domingo, 29 de novembro de 2015

Calvinistas evangelizam?

Por Marcos Granconato
Há um mito que circula no meio evangélico que diz que os calvinistas não se preocupam em fazer evangelismo pessoal ou missões. Segundo os expoentes dessa lenda, isso ocorre porque os calvinistas creem na doutrina da predestinação e, uma vez que, segundo sua visão dessa doutrina, Deus já tem os seus eleitos a quem fatalmente irá salvar, não há nenhuma necessidade de evangelizar as pessoas, nem mesmo de orar para que alguém se converta.
Realmente, a soteriologia calvinista defende com unhas e dentes a santa doutrina da predestinação. E isso por uma razão muito simples: poucas doutrinas bíblicas são tão claras como essa. De fato, mesmo representando um atentado contra a orgulhosa lógica humana (Rm 9.19-21), a Bíblia é pródiga em suas afirmações referentes à soberania absoluta de Deus na salvação, que alcança graciosamente quem quer e endurece a quem lhe apraz (Jo 1.13Rm 8.29-309.18Ef 1.5). É somente por isso que os calvinistas não abrem mão desse ensino tão controvertido que os torna alvo de constantes acusações falsas.
A questão, então, permanece: essa aceitação da doutrina da predestinação não inibe o trabalho de evangelismo dos calvinistas? Surpreendentemente, a resposta é um enfático não. Aliás, é até o oposto o que acontece! Com efeito, tanto a Bíblia como a história do cristianismo mostram que a doutrina da predestinação tem se constituído num dos maiores incentivos à evangelização do mundo!
Considere-se, em primeiro lugar, o ensino bíblico. De que forma a Escritura destaca a eleição divina como um estímulo ao trabalho de pregação do evangelho? Basicamente, o texto sagrado faz isso de duas maneiras: afirmando que os eleitos de Deus estão espalhados pelas diversas comunidades ao redor do mundo; e ensinando que eles fatalmente atenderão à mensagem das Boas Novas em Cristo.
Jesus foi o primeiro a mostrar essas duas maravilhosas realidades. A certa altura do Evangelho de João, o evangelista conta que o Mestre fez uma intrigante afirmação: “Tenho outras ovelhas que não são deste aprisco [isto é, não são de Israel]. É necessário que eu as conduza também. Elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo 10.16). Em seguida, para mostrar que havia grande distinção entre esse grupo espalhado pelo mundo e as demais pessoas não escolhidas, ele dirigiu-se aos seus oponentes dizendo: “… vocês não creem, porque não são minhas ovelhas” (Jo 10.26). O Senhor ensinou, assim, que ele tem um povo espalhado pelo mundo, que as pessoas que compõem esse povo ainda estão por ser alcançadas, e que elas fatalmente atenderão ao convite da fé. Como um evangelista pode ser desencorajado diante disso?
Evangelho de João insiste nessas verdades também em seu Capítulo 11. Ali, o evangelista comenta algumas palavras pronunciadas pelo sumo sacerdote, dizendo: “Ele não disse isso de si mesmo, mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus morreria pela nação judaica, e não somente por aquela nação, mas também pelos filhos de Deus que estão espalhados, para reuni-los num povo” (Jo 11.51-52). É mais do que claro aqui que Deus tem “filhos” dispersos pelo mundo. Esses “filhos” ouvirão a mensagem da cruz e serão, afinal, reunidos num povo.
Ora, com essas concepções em mente, seria possível um evangelista desanimar? É claro que não! Na verdade, sabendo disso, o missionário trabalhará ainda mais confiante, ciente de que as ovelhas de Jesus, os “filhos de Deus que estão espalhados”, cedo ou tarde, seguirão o Bom Pastor; sim, amanhã ou depois, serão reunidos pelo Pai. Além disso, o obreiro que aceita essas verdades não se sentirá fracassado ou frustrado no ministério quando não crerem na sua pregação. Antes, entenderá que os que a rejeitaram fizeram-no por não serem ovelhas do Senhor e seguirá avante, certo de que as ovelhas com certeza ouvirão e o alvo do Pai de reunir seus filhos num só povo será finalmente alcançado. Poderia haver estímulo maior para o trabalho evangelístico?
Na história de missões, quem primeiro se sentiu estimulado por essas verdades foi o apóstolo Paulo. Isso aconteceu quando ele esteve pregando em Corinto, um foco tenebroso da multiforme religião pagã, centro cosmopolita marcado por excessos de imoralidade e por todo tipo de devassidão. Corinto, talvez fosse, ao mesmo tempo, o maior desafio e o mais terrível pesadelo de qualquer missionário cristão; uma boa desculpa para o abandono do trabalho evangelístico.
Paulo esteve ali em cerca de 50 a.D., por ocasião da sua Segunda Viagem Missionária (At 18.1-18). Logo de início, sua presença e mensagem despertaram a oposição da comunidade judaica local que trabalhou intensamente para dificultar ainda mais a obra missionária em Corinto (At 18.6,12-13). Paulo, porém, não desistiu. Onde o apóstolo encontrou estímulo para continuar sua obra num ambiente tão difícil? A resposta é surpreendente: ele foi incentivado pela doutrina da eleição! O texto bíblico diz que, certa noite, o Senhor apareceu a Paulo numa visão e disse: “Não tenha medo, continue falando e não fique calado, pois estou com você, e ninguém vai lhe fazer mal ou feri-lo, porque tenho muita gente nesta cidade” (At 18.9-10).
