o trabalho missionário, obreiros que pregam a Palavra de Deus a pessoas que precisam ser alcançadas. Essas pessoas podem estar perto, mas também podem estar em regiões muito distantes. Diversos motivos fazem com que nos organizemos para sermos mais efetivos. De outra forma, como poderíamos atingir uma tribo de índios ou uma população carente e geograficamente distante? O Corpo de Cristo preocupa-se em sua expansão.
Também há pessoas carentes, próximas de nós ou não, a quem queremos ajudar, seja com recursos materiais como uma cesta básica, ou roupas; ou ajuda de outra natureza: orientação profissional, aconselhamento, oração são algumas formas como temos atendido os necessitados. Muitas vezes é preciso recursos financeiros para que isso aconteça.
Pelos mesmos motivos, muitos de nós além de recursos contribui também com parte de seu tempo em uma quantidade enorme de atividades, através de serviço voluntário. É a maneira tangível de demonstrar amor e compromisso com o Reino de Deus.
O contribuinte deve ter a visão de que seus recursos viabilizam algo muito maior: a expansão desse Reino, que se dá através do estudar a Palavra, alcançar outras pessoas, ter orientação sobre princípios bíblicos aplicados ao nosso cotidiano, aconselhamento, discipulado, entre tantos outras ações. Todas estas coisas tem um valor muito superior às demais coisas que seu dinheiro pode comprar. Invista com sabedoria.
 Site da Igreja Batista Cidade Universitária

sábado, 12 de março de 2016

Devorador: o mitológico demônio que ataca as finanças



A ideia de que existe uma classe de demônios devoradores que atacam as finanças daqueles são infiéis no dízimo teve sua origem nos ensinamentos do herético movimento de batalha espiritual. Um dos livros que divulgou a teologia do devorador no Brasil foi Por trás das Bençãos e Maldições, do bispo Robson Rodovalho, da igreja” Sara a Nossa Terra.  
Neste livro, Rodovalho traça um paralelo de uma revelação que teve de quatro tipos de gafanhotos, os quais representam quatro tipos de espíritos malignos que atacam as finanças daqueles que descerram uma lacuna na vida financeira. Em outras palavras, os devoradores se adentram na vida das pessoas que dão brecha pelo fato de não serem dizimistas.

