sábado, 2 de abril de 2016

A Bíblia e o “Mundo”

A Bíblia e o “Mundo”
Gary DeMar
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1


Embora o uso da palavra “mundo” pela Bíblia tenha vários significados específicos, na maioria dos casos ele difere um pouco da forma como costumamos usar a palavra em nossa conversação e escrita diária: uma Major League “Série Mundial” é uma competição de esportes que pode incluir times de baseball de apenas dois países (Estados Unidos e Canadá);2 o show de televisão “O Mundo de Dave” é sobre a vida limitada do comediante Dave Barry; estar “no topo do mundo” não tem nada a  ver com subir até o pico do Monte Everest; a música de Jiminy Cricket sobre ser “um pequeno mundo, afinal de contas” não é uma descrição das dimensões planetárias; e afirmar que o “amor faz o mundo girar” dificilmente é uma lei de física estabelecida. Poucas pessoas experimentam problemas ao entender esses usos variados da palavra “mundo” no discurso ordinário, pois elas entendem o contexto no qual a palavra é usada. O mesmo é verdade para a forma como a Bíblia usa “mundo”. Contextos diferentes podem mudar o significado de uma palavra. É tarefa do intérprete prestar muita atenção ao tema para entender o significado que o autor tem em mente quando usa “mundo”. Em João 1:10, “mundo” está sendo usado de três maneiras diferentes com nenhuma confusão.

O Mundo como Criação Física de Deus

O primeiro ato criativo de Deus foi a criação do cosmos, o mundo físico: “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn. 1:1). Qual foi a opinião de Deus sobre a sua obra?: “E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom” (1:31). A partir do Novo Testamento, não somente sabemos que “o mundo foi feito por ele”, mas que Jesus “estava no mundo” (João 1:10; cf. Hb. 1:2-3; Cl. 1:16). A ordem criada é um feito de Deus, e desempenha um papel significativo no plano providencial de Deus:

Cristo foi escolhido “antes da fundação do mundo” (1 Pedro 1:20), e Hebreus fala do que Cristo disse quando “veio ao mundo” (Hb. 10:5).  Paulo diz que existem “muitos idiomas diferentes no mundo” (1 Coríntios 14:10). O significado é claro: a referência é ao nosso habitat físico, a terra.3



1 E-mail para contato: felipe@monergismo.com. Traduzido em janeiro/2007.
2 O Little League inclui mais de 100 países de todo o mundo. O time vencedor na América joga com o vencedor da competição internacional.
3 David F. Wells, God in the Wasteland: The Reality of Truth in a World of Fading Dreams (Grande Rapids, MI: Eerdmans, 1994), 37.





Em seu discurso aos filósofos atenienses, Paulo descreveu a crença comum de que Deus “fez o mundo e tudo o que nele há” (Atos 17:24). Seu ponto de partida foi que existia um Deus particular, o Deus único e verdadeiro, que criou o cosmos (17:31) e poderia salvá-los dos seus pecados.

A palavra grega kosmos (“mundo”), a partir da qual derivamos as palavras portuguesas cosmos, cósmico, cosmopolitano, microcosmo, e cosmologia,4 pode designar a ordem criada inteira (Mt. 13:35; 24:21; Lucas 11:50; João 17:5,24), a terra em particular (Mt. 4:8; Marcos 14:9; Lucas 12:20; João 11:9), um grande grupo (João 12:19), um sistema político/social/religioso (Ap. 11:15), um sistema mundial conflitante (1 João 5:19), e, como veremos, o domínio particular da obra redentora de Deus.

O Mundo como o Objeto da Graça Redentora de Deus

Um dos versículos mais amados na Bíblia é “Porque Deus amou  o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16; cf. 2 Coríntios 5:19). Entendendo o contexto redentor de João, o uso de “mundo” é melhor entendido como ensinando que o amor de Jesus não tem limitações nacionais, raciais ou geográficas, e que ele não é restrito a um grupo de pessoas. Os samaritanos, que como um grupo foram banidos pelos judeus, foram abraçados por Jesus. Ao ouvir a mensagem redentora de Jesus, eles disseram o seguinte à mulher samaritana que tinha encontrado Jesus primeiro junto ao poço: “Já não é pelo teu dito que nós cremos; porque nós mesmos o temos ouvido, e sabemos que este é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo” (João 4:42). O “evangelho eterno” deve ser pregado “aos que habitam sobre a terra, e a toda a nação, e tribo, e língua, e povo” (Apocalipse 14:6), isto é, ao mundo.

Antes do Pentecoste, o evangelho foi quase exclusivamente uma mensagem somente aos israelitas, com algumas exceções (Mateus 10:5; 15:21-28). Uma família não-israelita poderia ser incorporada a Israel pela fé (e.g., a família de Raabe: Josué 2:8-14; cf. Mateus 1:5). Sob o Novo Pacto, não existe nem judeu nem gentio (Gálatas 3:28), pois a parede de divisão que separava os dois mundos – o mundo judeu e o gentio – foi desmoronada pela obra redentora de Cristo (Ef. 2:11-22). Jesus é agora o “Salvador do mundo”.

O amor redentor de Jesus se estende aos judeus (Mt. 15:24), cananeus (15:22), samaritanos (João 4:42) e gentios em geral (Mt. 12:18,21; Lucas 2:32; Atos 9:15; 10:45; 11:1,18). Jesus “devia morrer pela


4 Bob Moore e Maxime Morre, Dictionary of Latin and Greek Origins: A Comprehensive Guide to the Classical Origins of English Worlds (New York: Barnes & Noble Books, [1997] 2000), 115-116.




nação. E não somente pela nação, mas também para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos” (João 11:51-52; 10:16). Essa era uma idéia nova para os judeus do primeiro século. Até mesmo Pedro teve que ser convencido por Deus de que os não-judeus (o mundo como distinto de Israel) também compartilhariam das bênçãos do pacto por meio da cruz de Cristo (Atos 10 – 11:1-18; 15:1-29; Gl. 2:11-14). Esse é o porquê Pedro pôde dizer: “Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas; Mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo” (Atos 10:34, 35).