Durante os dias do seu ministério terreno, o Senhor havia dito que tinha outras ovelhas que viviam em vários apriscos fora de Israel. Agora, o mesmo Senhor se manifesta a Paulo revelando que muitas dessas ovelhas estavam em Corinto. O apóstolo não devia, portanto, recuar. A realidade de que as ovelhas já estavam ali, somente esperando ouvir a voz do Supremo Pastor, devia incentivá-lo. Elas atenderiam a pregação e seriam salvas. Paulo ouviu isso tudo e permaneceu firme. Foi assim que a santa doutrina da eleição fez o apóstolo perseverar por mais um ano e seis meses no trabalho missionário em Corinto (1Co 18.11).
Cerca de dez anos mais tarde, Lucas escreveu essa e outras histórias de Paulo na obra que recebeu o título de Atos do Apóstolos. Foi, talvez, por perceber que a doutrina da eleição servia como estímulo para a evangelização que Lucas fez questão de frisar, justamente numa obra de história de missões, que os que acolhiam a pregação de Paulo eram somente os que faziam parte do rebanho de Cristo espalhado pelo mundo. “… E creram todos os que haviam sido designados para a vida eterna” (At 13.48), escreveu ele. Vê-se, assim, que o primeiro historiador da igreja aprendeu, por meio de suas pesquisas, que a eleição não somente estimula o trabalho do pregador, mas também garante o seu sucesso.
Conclui-se, assim, que, à luz da Bíblia, a doutrina da predestinação não desencoraja a obra missionária, fazendo exatamente o oposto. Deve-se, agora, observar como, em 2 mil anos de cristianismo, essa doutrina serviu como fonte de ânimo para os sucessivos propagadores da santa fé.
Se o argumento que diz que a doutrina da eleição desestimula a pregação do evangelho não se sustenta à luz da Bíblia, tampouco esse mito pode se manter de pé diante da análise histórica. Com efeito, se o ensino bíblico acerca da predestinação gerasse desmazelo no evangelismo, seus expoentes nada teriam feito em prol da expansão da fé e ficariam fechados dentro de suas igrejas, aguardando sua fatal extinção. No entanto, não é isso que se vê na história. Antes, um zelo ardente por missões moveu os expoentes da doutrina da eleição, conduzindo-os como pioneiros e mártires aos rincões mais distantes do mundo, sempre à procura das ovelhas dispersas que fatalmente ouviriam a voz do Pastor Divino.
O primeiro exemplo vem do próprio Calvino. Em suas Institutas da Religião Cristã, o grande reformador citou Agostinho de Hipona, dizendo:
“Porque não sabemos quem pertença ao número dos predestinados, ou não pertença, assim nos convém tratar que a todos queiramos venham a ser salvos. Assim acontecerá que, quem quer que seja que se nos haverá de deparar, esforcemo-nos por fazê-lo participante de nossa paz. Mas, nossa paz repousará somente sobre os filhos da paz (Mt 10.13Lc 10.6). Portanto, quanto a nós concerne, deverá ser a todos aplicada, à semelhança de um remédio… A Deus, porém, pertencerá fazê-la eficaz a quem preconheceu e predestinou” (AGOSTINHO DE HIPONA. De correptione et gratia, XIV-XVI. In CALVINO João. As Institutas ou tratado da religião cristã,III:XXIII, 14. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1989. Volume III, p. 426).

Calvino, contudo, não somente ensinou essas coisas. Ele também as pôs em prática. Uma prova disso está no fato de que, em Genebra, cidade onde atuou como pastor e estadista, foi criado, após 1545, o Fundo Francêsuma instituição que tinha como propósito central dar apoio material aos franceses pobres ali refugiados por causa da perseguição em sua terra natal. Calvino contribuía prodigamente para esse fundo e é provável que tenha sido um dos seus criadores. Ainda que os objetivos principais da instituição fossem no campo humanitário, é sabido que o Fundo Francês era também usado para fins missionários, sustentando pastores em Genebra que deveriam ser enviados à França.
É também preciso destacar que, em meados do século 16, havia em Genebra 38 tipografias, com cerca de 2 mil empregados, cujo trabalho dominante era imprimir literatura evangélica destinada aos países vizinhos, especialmente a França. Por conta disso, na década de 1540, Paris foi inundada pela literatura produzida em Genebra e as conversões começaram a ocorrer. Isso despertou a atenção e o desagrado do parlamento parisiense, o qual emitiu sucessivas listas de livros proibidos, nas quais eram incluídas quaisquer obras que expusessem ideias calvinistas. As gráficas de Genebra, porém, não paravam de lançar novos títulos, numa velocidade que o parlamento não podia acompanhar. Assim, as listas de livros censurados estavam sempre desatualizadas e as obras de Calvino continuavam a ser vendidas e lidas pelo povo francês.
