DOM DE LÍNGUAS E DESVIOS RELIGIOSOS

(Por Marcos Granconato)
A ideia tão comum entre os pentecostais de que o falar em linguas é uma prática que foi resgatada por eles no início do século XX, inaugurando uma nova fase de vigor espiritual para a igreja, desconsidera a realidade histórica de que a glossolalia sempre esteve presente em formas deturpadas de cristianismo desde os seus primórdios.
Ao tempo da igreja antiga, o herege Montano (157-212) e seus seguidores alegavam falar em línguas. O corrompido catolicismo medieval também fornece diversos exemplos de personagens tidos como “santos” que afirmavam praticar a glossolalia. Alguns deles são: Hildegard von Bigen (1098 – 1179), São Domingos (1170 – 1221), Santo Antônio de Pádua (1195 – 1231), São Vicente Ferrer (1350 – 1419), São Francisco Xavier (1506 – 1552), São Louis Bertrand (1526 – 1581), São João D’Ávila (1500 – 1569), Santa Teresa D’Ávila (1515 – 1582), São João da Cruz (1542 – 1591) e Santo Inácio Loyola (1491 – 1556).
O fato desses nomes estarem ligados ao romanismo tão tosco como foi o vivenciado na Idade Média, deveria ser levado em conta quando se diz que o falar em línguas marca uma época de maior vitalidade espiritual na igreja.
A glossolalia, porém, não está associada apenas ao cristianismo em sua vertente pentecostal. Registros históricos informam que, no Egito, ao tempo de Ramsés XI (1100 – 1070 a.C), um jovem adorador de Amon, após ter oferecido sacrifícios ao seu deus, foi por ele possuído e começou a falar uma língua estranha. Séculos depois, Platão afirmou na sua obra, “Fédon”, que nos seus dias várias pessoas praticavam a fala extática sob possessão ou inspiração divina.No século 1 a.C., Virgílio disse na “Eneida” que as pitonisas sibilinas da Ilha de Delfos falavam línguas estranhas como resultado da sua união com o deus Apolo. Em transe, elas diziam coisas sem nexo, palavras confusas e enigmáticas, sem nenhum sentido. Fenômenos semelhantes ocorriam no culto egípcio a Osíris, no mitraísmo dos persas e nos Mistérios Eleusianos.
Em tempos mais recentes, a glossolalia pode ser encontrada no catolicismo da Renovação Carismática, no espiritismo, onde o fenômeno é chamado de xenoglossia ou mediunidade poliglota (havendo também alegações de se falar línguas extraterrestres), nos rituais indígenas, no xangô, no candomblé e no xamanismo, onde as línguas faladas são reproduções de sons emitidos por animais.
Esses dados deveriam promover uma cautela maior por parte dos pentecostais e não uma postura tão aberta às línguas como se verifica nesse meio. Também deveriam servir como incentivo para a revisão de seu conceito de línguas como evidência de alta condição espiritual.
Para mais detalhes, veja-se Silvana Matias Freire. GLOSSOLALIAS: FICÇÃO, SEMBLANTE, UTOPIA Tese de doutorado apresentada ao Curso de Lingüística do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Instituto de Estudos da Linguagem, 2007. p. 15-16.
Veja tb. Selma Baptista. Glossolalia. O SENTIDO DA DESORDEM: a simbologia do som na constituição do discurso pentecostal. Dissertaçao de mestrado apresentada ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas — área de Antroplogia Social — UNICAMP, Campinas, 1989.
QUANDO O DOM DE LÍNGUAS ACABOU?
O dom de línguas era a capacidade dada pelo Espírito Santo a alguns crentes de falar sobre as grandezas de Deus em um idioma humano jamais aprendido por quem falava (At 2.7-11).
Algo muito importante a ser levado em conta para entender porque esse dom acabou é que, ao definir o dom de línguas, Paulo citou Isaías 28.11-12, um texto em que as línguas figuram como sinal de juízo contra Israel. Com base nesse texto, Paulo afirmou que as línguas são um “sinal”, ou seja, um sinal de juízo contra judeus incrédulos que rejeitavam a mensagem de Deus (1Co 14.21-22).
De fato, Deuteronômio 28.46,49 diz que ouvir uma língua desconhecida seria um sinal do juízo de Deus contra Israel sempre que esse povo rejeitasse sua mensagem (Jr 5.11-15). Ora, Israel rejeitou o Filho (At 7.51-53). Por isso, Deus usou a igreja para fazer com que os judeus daquela geração ouvissem línguas que não entendiam como sinal do juízo que estava por vir.