O Mundo como se Referindo a Todos Sem Distinção

Os fariseus estavam preocupados o suficiente com o impacto de Jesus sobre os corações e mentes daqueles que viviam em Israel, especialmente na cidade capital de Jerusalém; assim, eles lançaram essa advertência frenética: “Eis aí vai o mundo após ele” (João 12:19; cf. 7:4; 14:22; 16:21; 18:20). Obviamente, o mundo nesse contexto significa um grande grupo de pessoas e não milhões de pessoas de todo o planeta. Não todo mundo sem exceção, mas todo mundo sem distinção na terra de Israel; jovens e velhos, homens e mulheres e judeus e gentios (12:20). A palavra “todos” é usada numa forma similar por toda a Bíblia (e.g, Mateus 3:5; 4:23-24). “Por exemplo, Marcos 11:32 nos diz que ‘todos sustentavam que João verdadeiramente era profeta’, mas, obviamente, somente pessoas que estavam cientes do que estava acontecendo poderiam estar incluídas nessa menção. Em João 8:2 somos informados que ‘todo o povo vinha ter com ele’, mas sabemos que os fariseus não. Em ambos os casos seria mais apropriado dizer ‘todos os tipos de pessoas.’”Costumamos usar “todos” de uma maneira similar hoje.

O Mundo como um Sistema Político

O avanço do evangelho por todo o Império Romano causou alarme suficiente, a ponto de alguns afirmarem que os discípulos de Jesus tinham “alvoroçado o mundo” (Atos 17:6). Embora uma palavra diferente seja usada para “mundo” (oikoumene), o significado é similar ao kosmos em aplicação. Nos dias da igreja primitiva, a ideologia Romana, bem como a sua força militar e comércio dominavam o mundo mediterrâneo. A terra habitada, no que diz respeito às referências feitas pelos escritores do Novo Testamento, era um mundo político e religioso governado pelo Império Romano (Mateus 24:14; Lucas 2:1). Os efeitos da obra redentora de Jesus tiveram um impacto sobre aqueles que se opunham ao evangelho. Esses oponentes entenderam que uma  fidelidade para com Jesus significaria que o rei divino deles, César, não mais poderia reivindicar o título de Dominus et Deus, “senhor e deus”. A ameaça do senhorio de Jesus ao reino político prevalecente de Roma levou Jason e seus associados a serem acusados de atividades anti-reino (Roma):  “Todos estes procedem  contra os  decretos de  César,  dizendo

Arthur C. Custance, The Sovereignty of Grace (Grand Rapids; MI: Baker Book House, 1979), 163.




que há outro rei, Jesus” (Atos 17:7). O uso de “mundo” nesse contexto significa o mundo da Roma pagã dominada por toda a sua decadência, incluindo sua tolerância para com práticas ocultas (8:9-11; 13:6-12; cf. 19:19) e adoração de governadores (12:20-24).

O Mundo como Antítese

Como pode ser verdade que “a amizade do mundo é inimizade contra Deus?” (Tiago 4:4), quando sabemos que “Deus amou o mundo de tal maneira” (João 3:16)? Se “mundo” recebe o mesmo significado em todo contexto no qual aparece, então teríamos uma contradição. O “mundo” que Tiago está descrevendo é o mundo de incredulidade, não o mundo como um lugar, uma esfera de influência, ou o reino da redenção. O uso de kosmos, como Tiago descreve, é “uma disposição e poder alastrado  na humanidade em direção ao mal, em oposição a Deus.”6 A Bíblia usa kosmos para caracterizar o que homens e mulheres pecadores têm feito com o seu mundo e mostrar sua antítese em relação ao mundo ideal de Deus e sua ordem moral (1Co. 11:32; Ef. 2:2; 1Jo. 2:15-17).

O mundo está no pecado e, portanto, precisa ser salvo (João 1:20;  3:17; 4:42; 12:47; 16:8). O mundo é o lugar de trevas, eticamente falando, no qual a luz (o Filho santo de Deus, Jesus Cristo) brilhou (João 3:19; 8:12; 9:5; 12:46). O mundo está espiritualmente morto e, assim, precisa de vida (João   6:33, 51); isso demonstra claramente que “mundo” não pode ser tomado num sentido natural, pois o mundo (entendido descritivamente como a ordem criada) está animado e vivo.7

A Escritura ensina claramente que os cristãos devem estar no mundo (geograficamente), mas não ser do mundo (moralmente) (João 15:19; 17:14-15, 16, 18; 1 João 2:15). Se o mundo como um lugar deve ser rejeitado, então Deus violou sua própria proibição ao enviar seu Filho ao mundo, quando tomou a carne humana e deixou seu novo corpo formado de crentes aqui para realizarem sua missão em seu nome. Deus não nos chama a escapar do mundo como um lugar, mas a evitar a mundaneidade como um sistema de crença e fidelidade. Paulo escreveu aos coríntios: “não vos associeis com os impuros” (1Co. 5:9). Alguns tomam isso como significando uma completa separação do mundo. Mas isso não é o que Paulo tinha em mente, “pois, neste caso, teríeis de sair do mundo”. (1Co. 5:10). Os cristãos devem permanecer no mundo, enquanto aqueles assim chamados cristãos que praticam a imoralidade devem ser removidos da comunhão (1Co. 5:13).

Fonte: Myths, Lies & Half Truths,
Gary DeMar, p. 8-13.

6 B. C. Johanson, “The Definition of ‘Pure Religion’ in James 1:27 Reconsidered,” Expository Times 84 (1973), 118-19. Citado em Peter Davids, Commentary on James, New Internacional Greek Testament Commentary (Grand Rapids; MI: Eerdmans, 1982), 103.

7 Greg L. Bahnsen, “The Person, Work and Present Status of Satan,” The Journal of Christian Reconstruction, Symposium on Satanism, ed. Gary North 1:2 (Winter 1974), 23-24.

Via: Monergismo

Uma Análise de João 3:16

Uma Análise de João 3:16
John A. Kohler, III

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1


“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16).