Além disso, sendo impossível um controle absoluto sobre o comércio de literatura por parte das autoridades de Paris, os livros proibidos procedentes de Genebra eram vendidos no mercado negro. O resultado era que as conversões à fé evangélica não paravam de ocorrer na França. Os registros históricos apontam que, em 1562, dois anos antes de Calvino morrer, existiam pelo menos 1.250 congregações calvinistas naquele país, abrangendo mais de 2 milhões de membros! Foi, certamente, por causa desses extraordinários avanços que a Venerável Companhia de Pastores, outra instituição da Genebra de Calvino, enviou 151 missionários à França só no ano de 1561! (para mais detalhes, veja-se McGRATH, Alister. A vida de João Calvino. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. p. 203-222).
A obra missionária de Calvino também abrangeu a fundação da Academia de Genebra (1559) criada para treinar pastores e suprir a demanda que o crescimento do número de igrejas impunha aos reformadores. Muitos alunos dessa academia eram estrangeiros refugiados (franceses, ingleses, holandeses, italianos e alemães) que, depois de formados, voltavam para seus países de origem ensinando o que ali haviam aprendido. Entre esses alunos esteve John Knox, o grande reformador escocês. Foi assim que a escola fundada por Calvino tornou-se um grande centro missionário, irradiando a fé evangélica para o mundo inteiro.
É preciso ainda lembrar que os primeiros missionários protestantes que chegaram ao Brasil foram enviados precisamente por João Calvino. Eles vieram, a pedido de Nicolas Durand de Villegaignon (1510-1571), com o objetivo de ensinar a fé reformada aos colonizadores franceses do Rio de Janeiro e evangelizar os indígenas. O grupo chegou em março de 1557, mas, menos de um ano depois, foi expulso devido a conflitos doutrinários com Villegaignon. Esses conflitos resultaram na produção da Confissão de Fé da Guanabara(1558), um documento de orientação reformada escrito por cinco calvinistas leigos aprisionados por Villegaignon. Desses cinco, quatro foram estrangulados, pondo fim ao trabalho missionário de Calvino no Brasil (mais informações sobre os calvinistas enviados de Genebra ao Brasil, bem como acerca do conteúdo da Confissão de Fé da Guanabara, veja-se NASCIMENTO, Adão Carlos e MATOS, Alderi Souza de. O que todo presbiteriano inteligente deve saber. Santa Bárbara d’Oeste: SOCEP, 2007. p. 39-48).
No século 17, o Brasil, mais uma vez, foi cenário da atividade missionária calvinista. Isso aconteceu como resultado indireto dos conflitos políticos entre Espanha e Holanda. Movido por esses conflitos, Filipe II, da Espanha, proibiu as relações comerciais entre os holandeses e todas as áreas de dominação espanhola, o que abrangia a América do Sul. Nessa época, a Holanda dominava a distribuição de açúcar na Europa e não podia abrir mão do comércio com a empresa açucareira nordestina. Por isso, em 1621, foi criada a Companhia das Índias Ocidentais, com sede em Amsterdã, cujo objetivo era a exploração mercantil na América.
A companhia promoveu duas invasões holandesas ao Brasil: uma na Bahia (1624-1625) e outra em Pernambuco (1630-1654). Esta última foi a mais bem sucedida e, para garantir a paz e os seus interesses no Brasil, a companhia enviou um representante, o conde João Maurício de Nassau, que governou o Brasil Holandês de 1637 a 1644.
Maurício de Nassau era crente, membro zeloso e assíduo frequentador da Igreja Cristã Reformada. Seu governo foi brilhante, cobrindo uma área que ia do Sergipe até o Maranhão. Ocorreu, porém, que a Companhia das Índias passou a adotar políticas que desagradavam os senhores de engenho, exigindo o pagamento imediato de empréstimos e impondo certos limites à liberdade religiosa. Quando, então, Nassau pediu demissão de seu cargo, iniciou-se a luta contra os holandeses. A chamada Insurreição Pernambucana (1645-1654) resultou na expulsão dos invasores que passaram a produzir açúcar nas Antilhas.
Foram os holandeses que trouxeram para o Brasil a igreja calvinista. Seu nome oficial era Igreja Cristã Reformada e contava com 22 congregações locais espalhadas pelo Brasil Holandês. Ela adotava confissões de fé calvinistas, além de outros credos ortodoxos antigos, e realizou uma intensa obra missionária, especialmente entre os índios. O primeiro pastor dessa igreja a se envolver com a evangelização dos nativos foi Vincentius Joaquimus Soler. A princípio, ele pregou na aldeia Nassau, no Recife (atual Bairro das Graças) e somente mais tarde, a pedido dos nativos da capitania da Paraíba, dedicou-se à evangelização dos índios. Cabe, porém, a David Doreslaer, cujo trabalho iniciou-se em 1638, o título de primeiro pastor missionário de tempo integral entre os nativos do Brasil.
O trabalho missionário dos calvinistas holandeses cresceu muito, a ponto de, em 1641, ser celebrada a primeira Ceia do Senhor na aldeia do cacique Pedro Poti. Várias tribos pediam que a Igreja Cristã Reformada lhes enviasse pregadores e congregações indígenas foram abertas. Até os antropófagos tapuias pediram o envio de missionários. Infelizmente, nem sempre essas solicitações podiam ser atendidas, até mesmo em virtude da instabilidade decorrente dos conflitos entre Holanda, Espanha e Portugal. Apesar disso, 17% do trabalho pastoral era dedicado aos índios, graças, inclusive, à iniciativa pessoal de vários ministros que viam a pregação aos nativos como parte obrigatória do seu ministério.