Esse juízo foi predito por Jesus (Mt 23.37-39) e chegou no ano 70 AD por mãos do general romano Tito. Tanto era verdade que línguas sinalizavam o juízo contra os que haviam rejeitado o Filho que, por razões não muito claras, os crentes de Jerusalém deixaram a cidade pouco tempo antes dos romanos chegarem e fugiram para uma cidade chamada Pelah, de modo que nenhum crente morreu durante o cerco e invasão de Tito. As línguas sinalizavam juízo contra os incrédulos e, de fato, somente os incrédulos foram alcançados por aquele juízo!
Uma vez que o castigo contra Israel sinalizado pelas línguas ocorreu, esse dom deixou de ser necessário e desapareceu. Obviamente, o fim do dom de línguas trouxe também o fim do dom de interpretação.
Algo muito importante a ser levado em conta para entender porque esse dom acabou é que, ao definir o dom de línguas, Paulo citou Isaías 28.11-12, um texto em que as línguas figuram como sinal de juízo contra Israel. Com base nesse texto, Paulo afirmou que as línguas são um “sinal”, ou seja, um sinal de juízo contra judeus incrédulos que rejeitavam a mensagem de Deus (1Co 14.21-22).
De fato, Deuteronômio 28.46,49 diz que ouvir uma língua desconhecida seria um sinal do juízo de Deus contra Israel sempre que esse povo rejeitasse sua mensagem (Jr 5.11-15). Ora, Israel rejeitou o Filho (At 7.51-53). Por isso, Deus usou a igreja para fazer com que os judeus daquela geração ouvissem línguas que não entendiam como sinal do juízo que estava por vir.
Esse juízo foi predito por Jesus (Mt 23.37-39) e chegou no ano 70 AD por mãos do general romano Tito. Tanto era verdade que línguas sinalizavam o juízo contra os que haviam rejeitado o Filho que, por razões não muito claras, os crentes de Jerusalém deixaram a cidade pouco tempo antes dos romanos chegarem e fugiram para uma cidade chamada Pelah, de modo que nenhum crente morreu durante o cerco e invasão de Tito. As línguas sinalizavam juízo contra os incrédulos e, de fato, somente os incrédulos foram alcançados por aquele juízo!
Uma vez que o castigo contra Israel sinalizado pelas línguas ocorreu, esse dom deixou de ser necessário e desapareceu. Obviamente, o fim do dom de línguas trouxe também o fim do dom de interpretação.
O DOM DE LÍNGUAS FALADO NO BRASIL SÓ TEM NOVE CONSOANTES
A análise linguística da glossolalia pentecostal mostra a construção de uma língua a partir de um conjunto limitado de sons.
No contexto brasileiro esse conjunto fica estrito aos sons utilizados para falar a língua portuguesa. O falante, porém, não usa todos os sons do português durante a prática glossolálica, mas um número muito menor. De fato, a média de segmentos utilizados é de nove sons consonantais e apenas seis variações vogais. No caso de pessoas de baixa instrução, cujo vocabulário é pequeno, as variações glossolálicas são ainda menores.
A predominância e repetição de alguns dos sons que compõem os pequenos conjuntos sonoros usados pelos que falam em “línguas” depende claramente da preferência do falante. Para nosso alívio, sequências ou sílabas que tenham conotação grosseira ou chula são claramente evitadas.
Observe-se ainda que dentro de cada comunidade pentecostal especifica, as línguas faladas pelos membros são sempre parecidas, com uma recorrência de sons comum a todos. Há sempre, na verdade, uma grande repetição de combinações vocálicas e consonantais, indicando uma padronização.
Isso mostra que as pessoas que falam “línguas estranhas” seguem inconscientemente um padrão geral fornecido pela sua comunidade e aprendido por meio da convivência.
Mesmo repetindo basicamente os mesmos sons vez após vez — sons semelhantes aos produzidos por quase todos os demais membros da mesma igreja — os pentecostais acreditam que, a cada nova experiência com línguas, dizem coisas novas e diferentes das faladas pelos demais.
DOM DE LÍNGUAS: HAVIA ANJOS EM BABEL?
As línguas de anjos mencionadas em 1Coríntios 13.1 não servem de base para afirmar que o dom de línguas envolve linguagem estranha e ininteligível.
Na verdade, a expressão usada por Paulo representa apenas um recurso retórico muito comum que tem como objetivo levar uma hipótese ao nível do absurdo (uma forma de hipérbole) a fim de reforçar um determinado ensino ou argumento.
Ademais, anjo algum jamais aparece na Bíblia falando uma língua ininteligível. Na verdade, mesmo a noção de que os anjos têm seus próprios idiomas distintos é inaceitável, pois significaria que sobre eles sobreveio um juízo semelhante ao que houve em Babel (Gn 11.1-9).
Finalmente, considere-se que, se os anjos falassem uma língua específica deles, dificilmente seria do tipo que é ouvido nas comunidades pentecostais, posto que os sons emitidos nessas igrejas, conforme facilmente se percebe, correspondem a quinze ou, no máximo, vinte palavras pronunciadas repetidamente sem estrutura frasal e sem significado.