João 3:16 ensina que Deus ama todo ser humano que já viveu e ainda viverá na face da Terra? Essa é a visão que é sustentada e anunciada pela maioria sobrepujante de cristãos professos hoje. Para que essa interpretação seja correta, contudo, ela não pode contradizer nenhum outro versículo na Bíblia e deve ser consistente com o ensino geral da Palavra de Deus. O princípio hermenêutico conhecido como analogia Scriptura declara que a Escritura nunca contradiz a Escritura, mas é sempre consistente em seu ensino. A  concepção popular e contemporânea sobre João 3:16 se encaixa com a analogia da Escritura? Para chegar a uma resposta acurada, poderia ser útil responder às seguintes perguntas baseadas na Bíblia:

·         Deus amava Caim, Ninrode e cada ser humano que ele destruiu no dilúvio noético? (Gn. 6-8)
·         Deus amava cada ser humano que ele destruiu quando fez chover fogo e enxofre sobre Sodoma e Gomorra? (Gn. 19:24-25) Ele amava a esposa de Ló? (Gn. 19:26)
·         Deus amava o Faraó do Egito? (Rm. 9:15-18) Ele amava todos os primogênitos no Egito, aos quais feriu? (Ex. 12:29-30) Ele amava o exército de Faraó, que ele afundou no Mar Vermelho? (Ex. 14:23-31)
·         Deus amava os amalequitas? (Ex. 17:13-14; Dt. 25:17-19)
·         Deus amava o povo cananeu, a quem ordenou que fosse exterminado por Israel? (Dt. 7:1-2; 20:10-18)
·         Deus amava os amonitas e moabitas? (Dt. 23:2-3)
·         Deus amava aqueles indivíduos que faziam injustiça nos tempos do Antigo Testamento? (Dt. 25:13-16)
·         Deus ama os que praticam a iniqüidade? (Sl. 5:5)
·         Deus ama os ímpios? (Sl. 7:11)
·         Deus ama aqueles que fazem o mal? (Sl. 34:16)
·      Deus amava Esaú? (Ml. 1:1-3; Rm. 9:10-13)
·         Deus não ama somente aqueles indivíduos que chegam a amá-lo? (Pv. 8:17)2


1 E-mail para contato: felipe@monergismo.com. Traduzido em abril/2007.
2 Nota do tradutor: Deus ama somente aqueles que o amam, mas esse não é o fundamento do amor de Deus. Antes, aqueles que amam a Deus só o amam porque Deus os amou primeiro (João 15:16 e  outros).




·         Deus não ama somente aqueles indivíduos que chegam a amar Cristo e guardar  seus mandamentos? (Jo. 14:21,23)
·         Deus não ama somente aqueles indivíduos que chegam a crer em Cristo? (Jo. 3:36)
·         Deus não ama somente aqueles indivíduos que estão em Cristo Jesus? (Rm. 8:39)
·         Deus não ama somente os seus filhos, aqueles indivíduos a quem ele corrige e açoita? (Hb. 12:6)









Via: Monergismo

João 3:16, Desejos do Homem e Novo Nascimento

João 3:16, Desejos do Homem e Novo Nascimento
por
John Hendryx


Tendo Deus ressuscitado o seu Servo, enviou-o primeiramente a vocês, para abençoá-los, convertendo cada um de vocês das suas maldades” (Atos 3:26).
Uma pessoa só pode receber o que lhe é dado dos céus” (João 3:27) .
Freqüentemente me pego debatendo com cristãos que acreditam que homem e Deus têm papéis iguais na regeneração (sinergistas) e que nossa escolha é o sine qua non do novo nascimento. Eles argumentam que Deus dá a todos a graça preveniente, mas o homem pode exercer seu livre-arbítrio autônomo para fazer a graça eficaz. Estes cristãos ensinam que o homem escolhe a Cristo apesar de seus desejos e isso é o que faz sua vontade livre. Escolher algo diferente de seus desejos constitue verdadeira liberdade para eles, já que a liberdade está acima e é independente de todas as outras influências. Mas é isto o que a Bíblia ensina? 
O primeiro alvo deste texto é provar pelas Escrituras que nós sempre escolhemos o que nós queremos (desejamos) mais e que isso é baseado em nossa natureza. Nós escolhemos alguma coisa porque nós a desejamos. Em outras palavras, nós acreditamos em Jesus porque nosso desejo por Cristo se torna maior que nosso desejo pelo pecado. O segundo alvo é explorar de onde esse desejo vem. Ele vem de nossa natureza degenerada (como os sinergistas crêem) ou ele é um dom incondicional de Deus? Meus amigos sinergistas dizem que, utilizando a graça de Deus, apesar de nossos desejos, nossa vontade autônoma definitivamente determinará nosso destino final. Eu argumentarei porque essa posição é fatal para seu sistema teológico inteiro. 

Nós Escolhemos O Que Nós Desejamos Mais
 
Vamos começar com alguns textos bíblicos que ensinam que nossa natureza determina nossos desejos e nossos desejos determinam nossas escolhas. Cristo diz:
O homem bom tira coisas boas do bom tesouro que está em seu coração, e o homem mau tira coisas más do mal que está em seu coração, porque a sua boca fala do que está cheio o coração” (Lucas 6:45).
O que Jesus diz aqui é claro – a água não corre contra a correnteza. Nossa decisão de dizer algo bom ou ruim é somente determinada pela condição de nosso coração. Há uma grande evidência para o mesmo conceito em Mateus 7:18. 
A árvore boa não pode dar frutos ruins, nem a árvore ruim pode dar frutos bons”.
Aqui, Jesus está ensinando que é a natureza da árvore que determina o que virá dela. Somente aquele que tem uma boa natureza é capaz de criar um pensamento correto, gerar uma afeição correta, ou originar uma volição correta. Jesus martela novamente o mesmo conceito nos judeus incrédulos, quando discute se eles são ou não descendentes de Abraão: 
Por que a minha linguagem não é clara para vocês? Porque são incapazes de ouvir o que eu digo. Vocês pertencem ao pai de vocês, o Diabo, e querem realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e pai da mentira (...) Aquele que pertence a Deus ouve o que Deus diz. Vocês não o ouvem porque não pertencem a Deus”. (João 8:43,44,47)
Na passagem acima, os judeus não puderam ouvir a palavra de Deus porque eles pertenciam ao diabo (suas naturezas) e isso aumentou suas vontades de fazer o que desejavam. Suas naturezas os tornaram moralmente impotentes para ouvir as palavras de Jesus. Mais tarde, Jesus ensina que antes de alguém ouvir as palavras de Deus, ele deve ser de Deus. Em outras palavras, uma pessoa não entenderá o evangelho enquanto permanecer em seu estado não-regenerado e decaído.
Deus Exige Perfeição