Em seu trabalho, os pastores calvinistas ganhavam a confiança dos nativos dando-lhes assistência social (remédios, alimentos, proteção, etc.), traduziam partes da Escritura para o tupi, produziam literatura reformada em português e em tupi, primavam pela educação e formação de professores índios (alguns se tornaram “consoladores” ou evangelistas) e zelavam não somente pelo ensino doutrinário, mas também pelo ideal de santidade que deve acompanhar a fé. De fato, o puritanismo holandês via a Bíblia como norma de fé e prática (norma credendi et agendi) e isso foi transmitido aos índios.
Infelizmente, com a expulsão dos holandeses do Brasil, em 1654, a Igreja Cristã Reformada também partiu. Os índios convertidos foram incluídos no “Perdão Geral” promulgado pelos portugueses. Contudo, sem acreditar nesse perdão, os índios membros da primeira igreja evangélica verdadeiramente brasileira fugiram para a Serra de Ibiapaba, no Ceará, a 750 km do Recife. O local tornou-se, então, o que o padre jesuíta Antonio Vieira chamou de “Genebra de todos os sertões do Brasil”, repleta de índios calvinistas que consideravam o catolicismo uma fé falsa.
No mesmo ano da expulsão dos holandeses, os índios da Serra de Ibiapaba enviaram uma pequena delegação a Holanda, suplicando socorro em prol do povo que havia abraçado a fé calvinista. Porém, a Igreja Cristã Reformada viu-se atada pelas negociações de paz entre Portugal e Holanda e não enviou auxílio. Por isso, a igreja indígena morreu. Aos poucos, seus membros foram novamente submetidos a Roma ou massacrados como hereges. Foi assim que terminou um dos capítulos mais belos da história da igreja reformada no Brasil; e esse capítulo prova quão falaciosa é a acusação de que os calvinistas não se importam com a evangelização dos povos sem Deus. (A obra mais completa sobre o tema, escrita em português, é, sem dúvida, a de Franz Leonard Schalkwijk: Igreja e Estado no Brasil Holandês: 1630-1654. São Paulo: Vida Nova, 1989. O autor é pastor reformado holandês e ministrou muitos anos no Brasil, tendo realizado profundas pesquisas tanto aqui como em sua terra natal).
As provas históricas do empenho evangelístico dos calvinistas são inumeráveis. Porém, para concluir esse assunto, é suficiente apontar somente mais dois personagens: George Whitefield e Charles Haddon Spurgeon, sem dúvida os maiores pregadores de todos os tempos, ambos fervorosos expoentes da fé reformada, com sua ênfase na doutrina da predestinação dos santos (Informações mais completas sobre George Whitefield podem ser obtidas em LLOYD-JONES, D.M. Os Puritanos: suas origens e sucessores.São Paulo: PES, 1993).
George Whitefield nasceu em Gloucester, na Inglaterra, em 1714, e morreu em Newbury Port, nos Estados Unidos, em 1770. Ele viveu menos de sessenta anos, mas dificilmente a história poderá mostrar um homem mais zeloso no trabalho de proclamação das Boas Novas aos perdidos. De fato, Whitefield foi o maior pregador da Inglaterra no século 18 e, certamente, um dos mais notáveis evangelistas de todos os tempos. Com certeza, ele foi o principal líder do Grande Avivamento evangélico que varreu a Inglaterra há mais de duzentos anos.
Whitefield começou a pregar em 1736 e, já no ano seguinte, era capaz de reunir grandes multidões em Londres dispostas a ouvi-lo. A ele cabe a honra de ter sido o primeiro evangelista da igreja moderna a pregar ao ar livre, rompendo antigas tradições eclesiásticas em prol da expansão da fé. Whitefield usou essa estratégia pela primeira vez em 1739, motivado pelas terríveis informações que lhe chegaram acerca da vida depravada dos trabalhadores das minas de carvão que viviam numa vila perto de Bristol. A princípio ele pregou ao ar livre para um grupo de cem homens daquela vila, mas seu impacto foi tão grande que logo o número passou para 5 mil, superando mais tarde os 20 mil ouvintes. Aquelas pessoas nunca tinham entrado numa igreja e, mesmo cansadas e sujas em virtude do trabalho nas minas de carvão, não iam para casa, preferindo ficar de pé ouvindo a pregação de Whitefield.
A partir de então e até o fim da vida, Whitefield se dedicou à pregação em lugares abertos, alcançando dezenas de milhares de pessoas tanto na sua terra natal como na Escócia, onde esteve catorze vezes. A partir de 1738, Whitefield fez também diversas viagens aos Estados Unidos a fim de pregar o evangelho ali. Ele morreu durante sua sétima visita àquele país. Sua coragem em atravessar o oceano treze vezes em suas idas e vindas à América, enfrentando todos os perigos que essa viagem representava no século 18, mostra o zelo missionário desse pastor calvinista que, em 34 anos de ministério, pregou cerca de 18 mil sermões!