DOIS TIPOS DE DOM DE LÍNGUAS. A BÍBLIA ENSINA ISSO?
O ensino tão comum no movimento pentecostal de que as línguas mencionadas em Atos 2 eram humanas, mas as mencionadas em 1Coríntios eram de outra natureza serve apenas como desculpa para que a glossolalia sem sentido continue a ser usada em suas igrejas.
O fato, porém, é que as línguas faladas em Corinto, assim como as de Atos, eram ambas de natureza terrena. Basta ler 1Coríntios 14.21-22. Nessa passagem, Paulo faz referência aos idiomas das nações gentílicas para explicar o propósito do dom de línguas, o que revela que, aos escrever aos coríntios, ele tinha em mente um fenômeno da mesma natureza daquele narrado por Lucas em Atos dos Apóstolos.
Outrossim, o argumento que afirma que as línguas de Atos eram diferentes das de 1Coríntios porque quem usava estas últimas falava “mistérios” (1Co 14.2) não é válido, pois a palavra “mistério” empregada no tex- to significa apenas que as línguas então faladas permaneciam enigmáticas, não sendo entendidas pelas pessoas em geral. O próprio v. 2 indica esse sentido ao enunciar a frase “porque ninguém o entende”.
DOM DE LÍNGUAS: O QUE SIGNIFICA A FRASE “QUEM FALA EM OUTRA LÍNGUA NÃO FALA A HOMENS”?
Muitos pentecostais acreditam, com base em 1Coríntios 14.2, que o dom de línguas deve ser usado particularmente, numa espécie de devocional isolada, em que o crente fica falando com Deus apenas, longe das demais pessoas.
Esse entendimento, porém, está errado. Como todo dom concedido pelo Espírito Santo, as línguas, quando ainda existiam, deviam edificar a igreja. É verdade que as pessoas que tinham esse dom eram edificadas quando o exerciam, mas isso é um efeito próprio de qualquer dom.
O fato é que, em seus objetivos centrais, as línguas deviam servir como um sinal de juízo para os judeus incrédulos daquela geração e também, por meio da interpretação, como um veículo de edificação pública. Assim, a ideia do uso das línguas como um recurso devocional particular deve ser rejeitada.
O que dizer, então, de 1Coríntios 14.2? Esse texto diz: “Quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus…”. A resposta é simples! Um dos grandes e claros objetivos de Paulo nesse capítulo é mostrar o quanto as línguas eram inúteis quando não havia interpretação. Nesse sentido, ele até faz um contraste entre esse dom e o dom de profecia (veja o v. 1). O versiculo citado é, portanto, apenas parte de seus argumentos nesse sentido.
Na verdade, o apóstolo está como que a dizer: “Dêem preferência ao dom de profecia, pois quem fala em outra língua sem que haja interpretação não comunica nada aos homens, senão a Deus, de forma que isso não produz edificação alguma para a igreja”.
É somente isso que Paulo quer dizer. Ele não está defendendo as línguas como um recurso devocional particular, mas sim condenando o seu uso sem intérprete como algo que não diz nada aos homens, mas somente a Deus. Ele próprio dá o sentido da frase “não fala aos homens” ao dizer em seguida “visto que ninguém o entende”. Logo, “não fala aos homens” significa “não comunica nada ais homens”.
Note-se que, na compreensão de um texto bíblico, é preciso sempre levar em conta a intenção autoral. Isso faz toda a diferença. Conforme dito, um dos grandes objetivos de Paulo ao escrever esse texto era mostrar quão inúteis eram as línguas faladas sem um intérprete. Quem as usava, diz ele, não falava absolutamente nada aos homens. Somente Deus entendia, permanecendo a igreja sem qualquer benefício.
DOM DE LÍNGUAS: PAULO O USAVA MUITO?
A afirmação de que Paulo usava o dom de línguas continuamente é outro erro pentecostal. Esse equivoco se baseia em 1Coríntios 14.18: “Dou graças a Deus porque falo em outras línguas mais do que todos vós”.
A base da má compreensão nesse caso está no significado atribuído à palavra “mais”. Os pentecostais entendem que essa palavra denota a ideia de intensidade ou frequência, como se Paulo falasse em línguas mais vezes do que todos os outros crentes. Porém, no v. 19, ele próprio dá indícios de que não fazia isso.
Na verdade, o entendimento correto dessa passagem indica que nela a palavra “mais” tem um sentido qualitativo e não quantitativo. Paulo não está dizendo que falava em mais línguas ou que falava em línguas com mais frequência, mas sim que tinha recebido esse dom num nível mais alto e aprimorado do que todos os demais, exercendo-o com maior eficácia.