 
Na história do jovem rico, Jesus o ensina que se ele obedecer todos os mandamentos, ele terá a vida eterna. Todos nós sabemos que esta história foi contada para expôr nossa inabilidade de cumprir tudo isso. Mas o jovem (equivocadamente) confiava que ele guardou tudo desde sua juventude. Jesus, conhecendo seu coração e onde ele vacilaria, ordena que o rapaz venda todas suas posses, dê aos pobres e o siga. Em outras palavras, Jesus lhe disse que o arrependimento de sua ganância e a fé em Cristo eram onde ele ainda falhava. Mas ele se afastou entristecido. Jesus então diz a seus discípulos que é mais difícil que um homem rico entre no Paraíso que um camelo passar por um buraco de agulha. “Quem então poderá ser salvo?”, os discípulos perguntam, sabendo que Jesus está dizendo que o caminho para o céu está fechado a todos os homens – um padrão santo que ninguém poderia alcançar. A resposta que Jesus dá é “Para o homem é impossível [arrependimento e fé], mas para Deus todas as coisas são possíveis”. A natureza do jovem não poderia se colocar acima de seus desejos e Jesus diz que isso é impossível para todos os homens. Apenas Deus tem a capacidade de fazer isto. A Bíblia é recheada com exemplos assim. É realmente um mito que o homem em seu estado natural está genuinamente buscando a Deus. Homens podem procurar um deus, mas eles não procuram o verdadeiro Deus, revelado nas Escrituras. Exceto pelo novo nascimento, ninguém vem à luz do verdadeiro Deus, mas suprimi a verdade pela injustiça. 
A Bíblia, por esta razão, ensina além de qualquer dúvida que nós agimos ou escolhemos de acordo com nosso maior desejo, que é baseado é nossa natureza. Jesus, como notamos acima, ensina que é impossível ser de outra forma. Mais ainda, como uma conseqüência da morte física de Adão e seus descendentes (Gn 2:17) existem muitos outros problemas com a natureza do homem em seu estado decaído, incluindo sua incapacidade de entender Deus (Salmos 50:21; Jó 11:7,8; Rm 3:11); ver coisas espirituais (Jo 3:3); conhecer seu próprio coração (Jr 17:9); direcionar os próprios passos no caminho da vida (Jr 10:23; Pv 14:12); libertar a si mesmo da maldição da Lei (Gl 3:10); receber o Espírito Santo (Jo 14:17); nascer por si só na família de Deus (Jo 1:13; Rm 9:15,16); produzir arrependimento e fé em Jesus Cristo (Ef 2:8,9; Jo 6:64.65; 2 Ts 3:2; Fp 1:29; 2 Tm 2:25); ir a Cristo (Jo 10:26; Jo 6:44); e agradar a Deus (Rm 8:5,8,9). Estas conseqüências da desobediência de Adão em seus descendentes são o que os teólogos freqüentemente se referem como a total depravação do homem. Sem uma mudança de disposição, o amor de Deus e Sua lei não é a mais profunda motivação e princípio do homem natural. 
O Que Tudo Isso Tem a Ver com João 3:16?