Proclamando suas mensagens ao ar livre ao longo de toda a vida, Whitefield enfrentava qualquer situação, mesmo as mais difíceis. Frio, calor, chuva e neve, nada disso o impedia de anunciar a Palavra às multidões que, também sob essas condições se ajuntavam para ouvi-lo. Ele pregava cerca de seis vezes por dia e fez isso por mais de três décadas! Não tinha descanso no trabalho, submetendo seu corpo a severas tensões. Foi por isso que, extremamente exausto, após árduos esforços para pregar uma última vez, faleceu em Newbury Port, Massachusetts, com apenas 56 anos de idade.
Ninguém mais do que George Whitefield provou como a fé calvinista move o crente ao evangelismo. Sendo árduo defensor da doutrina da eleição soberana de Deus, ele foi um evangelista incomparável, superando todos do seu tempo no nobre trabalho de alcançar os escolhidos do Senhor. Whitefield pregou para a aristocracia inglesa, para os homens humildes do campo e das minas e para as crianças dos orfanatos, tanto em sua terra natal como em regiões distantes dali. A fé reformada não o desencorajava. Muito pelo contrário. Foi essa fé que se constituiu na base de todo o seu empenho, por décadas a fio, até a morte. Hoje, os que dizem que calvinistas não evangelizam, devem estudar a vida de George Whitefield. Isso, certamente, os fará mudar de opinião!
Uma dramática mudança de opinião acerca do zelo evangelístico calvinista também ocorrerá no crítico da fé reformada que estudar a vida de Charles Haddon Spurgeon (1834-1892), notável pastor batista inglês conhecido como o “Príncipe dos Pregadores” (sobre a vida de Spurgeon, leia Gigantes da fé, de Franklin Ferreira, publicado pela Editora Vida, páginas 270 a 278).
Mesmo pertencendo a uma família de tradição protestante e sendo criado sob a forte influência de seu avô, um pastor congregacional, Spurgeon só se converteu realmente aos dezesseis anos de idade. Logo no início de sua vida cristã, ele mostrou grande preocupação pelas almas, dedicando-se à distribuição de folhetos, ao ensino na escola dominical e, eventualmente, à pregação. Aos poucos, porém, suas habilidades como comunicador daPalavra de Deus começaram a aflorar e Spurgeon viu sua fama de pregador crescer quando ainda era bem jovem.
Em 1852, ele se tornou pastor e, dois anos depois, assumiu o ministério na Capela Batista de New Park Street, em Londres. Seu desempenho ali como pregador e evangelista atraiu tantas pessoas que as ruas ao redor da igreja logo se tornaram intransitáveis por conta da multidão que afluía para ouvir o jovem pastor. Em pouco tempo, a igreja teve de se mudar para Newington, onde, em 1861, foi construído o Tabernáculo Metropolitano, que abrigava cerca de 12 mil pessoas. O local ficava repleto de homens e mulheres desejosos de ouvir os sermões ardentes de Spurgeon que anunciava o Evangelho com uma paixão e clareza nunca vistas em nenhum outro pregador daqueles dias.
Charles Spurgeon era calvinista convicto e seus sermões são prova cabal desse fato (no Brasil, os sermões de Spurgeon têm sido publicados especialmente pela Editora Fiel e pela PES: Publicações Evangélicas Selecionadas). Defendendo vigorosamente a doutrina da predestinação dos santos e a eleição incondicional, ele foi, ao mesmo tempo, um zeloso evangelista de renome mundial, pregando em diversos países da Europa, tanto em igrejas ou em amplos salões como ao ar livre. Ele pregava de oito a doze vezes por semana e chegou a falar para um público de mais de 23 mil pessoas, no Crystal Palace, em Londres.
Tantas foram as pregações de Spurgeon que, quando seus sermões passaram a ser publicados, a partir de 1855, a obra abrangeu 63 volumes, com mais de 3.500 homilias. Desejoso de que a mensagem de Cristo alcançasse o maior número possível de pessoas, Spurgeon se esforçava para que as publicações dos sermões fossem semanais, revisando ele próprio os textos antes que chegassem ao público. Como resultado dessa imensa obra evangelizadora, Spurgeon batizou cerca de 15 mil pessoas ao longo de quarenta anos de ministério pastoral. Mais tarde, seus sermões foram traduzidos para diversos idiomas, transformando vidas em todo o mundo.
Sempre preocupado com a divulgação da mensagem cristã, Spurgeon também começou um trabalho de treinamento de evangelistas e pastores, o que deu origem ao posteriormente chamado Spurgeon’s College. Essa instituição existe até hoje, adotando a mesma visão do seu fundador e formando evangelistas, missionários e pastores.
Charles Spurgeon adotava uma concepção ortodoxa das Sagradas Escrituras e, por isso, passou a ser fortemente criticado pelos membros liberais da União das Igrejas Batistas da Inglaterra da qual sua igreja fazia parte. Por causa disso, em 1887, ele se desligou da união e, sob severa oposição, viu sua saúde minguar. Spurgeon tinha gota, reumatismo e uma enfermidade crônica degenerativa incurável chamada Doença de Bright. Ele morreu aos 57 anos. Grandes cortejos foram realizados em Londres por ocasião de seu sepultamento no cemitério de Norwood. Naquele dia, 31 de janeiro de 1892, o Senhor tomou para si um dos maiores evangelistas de todos os tempos.