O fato de ter recebido esse dom num nível tão elevado servia, inclusive, para realçar sua autoridade apostólica que era sempre questionada em Corinto.
DOM DE LÍNGUAS E EDIFICAÇÃO PESSOAL
No que diz respeito ao propósito do dom de línguas, somente uma passagem do Novo Testamento o aponta com clareza. Trata-se de 1Coríntios 14.22.
Nesse texto, Paulo afirma que o propósito das línguas era ser um sinal. Isso significa que o objetivo principal das línguas não era a edificação pessoal de quem as falava. Ainda que o crente que falava em línguas fosse edificado, Deus queria que esse dom fosse especialmente um dom de sinal, não somente de edificação particular.
Aliás, o crente é edificado quando exercita qualquer dom, mas esse não é o objetivo central de dom nenhum. Por exemplo, o crente é edificado quando usa o dom de ensino, mas esse não é o objetivo central desse dom. Seu objetivo principal é a edificação da igreja.
Isso mostra o erro de alguns que dizem que só falam em línguas sozinhos, para a sua própria edificação. Essa prática é contrária ao propósito supremo do dom. Ele devia ser, principalmente, um sinal e, por isso, tinha de ser público. Se o dom de línguas fosse praticado somente a sós, produziria efeitos limitados e não seria propriamente um sinal como Deus queria que fosse.
À luz do texto de Isaías citado por Paulo em 1Coríntios 14.22, fica evidente que as línguas deviam ser principalmente um sinal de juízo divino para os incrédulos judeus que rejeitaram o Messias. Era por isso que praticá-lo a sós seria o mesmo que praticar o dom de ensino olhando para o espelho .
Aliás, o crente é edificado quando exercita qualquer dom, mas esse não é o objetivo central de dom nenhum. Por exemplo, o crente é edificado quando usa o dom de ensino, mas esse não é o objetivo central desse dom. Seu objetivo principal é a edificação da igreja.
Isso mostra o erro de alguns que dizem que só falam em línguas sozinhos, para a sua própria edificação. Essa prática é contrária ao propósito supremo do dom. Ele devia ser, principalmente, um sinal e, por isso, tinha de ser público. Se o dom de línguas fosse praticado somente a sós, produziria efeitos limitados e não seria propriamente um sinal como Deus queria que fosse.
À luz do texto de Isaías citado por Paulo em 1Coríntios 14.22, fica evidente que as línguas deviam ser principalmente um sinal de juízo divino para os incrédulos judeus que rejeitaram o Messias. Era por isso que praticá-lo a sós seria o mesmo que praticar o dom de ensino olhando para o espelho .
NEGAR A ATUALIDADE DAS LÍNGUAS É COMETER O PECADO IMPERDOÁVEL?
No universo paralelo do pentecostalismo existe a fábula que diz que quem rejeita a contemporaneidade dos dons espetaculares comete o pecado contra o Espírito — aquele que Jesus afirmou não ter perdão.
Mais uma vez, por amor à saúde e maturidade da igreja do nosso país, é preciso fazer correções a quem entende a Bíblia a partir da intuição e não da hermenêutica.
Mesmo uma breve olhada no texto de Mateus mostrará facilmente que a blasfêmia contra o Espírito Santo, também conhecida como o pecado imperdoável, consistia de ser testemunha ocular de uma obra realizada por Cristo durante seu ministério neste mundo e atribuir essa obra ao diabo (Mt 12.22-32).
Obviamente, desde a ascensão do Senhor, quando ele deixou de estar fisicamente presente aqui, esse pecado se tornou impossível de ser cometido.
OS VERDADEIROS DEFENSORES DO DOM DE LÍNGUAS
A acusação de que as igrejas tradicionais são opositoras do dom de línguas precisa ser revista, pois quem de fato deprecia esse dom são exatamente os pentecostais.
Isso porque são eles que reduzem o dom de línguas ao mero pronunciar voluntário e grosseiro de sílabas desconexas, enquanto as igrejas tradicionais honram e enaltecem esse dom, afirmando que se constituiu num dos milagres mais extraordinários testemunhado nos dias dos apóstolos: a magnífica capacidade de alguém falar perfeitamente outro idioma sem jamais tê-lo aprendido!
Há algo mais, porém, que precisa ser revisto. Os pentecostais afirmam que os tradicionais blasfemam contra o Espirito Santo por não aceitar as manifestações que ocorrem em suas igrejas, espe- cialmente o que chamam de dom de línguas. No entanto, o que realmente ofende o Espírito Santo é atribuir a ele a emissão de sonidos toscos e banais.
Da mesma forma, o Santo Espírito é ofendido quando dizem que ele é a fonte de profecias inventadas, revelações falsas, curas imaginárias, ensinos heréticos, comportamentos bizarros e desordens chocantes.
Por Marcos Granconato
Via:https://sintesecristablog.wordpress.com
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