Sinergistas freqüentemente me dizem: “Predestinacionistas acreditam em um Deus que requer mais do que Ele capacita ou permite os homens alcançarem. Este é o tipo de Deus em quem eles acreditam”. Nisto eles estão parcialmente corretos, mas a falha está no homem, não em Deus... porque a natureza de Deus nunca mudou, mas a nossa muda. A Lei de Deus é perfeita porque Ele é perfeito. Ele não pode diminuir Seus padrões por nós ou Ele não mais seria Deus. Por esta razão, Deus teve um propósito específico em exigir perfeição moral em nós e isso inclui o mandamento de crer em Cristo. Declarações bíblicas como “se tu o buscares” e “todo aquele que nele crer” como em João 3:16 estão num modo hipotético. Um gramático explicaria que há uma declaração condicional, que não expressa nada de forma indicativa. Nesta passagem o que nós “deveríamos” fazer não implica necessariamente que nós “podemos” fazer. Os dez mandamentos, da mesma forma, falam do que nós deveríamos fazer mas eles não implicam que nós temos a habilidade moral de cumprí-los. Os mandamentos de Deus nunca serviram para nos fortalecer, mas para arrancar nossa confiança em nossas próprias capacidades de tal forma que seria o fim de nós mesmos. Com uma clareza pungente, Paulo ensina que este é o intento da legislação divina (Rm 3:20, 5:20; Gl 3:19,24). Se alguém está tentado a argumentar que essa crença é meramente um convite, e não um mandamento, leia 1 João 3:23: “E este é o seu mandamento: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo...”. Então, eu creio que aqueles que sustentam a idéia de que Deus ordena aos homens decaídos e não-regenerados a fazerem algo que já são capazes de fazê-lo estão impondo uma teoria antibíblica no texto. Um mandamento ou convite com uma afirmação abertamente hipotética , como João 3:16 faz não implica na capacidade de cumprí-lo. Isto é especialmente verdadeiro à luz de textos como Jo 1:13, Rm 9:16, Jo 6:37, 44, 63-65, Mt 5:16-16, 1 Co 2:14 e muitos outros que mostram a incapacidade moral do homem no estado decaído em crer no Evangelho. Em nosa natureza não-regenerada nós não podemos fazer nada a não ser amar as trevas e nunca nos aproximarmos da luz.
Na Cruz Deus Nos Dá o que Ele Exige de Nós
Como isso pode ser boa-nova se os homens nunca se encontrarão naturalmente desejando se submeter em fé aos humilhantes termos do Evangelho de Cristo? (Rm 3:11; Jo 6:64,65; 2 Ts 3:2). Porque Deus nos deu graciosamente o que Ele exige de nós. No evangelho, Deus nos revela a mesma justiça e fé que Ele exige de nós. O que nós deveríamos ter, mas não poderíamos criar ou alcançar ou cumprir, Deus nos garante livremente, como é chamada, a justiça de Deus (2 Co 5:21) e a fé de Cristo. Ele revela, como um dom em Cristo Jesus, a fé e a justiça que antes era somente uma exigência. Fé não é algo com que o pecador contribui para pagar o preço de Sua salvação. Jesus já pagou todo o preço por nós. Fé é nosso primeiro fôlego na respiração de nosso novo nascimento, antes de falar. É uma testemunha da obra da graça de Deus que tomou seu lugar dentro de nós (Ef 2:5,8; 2 Tm 2:25).
Romanos 3:11,12 diz “não há ninguém que busque a Deus, ninguém” e 1 Co 2:14 diz que o homem natural não consegue entender as coisas do Espírito, que são loucura para ele e não é possível que sejam aceitas porque devem ser discernidas espiritualmente. Mesmo Pedro teve de ser revelado pelo Pai que Jesus era o Cristo. Os arminianos e nós concordamos que “todo aquele que crer” tem a vida eterna, mas a questão vai além disso – o que leva alguém a crer?
C.H. Spurgeon, em seu sermão Incapacidade Humana expõe isso com grande clareza:
"Oh", diz o Arminiano, "os homens podem serem salvos se quiserem." Nós replicamos: "Meu querido senhor, todos nós cremos nisto; mas é precisamente no se eles quiserem onde está a dificuldade. Afirmamos que ninguém quer vir a Cristo, a menos que ele seja trazido; pelo contrário, nós não afirmamos isto, mas o próprio Cristo o declara: "Mas não quereis vir a mim para terdes vida"; e enquanto este "não quereis" permanecer registrado na Santa Escritura, não seremos inclinados a crer em qualquer doutrina da liberdade da vontade humana. É estranho como as pessoas, quando falam sobre o livre-arbítrio, discutem de coisas que eles não tem nenhum entendimento. "Ora", diz alguém, "eu creio que os homens podem ser salvos se eles quiserem." Meu querido senhor, de modo algum é esta a questão. A questão é: os homens alguma vez são encontrados naturalmente dispostos a submeterem-se aos termos humilhantes do evangelho de Cristo? Declaramos, sob a autoridade das Escrituras, que o homem está tão desesperadamente em ruína, tão depravado, e tão inclinado a tudo o que é mal, e tão oposto a tudo o que é bom, que sem a poderosa, sobrenatural e irresistível influência do Espírito Santo, nenhum ser humano quererá jamais ser constrangido para Cristo. Você replica, que os homens algumas vezes estão desejosos, sem a ajuda do Espírito Santo. Eu respondo: Você encontrou alguma vez alguma pessoa que estivesse ?
Eu argumentaria que este é o porquê de Jesus enfatizar o novo nascimento durante toda a passagem de João 3. Nicodemos não podia entender a linguagem de Jesus: “O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito”. Assim como somos passivos em nosso nascimento físico, também no nascimento espiritual o somos. Nós não participamos ativamente de qualquer nascimento com nossos esforços. O Espírito é semelhante ao vento nesta passagem, que não se sabe se está indo ou vindo – assim é todo aquele nascido em espírito. O trabalho do Espírito é soberano e sobrenatural. Assim como um cego não enxergará se você lançar uma luz nos seus olhos, ordenando a ele tudo que você quiser. Não é de luz que ele precisa, mas de um novo par de olhos. É assim que o novo nascimento parece. Antes da regeneração, Satanás nos tornou cativos de sua vontade. Ele nos cegou para a verdade. Nós devemos ser libertos de nossos próprios desejos e o cativo somente é completamente livre pelo dedo de Deus através do trabalho final de Cristo.
Em João 3:19-20, no mesmo contexto de 3:16 (três versos depois), Jesus qualifica Seu “todo aquele que crê” com a seguinte afirmação: “Este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram as trevas, e não a luz, porque as suas obras eram más. Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, temendo que as suas obras sejam manifestas”. (Isto é para todos nós anterior à regeneração)
Mas todos nós sabemos que alguns virão para a luz. Leia o que João 3:20-21 diz sobre eles. “Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que seja manifesto que as suas obras são feitas em Deus”. Então, veja que existe aqueles que vêm para a luz; e suas obras são o trabalho de Deus. “Feitas em Deus” significa trabalhado em e por Deus. A não ser pelo gracioso trabalho divino de regeneração, todos os homens odeiam a luz de Deus e não irão até ela.
Ao invés de balançar nossas cabeças para o versículo que se encaixa em nosso sistema particular de teologia, nós devemos interpretar escritura com escritura, especialmente no contexto da passagem. Agora que nós vimos João 3 por completo, o verdadeiro significado do texto se torna claro. João 1:10-12 é também um dos favoritos dos sinergistas quando anunciam o evangelho:
Ele estava no mundo, e o embora mundo tenha sido feito por intermédio dele, o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus”.
Grande passagem, eu também adoro usar estes versos, mas nós não podemos parar aqui. Nós precisamos reconhecer que devemos adicionar a qualidade do verso 13:
os quais não nasceram por descendência natural, nem pela vontade da carne nem pela vontade de algum homem, mas nasceram de Deus” (João 1:13).