Quem conhece a vida e os sermões de Spurgeon vê quão grande é o impulso que a doutrina da eleição incondicional dá ao evangelismo. Nota-se que, encorajado pelo precioso ensino acerca da predestinação dos santos, os homens de Deus se lançam com maior empenho na busca daqueles que o Senhor escolheu e trazem para o seio da igreja os convertidos verdadeiros em quem a graça de Deus realmente atuou.


sábado, 28 de novembro de 2015

Então você quer pecar, certo? - por Tim Challies
Então você quer pecar, certo? Eu entendo isso. Eu já senti isso. Eu já senti isso hoje. E ontem. E anteontem. Posso pedir apenas 4 ou 5 minutos do seu tempo? Depois você pode ir e pecar o quanto você quiser. Mas, antes, queria que você lesse algumas palavras e parasse um momento para pensar sobre elas.
Pense, cristão, que Cristo veio do lado do Seu próprio Pai, onde Ele havia existido eternamente, para esse mundo de dor, sofrimento e morte; que o próprio Deus se manifestou em carne, o Criador se fez criatura; que Ele que era revestido de glória agora revestiu-se de carne mortal; que Aquele que enchia os céus e a terra com sua própria glória seria colocado numa manjedoura; que o Deus todo poderoso fugiria de homens fracos – o Deus de Israel escapando para o Egito; que o Deus da lei estaria agora sujeito à lei, o Deus da circuncisão circuncidado, o Deus que fez a terra e os céus trabalhando com José como carpinteiro de uma cidade pequena.
Pense que Aquele que aprisiona os demônios em cadeias seria tentado por Satanás; que Ele, que tem o domínio sobre todo o mundo e tudo que nele há, teria fome e sede; que o Deus da força ficaria cansado, o Juiz supremo sobre toda carne condenado, o Deus da vida morto; que Ele que é um com seu próprio Pai clamaria em meio a sua miséria: “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?”; que Aquele que possui as chaves do inferno e da morte jazeria morto numa tumba emprestada, não tendo, sequer em vida, um lugar para repousar a cabeça, e não tendo, em sua morte, lugar para repousar o corpo.
Pense que aquela cabeça, perante a qual anjos deitavam suas coroas, seria coroada por espinhos, e aqueles olhos, mais puros que o sol, seria invadidos pela escuridão da morte; e aqueles ouvidos, que não haviam escutado nada mais que Aleluias dos santos e dos anjos, escutariam blasfêmias da multidão; que aquela face, que havia eternamente visto o Pai, seria cuspida por seus opositores; que aquela boca que falou como nenhum homem jamais falou, antes ou depois, seria acusada de blasfêmia; que aquelas mãos, que haviam moldado e mantido o próprio firmamento, seriam cravejadas na cruz; que aqueles pés, que eram “como bronze polido”, seriam pregados na cruz pelos pecados dos homens.
Pense que Ele sentiu a agonia da lança e dos pregos no próprio corpo; que Ele sentiu o cheiro podre do lugar da Caveira; que Ele sentiu o gosto do vinagre e da bílis naquela cruz; que Ele ouviu as zombarias e as reprovações; que Ele viu seus discípulos e sua própria mãe aflitos pelo luto iminente; e durante todo esse tempo sua alma não teve conforto ou consolo algum, pois Ele havia sido abandonado, desamparado pelos homens e por Deus.
Esse foi o preço do seu pecado. Esse foi o preço do pecado que você quer desfrutar.
Você ainda quer pecar?
 
FONTE: Reforma21.org | Extraído do Original (challies.com)
Traduzido por Luis Felipe Heringer

Não Conhecemos o Evangelho de Jesus Cristo - por Paul Washer
Precisamos entender que o cristianismo nunca será amigo deste mundo. O cristianismo sustenta o único caminho de salvação para este mundo. Eles nunca serão amigos. O cristianismo nunca irá cumprir as exigências do mundo.
O que eu devo fazer hoje à noite? Eu vou fazer o que geralmente faço quando tenho apenas uma chance de pregar para um grupo de pessoas. Eu vou pregar o evangelho. Vou lhes apresentar o evangelho de Jesus Cristo. E muitos de vocês provavelmente dirão: "Por quê? Nós já sabemos disso". Não, vocês não sabem.
Vocês sabem sobre "4 leis espirituais" e "5 coisas que Deus quer que você saiba". E vocês sabem levar as pessoas tomarem decisões e confirmar a salvação delas, mesmo que Deus esteja a milhares de milhas de distância do que você está fazendo. Mas, provavelmente, você não sabe muito sobre o evangelho.
A maior necessidade da comunidade evangélica hoje é aprender sobre o evangelho de Jesus Cristo. Porque simplesmente examinando os sermões e vendo a técnicas e metodologias de crescimento de igreja e todas as outras coisas que vejo, eu só consigo chegar a apenas uma conclusão: Nós não conhecemos o evangelho de Jesus Cristo.
Veja o que temos feito:
Nós vamos a um homem e dizemos: “Você sabe que é um pecador?” Se ele disser "sim", nós vamos para a próxima pergunta. “Você gostaria de ir para o céu?” Se ele disser "sim", nós vamos para a próxima pergunta. “Você gostaria de pedir para Jesus Cristo entrar no seu coração?” Se ele disser "sim", e fizer aquela oração nós perguntamos a ele se ele foi sincero. E se ele disser "sim", de pronto já (na verdade a expressão usada é “papalmente” – eu tenho usado a tradução “de forma papal” o que você acha?) o declaramos nascido de novo.