Segundo os mestres da teologia do devorador, nem mesmo a oração tem poder para repreender os demônios que atacam as finanças; somente o dízimo pode evitar e neutralizar a ação deles contra os cristãos. Para atestar sua aplicação alegórica dos gafanhotos como demônios vorazes, Rodovalho escreve em seu livro o entendimento que teve dos gafanhotos em Joel. Vejamos, pois:
Joel 2.25-27 – Assim vos restituirei os anos consumidos pelo “gafanhoto” migrador, pelo assolador, pelo destruidor e pelo cortador, meu grande exército que enviei contra vós. Comereis à vontade e vos fartareis, e louvareis o nome do Senhor vosso Deus, que agiu em favor de vós de maneira maravilhosa; e o meu povo nunca será envergonhado. Vós sabereis que eu estou no meio de Israel e que eu sou o Senhor vosso Deus, e não há outro; e o meu povo nunca mais será envergonhado. (Almeida Século 21)
Segundo Rodovalho, o Cortador era aquele que tinha o poder para cortar. Quando o brotinho nascesse, logo seria cortado. Começa a fazer um negócio, vem alguém e desmancha. Inicia-se uma empresa lucrativa, aí vem os prejuízos e tem que fechar. Começa a ter esperança no trabalho, logo vem um chefe que se indispõe e demite. É o espírito de gafanhoto cortador que está liberado contra a pessoa.
Migrador é um demônio que migra, muda, não fica em lugar fixo. Ele opera em um período, depois volta. Ele migra até de família em família, região em região. Você já percebeu que de vez em quando começam os acidentes de carro? Sabe o que é isso? São os espíritos migradores. Fazem danos em uma casa trazendo acidentes e perdas financeiras. Logo depois aquele espírito de tormenta vai perseguir outra família, outra casa.
Devorador tem o poder para cortar mais fundo que o migrador. Ele devora, come velozmente, arranca as cascas e o cerne das plantações, deixando apenas a raiz, às vezes deixa só o tronco morto ou semimorto. O devorador toca não apenas nos bens da pessoa, mas no casamento, nas emoções. Debilita a própria saúde, o próprio equilíbrio que aquela pessoa possuía.
Destruidor tem o poder para tirar a vida da planta. Ataca a raiz. As pessoas que se suicidam, muitas delas o receberam. Começa com a perda financeira. Vai envolvendo-se em negócios inescrupulosos, tormentos, até que perde tudo o que possui. O espírito do gafanhoto destruidor arrasa completamente os bens, a felicidade, a saúde e a própria vida da pessoa, matando-a.1
Na verdade, essa analogia entre os tipos de gafanhotos existentes com demônios não está baseada numa exegese correta do livro de Joel. Antes, é pomo da elucubração equivocada de alguém que é desonesto intelectualmente, inescrupuloso e, sobretudo, herético. 
Além do texto de Joel, os propagadores da “teologia do devorador” também recorrem, como paralelo, ao famoso texto de Malaquias 3.10-12 para ratificarem a existência deles. 
Malaquias 3.10-12 – Trazei todos os dízimos ao tesouro do templo, para que haja mantimento “na minha casa” [“no templo”, ênfase minha], e provai-me nisto, diz o Senhor dos exércitos, e vede se não vos abrirei as janelas do céu e não derramarei sobre vós tantas bênçãos, que não conseguireis guardá-las. Por vossa causa também repreenderei “a praga devoradora” [ou o devorador ARA], e ela [ou o devorador ARA] não destruirá os frutos da vossa terra, nem as vossas videiras no campo perderão o seu fruto, diz o Senhor dos exércitos. E todas as nações vos chamarão bem aventuradas; pois a vossa terra será aprazível, diz o Senhor dos exércitos. (Almeida Século 21)
Vamos entender corretamente o que ambos os textos verdadeiramente demonstram. 
O profeta Malaquias surgiu no cenário de Israel num tempo em que imperava a tepidez espiritual. Israel estava desmotivado e em profundo desânimo. E por que? Acerca disso, Augustus Nicodemus Lopes escreve:
Fazia cerca de 100 anos que os judeus tinham regressado do cativeiro. Deus havia mandado o povo de Israel para o exílio, por volta de 600 ou 500 a.C, em razão reiterada idolatria e falta de arrependimento. (...) Parte do povo foi para o Egito, outra se dispersou e muitos outros morreram. Durante 70 anos, o povo permaneceu cativo na Babilônia.
Tempos depois Deus trouxe de volta [o povo] à terra prometida. Esse período está registrado nos livros de Esdras e Neemias, dois homens levantados por Deus para liderar o retorno da nação à terra prometida. Porém, nem todos regressaram; parte do povo ficou na Babilônia; outra permaneceu no Egito. Mas um grande contingente voltou para a terra de Israel...
Quando regressaram, os judeus pensavam ter chegado o tempo do cumprimento das grandes promessas que os profetas de Israel haviam feito. Isaías, Ezequiel e Jeremias profetizaram um tempo maravilhoso para o povo de Deus após a restauração, e o povo acreditava que aquele seria o tempo em que essas promessas se cumpririam.
Só que cem anos se passaram desde a volta do cativeiro, e as coisas não estavam acontecendo conforme a expectativa. Promessas tinham sido feitas, mas a realidade não estava de acordo com elas. (...) Por meio dos profetas o Senhor prometera uma grande restauração de seu povo na terra, mas somente parte dele retornou da Babilônia. Os profetas haviam mencionado um período de paz, mas eles ainda estavam cercados por inimigos.
Sendo assim, a dedicação e o amor para com Deus havia se esvaído do coração do povo (1.1-5). Os sacerdotes estavam corrompidos (1.6 – 2.9). O povo havia se casado com mulheres estrangeiras que cultuavam deuses pagãos (2.10-15; Ed 9 – 10; Ne 13.23-27). Estavam cometendo injustiças sociais (3.5; Ne 5.1-13). E, finalmente, vemos a infidelidade do povo para com Deus retendo os dízimos e as ofertas (3.6-12; Ne 13.10-14). Augustus Nicodemus Lopes ainda diz que os cultos a Deus viraram mero formalismo, rituais mecânicos e sem vida. O coração do povo não estava mais neles. Cada um dava prioridade a seus assuntos pessoais, em vez de se dedicar a terminar a reconstrução do templo e prestar culto a Deus.2