Eu acho estranho muitos deixarem esse versículo de fora de sua evangelização: todos os versículos caminham juntos. Isso repete um tema constante nas Escrituras: que nós somos ordenados a nos arrepender e crer no evangelho, mas adicionalmente, que nós somos moralmente incapazes de fazer tanto sem o eficaz trabalho do Espírito Santo. A oferta de “todo aquele que nele crer” é para todos os homens e verdadeiramente oferecida a todos os homens, mas nenhum homem natural deseja a Deus. TODOS rejeitam este dom, mas o que nós não podemos fazer por nós mesmos, Deus faz por nós. Aqueles que vêm a Deus dão glórias a Ele porque Ele tem preparado seu coração, dando-lhes um desejo por Cristo que é maior que o desejo de permanecer no pecado. Isto é o que Ele fez por Lídia através da pregação de Paulo, no livro de Atos: “O Senhor abriu seu coração para atender à mensagem de Paulo”. O que aconteceu a Lídia é o que acontece a todo aquele que vem para a fé em Cristo. Se o Senhor abrir nosso coração, nós desejaremos crer, e nenhuma resistência existe, porque nós não desejaremos resistir. Nossas novas naturezas vivificadas pelo Espírito Santo têm novos desejos e disposições, que não poderíamos produzir por nós mesmos. Se o Senhor abriu o coração de Lídia para ela atender à mensagem e ela resistisse, isto seria uma afirmação contraditória. Note que Deus abriu seu coração para “atender à mensagem”. Se Deus desarmou a hostilidade de Lídia de forma que ela creria, então não deveria haver mais debates de como Ele faz com todos aqueles que têm fé. Apesar do fato de nós termos uma crença real em nós mesmos, pelo esquema sinergista, no entanto, o homem volta sua afeição e fé para Deus enquanto ainda está em sua caída e degenerada condição de coração petrificado. Mas o homem deve primeiro ter uma nova natureza para crer – ou seja, a Escritura ensina que o homem sem o Espírito não deseja, entende, tampouco é capaz de obedecer ou se voltar a Deus (1 Co 2:14, Rm 8:7, Rm 3:11). Se nós iremos acreditar, Deus deve primeiramente transformar nosso coração de pedra em um coração de carne:
Darei a vocês um coração novo e porei um espírito novo em vocês; tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um coração de carne. Porei o meu Espírito em vocês e os levarei a agirem segundo os meus decretos e a obedecerem fielmente às minhas leis” (Ezequiel 36:26,27).
Os sinergistas acreditam que o grande desejo por fé, pelo qual nós creremos no Deus que justifica pecadores, pertence a nós por natureza e não por um dom da graça, que está, pela inspiração do Espírito Santo, aumentando nossa vontade e tirando ela da descrença para fé e da falta de Deus para Deus. Mas o Apóstolo Paulo diz: “Estou convencido de que aquele que começou boa obra em vocês, vai completá-la até o dia de Cristo Jesus” (Fl 1:6). E novamente, “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus” (Ef 2:8). Pior ainda, os sinergistas ensinam que Deus tem misericórdia de nós quando, a partir da graça regeneradora, nós acreditamos, queremos e desejamos, mas não confessam que é através do trabalho e inspiração do Espírito Santo em nós que teremos a fé, a vontade ou força para fazer todas estas coisas. Se eles fazem a ajuda da graça depender de nossa humildade ou obediência, mas não concordam que é um dom da própria graça que nós sejamos obedientes e humildes, eles contradizem a Bíblia, que diz “O que você tem que não tenha recebido?” (1 Co 4:7) e “Mas, pela graça de Deus, sou o que sou” (1 Co 15:10).
Então vamos perguntar a nossos amigos sinergistas porque um homem crê e outro não?
Pelo esquema arminiano, Deus dá ao homem graça suficiente para colocá-lo numa posição de decidir por si mesmo se irá ou não crer. Então um homem será mais inteligente, mais sábio e mais humilde? Se este fosse o caso, Deus nos salvaria com base na personalidade gerada por nós mesmos e não pela graça. Pergunte a eles como seus olhos se voltaram a Deus. Um homem usa a graça dada a ele e outro não. O que no homem determina sua escolha e por quê? Isso nos deixa com salvação pelo mérito, desde que um homem que tem pensamentos e afeições por Deus O escolhe enquanto o outro não. Não já provamos que as Escrituras ensinam que fazemos nossas escolhas baseados no que mais desejamos? Onde o homem conseguiu sabedoria e inclinação a Deus, enquanto o outro permaneceu endurecido? Como um homem criou um pensamento reto, afeição reta, ou originou volição reta? Se não veio de seus desejos, então veio de onde? As escolhas são baseadas no que nós somos. Um homem natural nunca escolheria a Deus por si mesmo sem a graça regeneradora. Então Deus sobrenaturalmente enxerta a obra regeneradora do espírito ao despertar a fé de Seus eleitos.
Então, porque alguns homens rejeitam a Deus?  
Resposta muito simples: Porque eles são malignos. “Ele fará uso de todas as formas de engano da injustiça para os que estão perecendo, porquanto rejeitaram o amor à verdade que os poderia salvar” (2 Ts 2:10). Eles odeiam a Deus e não O querem, como toda pessoa sem o Espírito. Cristo diz “vocês não crêem, porque não são minhas ovelhas”. Jesus claramente mostra que a natureza da pessoa determina as escolhas que faz. Ele não diz “vocês não crêem, por isso não são minhas ovelhas” . Não, Ele diz “vocês não são minhas ovelhas, (POR ISSO) vocês não crêem”. A Bíblia afirma claramente porque alguns crêem e outros não. Nossa natureza determina nossas escolhas. Descrença é conseqüência da maldade, segundo as Escrituras. Crer é conseqüência da misericordiosa mudança na disposição do coração (em direção a Deus) através da rápida ação do Espírito Santo. O esquema sinergista deixa cada pesoa decidir por elas mesmas enquanto ainda estão em sua natureza decaída. O homem em seu estado não-regenerado decide baseado em um princípio dentro dele. Nossa vontade por si só não é autônoma, mas controlada por quem somos naturalmente. Nós nunca escolhemos o que nós não queremos ou odiamos. Em nosso estado não-regenerado nós ainda somos hostis para com Deus, amamos as trevas e somos cegos pelo diabo, tomados cativos para fazer a vontade dele, e não desejamos ou queremos coisas espirituais.
Se a graça preveniente dos arminianos somente faz o coração neutro, como eles admitem, então o homem não é motivado nem desmotivado para crer ou descrer – conseqüentemente a única opção é pelo acaso que alguém creia ou não. Eles irão argumentar ardentemente contra isso mas não encontrarão outra alternativa bíblica. Nossa escolha, qual seja, é baseada em nosso caráter interior, não pelo acaso. Um homem escolhe e o outro não, porque um foi renovado pelo gracioso trabalho de Deus. Apenas isso dá toda glória a Deus pela salvação.
O Espírito dá vida; a carne não produz nada que se aproveite. As palavras que eu lhes disse são espírito e vida. Contudo, há alguns de vocês que não crêem” (...) E prosseguiu: "É por isso que eu lhes disse que ninguém pode vir a mim, a não ser que isto lhe seja dado pelo Pai” (João 6:63-65).
Concluindo, minha oração é que a igreja do século XXI finalmente aprenda a doutrina “somente pela graça” corretamente. Oh! Que nós entendamos a pobreza da condição do homem perdido e a glória da misericórdia e graça divinas, e que não nos preocupemos em proclamá-las. Acredito que percorreremos um longo caminho parar criarmos uma postura de adoração que dê completa honra a Deus, em que Seu povo terá pensamentos corretos sobre Ele e alcançará um estágio de verdadeiro reavivamento. Esta tem sido uma longa batalha desenhada através da História da igreja (Agostinho/Pelágio, Lutero/Erasmo, Calvino/Armínio, Wesley/Whitefield) mas eu permaneço muito otimista quanto ao futuro crescimento do reino de Deus.