Isto não é o evangelho de Jesus Cristo. E essa metodologia no evangelismo tem causado mais estrago neste país do que qualquer heresia introduzida por todas as seitas juntas.
Milhões de pessoas neste país cujas vidas nunca foram transformadas acreditam que elas são nascidas de novo, porque nós reduzimos tanto o evangelho de Jesus Cristo, que ele agora não significa nada mais que uma simples decisão que vai tomar apenas 5 minutos do seu tempo.
Vamos analisar (acho um termo melhor para a ocasião) isso por um momento: “Você sabe que é um pecador?” Se a pessoa disser “sim”, o que isso significa? Absolutamente nada! Vá perguntar ao diabo se ele sabe que ele é um pecador. Ele vai dizer “sim eu sou e sou muito bom nisso”.
A questão não é: “Você sabe que é um pecador?”. A questão é: “Desde que você tem ouvido a pregação do evangelho, Deus tem operado de tal forma em seu coração que o pecado que você amava você agora odeia?” Esta é a questão.
A questão não é: “Você gostaria de ir para o céu?” Todo mundo quer ir para o céu, eles só não querem que Deus esteja lá quando eles chegarem lá. A questão não é: “Você gostaria de ir para o céu?” A questão é: “Desde que o evangelho tem sido pregado a você, o Deus todo-poderoso tem feito uma obra soberana e sobrenatural em seu coração que o Deus que você odiava e ignorava você agora deseja e estima como digno acima de todas outras coisas.
E por último: “Você gostaria de fazer uma oração pedindo para Jesus entrar no seu coração?” Você será duramente pressionado a encontrar base bíblica para esta pergunta no Novo Testamento.
Você pode dizer: “Ah não, lá diz: receba Ele”. Você honestamente acha que quando a Bíblia fala de receber Cristo, ela está falando de balbuciar algum rito evangélico? Quando ela fala de receber Cristo, é através do arrependimento e fé. Não é recebê-Lo como algum acessório em sua vida, é recebê-Lo como o próprio sustentador da sua vida. Cristo não é algo que faz sua vida melhorar, Cristo é a sua vida! Ele é sua vida!
Jesus não veio e disse no evangelho de Marcos: “O tempo está cumprido e é chegado o reino de Deus, agora quem gostaria de orar me convidando para entrar em seu coração”. Ao invés disso Ele disse: “Arrependei-vos e crede no evangelho” (Marcos 1:15).
E não se esqueça que através de todo o ensino do Novo e do Velho Testamento, o arrependimento é evidenciado por frutos, pela maneira como alguém vive. A maioria das pessoas hoje acredita que são salvas porque elas estão confiando na sinceridade de suas decisões e não na obra de Cristo, nem no poder de Deus na salvação.
“Você é salvo?” “Sim”. “Como você sabe?” “Bem, três anos atrás eu orei pedindo para Jesus entrar no meu coração.” Sério? E quantos outros têm feito isso. A evidência da salvação, a evidência do arrependimento, a evidência da fé é uma vida transformada em contínua transformação.
Como você sabe que você se arrependeu para salvação anos atrás? É porque você continua a se arrepender hoje. Como você sabe que creu para a salvação anos atrás? É porque você continua crendo hoje. Como você sabe que Deus teve um encontro com você anos atrás? É porque Ele continua tendo um encontro com você. Através da obra da santificação, ele não apenas transformou sua vida, Ele ainda continua transformando sua vida.
O evangelho que pregamos hoje é um ritual. Sim, algumas pessoas foram salvas, mas não por causa de nossa pregação, na verdade a despeito dela. Deus ainda opera, embora não conheçamos o evangelho.
Não é uma mensagem entre muitas. É a mensagem das Escrituras e é a mensagem do Cristianismo. O mais triste é que não está sendo mais a mensagem da igreja na América. E eu posso te provar isso. Vá até as suas livrarias. Se pensarmos em 200 ou 300 anos atrás, nós veríamos que quando eles falavam do Cristianismo era sobre o evangelho. Os livros que foram escritos pelos “Spurgeons” (ele não se refere a Spurgeon, mas a pessoas como Spurgeon), pelos Puritanos, e pelos “Edwards” eram sobre o que é o evangelho, como podemos compreender o evangelho, como devemos pregar o evangelho, o que é verdadeira conversão, como realmente podemos saber quando as pessoas realmente nasceram de novo. Vá a algumas de suas livrarias evangélicas e tente achar algum livro que fale dessas coisas. Você não vai achar nada. Só há coisas como: “como fazer isso” e “dez passos para aquilo”.
Por que há tão pouco poder hoje? Porque não conhecemos o evangelho, porque não nos preocupamos com verdadeira conversão, porque não fazemos das coisas importantes algo realmente importante, mas nós as substituímos com o uso cômodo da mídia no culto, com certo tipo de música para deixar todo mundo no clima, com pregadores relâmpagos que nos falam tudo o que queremos ouvir para que tenhamos a nossa melhor vida agora, porque na verdade é isso o que queremos, mais do que Deus. Não há poder porque o evangelho está esquecido. Traga o evangelho de volta e você verá o poder de Deus se movendo sobre a vida de homens, mulheres e crianças. O evangelho simples.