Joel, por sua vez, é um dos profetas mais antigos do Antigo Testamento. Ele aparece em meio a um período de seca prolongada em Judá, durante o reinado do rei Joás, por volta do ano 835-796 a.C,. Todavia, uma grande invasão de gafanhotos destruiu quase toda a plantação que havia na Terra Prometida, resultando numa grave crise econômica (1.7-20) que afetou o Reino do Sul, deixando-o muito enfraquecido financeiramente. Esse desastre natural enviado por Deus e que foi executado pelos gafanhotos serviu para Joel de ilustração acerca do cerne de sua mensagem: O castigo de Deus em virtude dos pecados dos sacerdotes e do povo (2.1-17).  Assim como o povo de Israel na época de Malaquias, a causa do castigo de Deus ao povo de Judá foi também devido a tepidez espiritual. O profeta Joel convoca o povo que havia deixado de amar a Deus acima de tudo para um sincero arrependimento, descrito no capítulo 2.13.
devorador (ARA, ARC) ou a praga devoradora (Almeida Século 21), ou ainda as pragas (NVI), é simplesmente a descrição de um inseto chamado gafanhoto. Existem alguns tipos de gafanhotos nos quais o profeta Joel descreve que Rodovalho e os falsos mestres neopentecostais acreditam representar demônios. Vejamos, pois:
O Cortador (gazam) é um tipo de gafanhoto que se instala ou habita na plantação. Ele destrói uma parte dos frutos, apenas. Sendo assim, o agricultor na época da colheita sofre prejuízo financeiro perdendo uma parte dela, a qual fica imprópria para o consumo alimentar.
Diferente do cortador, que habita nas plantações, o Migrador (arbeh) é um tipo de gafanhoto que voa em bando por diferentes lugares, que aparece de repente na plantação destruindo mais a colheita, aumentando ainda mais o prejuízo do agricultor.
Devorador ou Infestante (jelek), por sua vez, é o tipo mais devastador de gafanhoto. Assim como o migrador, voa também em bando, chegando a cobrir o céu, dando o aspecto de tempo fechado. Esta nuvem é composta de muitos gafanhotos que quando pousam sobre uma plantação, a destrói quase que por completo em quase uma hora, levando o agricultor a ter mais prejuízos com a colheita.
Finalmente, o Destruidor (chasel) é o tipo de gafanhoto mais poderoso para causar a destruição. Quando uma plantação sofre o ataque destes insetos, ela é completamente arruinada, levando o agricultor praticamente à falência. 
Reiterando, o ataque de gafanhotos literais que Judá sofreu na época do profeta Joel foi castigo de Deus! Essa nação havia pecado gravemente contra o Senhor. O castigo que resultou numa assoladora crise econômica para toda a nação era o meio de Deus levar o povo ao arrependimento de seus pecados e se voltar para Ele. Isso também se aplica no caso de Malaquias, onde o povo de Israel, que sobrevivia da agricultura, também sofreu financeiramente com a praga de gafanhotos devoradores. 
Todavia, o medo, a culpa e a ganância são os pilares que sustentam a crença no devorador. Os pastores vigaristas da fé neopentecostal utilizam esses três argumentos para manipular as emoções dos incautos, para que forneçam a eles valores consideráveis em dinheiro para bancarsuas vidas regaladas. Ora, o medo de não ser abençoado financeiramente e de ser alvo do ataque maldito dos espíritos vorazes leva crentes iludidos e gananciosos a serem mantenedores fiéis de igrejas lideradas por homens corruptos. Destarte, o sistema das famosas campanhas do neopentecostalismo, com pessoas tentando barganhar com Deus o milagre, a benção e a prosperidade mediante o dízimo e a oferta, é extensivamente utilizado para a exploração da fé e da sustentação de um mercado religioso pragmático, sincrético e depravado.
Hernandes Dias Lopes, em seu comentário expositivo de Malaquias, entende que o devorador não é um espírito maligno conforme alegam os pentecostais e neopentecostais, mas comete um erro de aplicação, salientando que o devorador pode ser tudo aquilo que subtrai os nossos bens, que conspira contra o nosso orçamento e que mina as nossas finanças.3
Não vemos nenhuma menção nos evangelhos e nas cartas do Novo Testamento de espíritos malignos que atacam as finanças. O devorador não é algo que prejudica as finanças de quem não dizima, como entende Hernandes Dias Lopes, nem um demônio, mas simplesmente um inseto [gafanhoto] que Deus utilizou para executar o seu juízo disciplinador sobre o seu povo que estava vivendo em pecado. Certamente Deus utiliza meios para disciplinar o seu povo e levá-lo ao arrependimento quando ele não está vivendo da maneira requerida pelas Escrituras. O Senhor disciplina através do desemprego, da doença, da crise financeira, da morte de um familiar e de várias outras formas. A disciplina manifesta o cuidado e o amor de Deus para com os seus filhos (veja Hb 12.4-14). 
Com efeito, a ideia de que existe um demônio que ataca as finanças chamado devorador é uma falácia criada no laboratório das heresias neopentecostais!
Mateus 7.15 - Cuidado com os falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em pele de ovelha, mas interiormente são lobos DEVORADORES! (Almeida Século 21)



NOTAS:
1. Robson Rodovalho, Por trás das Bençãos e Maldições, pág 32-35.2. Augustus Nicodemus Lopes, O Culto Espiritual, pág 11-143. Hernandes Dias Lopes, Malaquias, pág 103.


Autor: Leonardo Dâmaso
DivulgaçãoReformados 21