Tradução livre: Josaías Cardoso Ribeiro Jr.
Brasília-DF, 27 de Janeiro de 2004.
Via: Monergismo

sexta-feira, 1 de abril de 2016

ALVOS NA VIDA CRISTÃ QUE EDIFICAM A IGREJA

ALVOS NA VIDA CRISTÃ QUE EDIFICAM A IGREJA

“7Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. 8 Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo 9 e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé; 10 para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; 11 para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos. 12 Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. 13 Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, 14 prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. 15 Todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se, porventura, pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá. 16 Todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos.” (Filipenses 3.7-16)
O apóstolo Paulo escreveu a Carta aos Filipenses com dois propósitos em mente: a) Para agradecer à igreja de Filipos sua generosidade demonstrando alegria para com aqueles irmãos. Essa é uma carta de gratidão à igreja pelo seu envolvimento com o apóstolo em suas necessidades (4.15). b) Para alertar a igreja sobre os perigos que estava enfrentando. A igreja de Filipos enfrentava dois sérios problemas: um interno e outro externo (2.3,4, 14; 3.2). Após exortar a igreja quanto à unidade (1.27 – 2.18), Paulo orienta essa igreja contra os falsos mestres (cf cp 3). Estes pregavam a religiosidade acima de uma vida cristã (cf 3.1-6), mas o apóstolo diz que os crentes têm alvos sólidos e verdadeiros: “Prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”(v.14).
O sucesso de qualquer iniciativa na vida depende em grande parte dos alvos que estabelecemos. Os alvos servem para definir os propósitos, orientar as decisões e nos desafiar. 
Paulo nos desafia a estabelecer alvos que nos fazem crescer espiritualmente para a glória de Deus! Através de seu exemplo, o apóstolo nos mostra o primeiro alvo que é:
Conhecer mais do Senhor Jesus (v.7-8) 
O que significa conhecer a Cristo? – Na carta aos Filipenses e em outros textos da Bíblia a palavra “conhecer” não é meramente uma questão intelectual, mas sim experimental (mente e coração). Jesus diz que este conhecimento é vida eterna: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.”(Jo 17.3 também Gl 4.9). Não podemos descartar o conhecimento intelectual, mas a ênfase aqui é “mente e coração”.  É participar com Cristo de certa experiência. Podemos dizer que esse conhecimento é uma “intimidade” com Cristo. E isso não se consegue com uma mera religiosidade: “Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci…”(Mt 7.22-23).
Esse conhecimento é maior do que qualquer outra coisa (v.7) – O apóstoloPaulo era um homem zeloso pela religião que servia (v.4-6). No entanto, isso não era suficiente para ter uma vida de conhecimento de Jesus. Tudo o que viveu ele considerou como perda. Não que as coisas que viveu eram más em si mesmas. Fazer parte do povo da aliança e conhecer a lei não eram coisas ruins. Mas quando essas coisas passam a ser base para a vida cristã, como entrada no céu, aí está o problema. Paulo viu como perda porque em Cristo: “… superabundou a graça”(cf Rm 5.20). E nada é mais importante do que o conhecimento desse Jesus maravilhoso!
Conhecer mais de Cristo é abandonar o mundo (v.8) – Paulo considerava as coisas alcançadas como “refugo”. Esta palavra grega pode ser traduzida por “estrume”, “lixo”. Assim isso não tem valor algum para o conhecimento de Cristo. Ele sabia que não se pode “ganhar o mundo inteiro e perder sua alma”(cf Mt 16.26). Não podemos conhecer Jesus Cristo se nossa mente está voltada para as coisas do mundo que nos afastam de Deus. O amor do Pai não pode estar em nós se amarmos esse mundo (cf 1Jo 2.15-16).
Jesus disse: “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim”(Jo 10.14). É característica cristã conhecer o Senhor Jesus! Precisamos entender que há Alvos na vida cristã que edificam a igreja e o primeiro, destacado pelo apóstolo é Conhecer mais de Cristo (v.7-8)Mas esse conhecimento não é meramente intelectual e sim uma vida com Cristo, de intimidade com ele. E para alcançar devemos abrir mão da falsa religiosidade e do mundanismo que nos cerca! . O que implica conhecer Cristo? 1º Experimentar o poder de sua ressurreição (v.10a); 2º Participar dos seus sofrimentos (cf Fp 1.29)!
Ainda, através do exemplo de Paulo, podemos ver o segundo alvo que é:
Depender somente do Senhor Jesus (v.9-11)   
Abrir mão da justiça própria (v.9) – O ser humano tem a tendência de pensar que seu esforço em produzir uma vida “santa” produz justiça de Deus, mas não é isso que a Bíblia diz: “visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé.”(Rm 1.17). E esta fé deve estar na obra de Cristo que foi realizada na cruz para remição dos pecados! O homem tem por salário do pecado a morte (cf Rm 6.23). Somente Deus pode justificar o ímpio. Cristo morreu por ele (Rm 4. 5; 5.6). Paulo estava dizendo que ninguém alcança a justiça de Deus cumprindo a lei do AT. E essa justiça é pela fé. Essa justiça “procede de Deus” (Fp 3.9b). O homem é responsável por exercer a fé, porém a obra toda é do Senhor (cf Rm 3.23; Ef 2.8).
A justiça de Deus nos leva à perfeição espiritual (v.10-11) – O apóstolo diz “para conhecê-lo”. Aqui ele resume o pensamento do verso 8 e une suas palavras à idéia anterior de justiça que é de Deus baseada na fé. Uma pessoa que foi tirada das trevas e levada para a luz de Cristo, quer a cada dia mais do amor, da mansidão, ensino, enfim tudo de Cristo! A justiça de Deus em nós (justificação em Cristo) causa um ardente desejo em conhecer a Jesus. Somos totalmente ligados a Cristo. Somos dependentes de seu amor e graça.
Tudo depende da obra de Cristo – A nossa entrada na presença de Deus depende de Cristo: “Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus,aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura.”(Hb 10.19-22). Não podemos ser aceitos na presença de Deus sem Cristo, ele é nosso mediador (cf 1Tm 2.5). Só através dele podemos nos achegar ao Trono de Deus. Por isso nossa oração é em “Nome de Cristo”. Para produzirmos frutos na igreja precisamos de Cristo, assim o Senhor deixou claro aos discípulos: “… porque sem mim nada podeis fazer.”(Jo 15.5). Até mesmo a criação depende do Senhor Jesus: “Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora.”(Rm 8.20-22). Assim podemos dizer como o salmista disse do Senhor que de Cristo “… dependem a minha salvação e a minha glória; estão em Deus a minha forte rocha e o meu refúgio.”(Sl 62.7).
Irmãos somos dependentes de Cristo somente dele! A nossa justiça própria não agrada a Deus! Nossa religiosidade sem vida com Jesus Cristo é abominação para Deus. Se quisermos agradar a Deus precisamos entender que nossa vida é totalmente dependente do Senhor Jesus. Sem ele nada podemos fazer. Nele: “… vivemos, e nos movemos, e existimos…”(At 17.28). Precisamos de Cristo para salvação, para tomar decisões, para santificação, para termos orações respondidas. Assim precisamos “andar em Cristo” (cf Cl 2.6).
E finalmente, através do exemplo de Paulo, podemos ver o terceiro e último alvo que é:
Perseverar na fé no Senhor Jesus (v.12-16)
Perseverar é uma constante corrida (v.12-13) – O apóstolo Paulo faz referência nestes versos a imagem das competições desportivas (cf Fp 2.16; 1Co 9.24-7). A vida cristã é uma corrida para a perfeição. Ela, primeiramente, depende do ânimo do corredor! Paulo diz: “Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição…”(v.12a) – A vida cristã exige perseverança! Paulo era um grande defensor da teologia da predestinação (cf Ef 1.4), e tinha, como vemos em suas cartas, plena certeza da salvação. Porém ele nunca defendeu uma eleição sem responsabilidade humana, numa salvação sem esforço humano. Sabendo que era salvo ele tinha certeza que não tinha alcançado completamente e ressurreição espiritual. Por isso ele perseverava. Alguns ensinavam a igreja que tinham alcançado a perfeição com os ritos judaizantes, mas Paulo diz não (v.13).
Perseverar é empenhar (v.13b) – “... porém uma coisa faço…” -  Uma coisa ocupa a mente do apóstolo “correr a corrida”! E ele não fica com medo das adversidades e nem preso a algo que o impeça! Ele está decidido a manter-se firme na corrida Cristã! Ele almejava ganhar a Cristo e a perfeição nele. Aquele que empenha na corrida Cristã não olha para traz“… esquecendo-me das coisas que para trás ficam...”(v.13b). O bom corredor não olha para traz. Se olhar ele perde a velocidade e a direção. Como disse o Senhor “Lembrai-vos da mulher de Ló.” (cf Lc 17.32). O que Paulo deixou para traz? A vida de méritos que viveu, de justiça própria e independência de Deus. Avança para o alvo“… avançando para as que diante de mim estão”(v.13c). O verbo grego nos dá idéia de alguém exercitando todos os seus músculos para correr, correndo com todas as suas forças para o alvo com as mãos estendidas como se quisesse agarrá-lo.
Qual o alvo no qual devemos perseverar (v.14-16)? -  A perfeição que está em Cristo. Paulo desejava de todo o seu coração ser libertado do pecado. Assim ele empenhava sua vida buscando a essa perfeição. Ele queria o “prêmio” (galardão). Um corredor jamais esquece do prêmio: “Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis.”(1Co 9.24). No final das corridas, na Grécia antiga, o vencedor era convidado para chegar diante do juiz e receber o prêmio. Esse prêmio era uma coroa de louros: “Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível.”(1Co 9.25). Que prêmio Paulo esperava receber? A perfeição em Cristo! Ele diz: “... Todos, pois, que somos perfeitos...”(v.15) – A palavra grega usada para “perfeitos” pode ser traduzida por “maduros”, é uma referência para crentes que alcançaram maturidade em Cristo (cf 1Co 2.6). Mesmo assim, precisamos perseverar na fé!
O nosso alvo é: Perseverar na fé em Cristo (v.12-16) – Quantos desistiram da corrida e estão pelo caminho? Nossa corrida só termina quando morrermos ou quando Cristo voltar. E perseverar é empenhar nossa vida! Nosso alvo não são as riquezas deste mundo ou os prazeres oferecidos, mas Cristo Jesus o nosso Senhor! Como devemos andar? “Todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos.”(v.16) – Andemos baseados naquilo que Deus tem nos ensinado, em linha reta. E usemos as ferramentas necessárias para viver uma vida santa diante do Senhor.  
Alvos na vida cristã que edificam a igreja - Através do exemplo de Paulo, podemos ver que nosso alvo é Conhecer mais do Senhor Jesus (v.7-8) e para esse conhecimento, devemos abandonar o mundo. Nosso alvo também, conforme o apóstolo é: Depender somente do Senhor Jesus (v.9-11) – Devemos abrir mão de nossa justiça e depender da obra de Cristo na cruz. E por fim Paulo nos mostra que temos um outro alvo: Perseverar na fé no Senhor Jesus (v.12-16) – Muitos desistem na metade do caminho e não alcançam o alvo. Devemos nos empenhar para termos uma vida que agrade a Deus. E jamais desistir! Que Deus nos ajude nesta corrida e nos dê forças! 

Por  Rev. Ronaldo P Mendes
Via Solus Christus