 
FONTE: Pequeno Cristo  |  "Esta é a transcrição do vídeo de mesmo nome que você encontra neste site".  

O Efeito do Pecado - Paulo Junior
Trataremos nessa mensagem de hoje sobre um dos temas mais terríveis da cristandade, porém pouco mencionado nos púlpitos atuais: o efeito do pecado, isto é, suas consequências.
Primeiramente, relembremos rapidamente o que é pecado – já que muitos cristãos hoje em dia parecem não saber o que é. Pecado é transgressão à Lei de Deus, é iniquidade, é desobediência a Deus e seus preceitos, é sair dos Seus retos caminhos e se rebelar contra Ele, quebrando sua Lei, ou seja, coisa muito comum nos dias atuais por parte dos ímpios e também para boa parte dos cristãos. Mas não trataremos hoje propriamente do pecado e sim das suas trágicas consequências. É muito importante abordar o poder letal, degradável e destruidor que tem o pecado, pois isso nos traz reflexões, consciência do perigo que corremos e, consequentemente, temor e arrependimento.
Quero usar nesse tema o personagem descrito no versículo acima, tirado do livro de Juízes: Sansão. Sansão foi chamado para ser juiz de Israel e durante vinte anos julgou Israel, sendo o responsável por guardar os israelitas e libertá-los da opressão dos filisteus. Sansão, desde sua infância possuía um voto com Deus, era nazireu de Deus (veja Nm 6.1-21), não podia ser dado ao vinho, nem à prostituição e nem navalha poderia passar sobre sua cabeça, resumindo, Sansão era separado para o ministério: como juiz, deveria andar debaixo de um conjunto de normas e regras, tendo uma conduta exemplar diante de Israel e permanecendo obediente às leis de Deus.
Infelizmente Sansão andou de forma contrária a todas as regras estabelecidas por Deus, quebrando todos os princípios. Violando de tal maneira a Lei de Deus, Sansão pecou desenfreadamente e o livro de Juízes, do capítulo 13 ao 16 descreve claramente seus inúmeros delitos: Sansão dormiu com uma prostituta, tocou no corpo de um animal morto, casou-se com uma filisteia, mentiu várias vezes e, por último, em seu relacionamento com Dalila – mulher do vale de Soreque – revelou seu segredo tendo os cabelos cortados, quebrando totalmente seu voto de nazireado.
 

…chamado para ser juiz de Israel… andou de forma contrária a todas as regras estabelecidas por Deus

 
Sansão era conhecido por sua grande força física: quando o Espirito de Deus vinha sobre ele, ele se tornava o homem mais forte da Terra: imbatível, indestrutível, intocável, pois a graça, a misericórdia e o poder de Deus estavam sobre Sansão. Contudo, houve um fator que destruiu Sansão, que o arruinou para o resto de sua vida, esse fator, esse item, foi o pecado. Gostaria agora de mostrar o efeito do pecado na vida de Sansão, pois Paulo em sua epístola aos Gálatas escreve: “tudo que o homem semear isso ceifará” (Gl 6.7). Sansão semeou pecado e veremos agora quais consequências ele colheu.
 

Primeira consequência: A misericórdia de Deus é retirada.

 
“E sucedeu que, importunando-o ela todos os dias com as suas palavras, e molestando-o, a sua alma se angustiou até a morte. E descobriu-lhe todo o seu coração, e disse-lhe: Nunca passou navalha pela minha cabeça, porque sou nazireu de Deus desde o ventre de minha mãe; se viesse a ser rapado, ir-se-ia de mim a minha força, e me enfraqueceria, e seria como qualquer outro homem”. Jz 16.16-17
Se você notar, mesmo Sansão vivendo em pecado, Deus sempre o livrava das mãos dos filisteus, como notamos em (Jz 16.9). Isso sucedeu várias vezes, porém, nos versículos 16 e 17 do mesmo capítulo vemos que a misericórdia de Deus é retirada! Dalila o molesta de tal maneira, intentando descobrir o segredo da sua força, que Sansão revela a ela, dizendo: “nunca subiu navalha na minha cabeça”. Deus permitiu que sua fraqueza fosse exposta, seu ponto fraco uma grande brecha para sua queda.
Meu querido irmão, essa é a primeira consequência daqueles que estão vivendo uma vida de pecado, daqueles que estão brincado com pecados ocultos e dizem: “Deus ainda me honra, tenho respostas de orações, recebo alguma promoção aqui e outra ali, algumas bênçãos vem sobre mim e sobre minha família, continuo subindo no altar e cantando bem ou estou diante de um púlpito pregando com eloquência, recebendo elogios e até vendo frutos.
Isso ocorre pelo que está escrito em Lamentações 3.22: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos”. Mas, invariavelmente, uma hora a misericórdia será retirada como ocorreu com Sansão! Aí sua vergonha será exposta, seus delitos contra Deus não ficarão impunes, cedo ou tarde isso será revelado e você poderá ser humilhado e exposto como o foi o rei Davi, quando pecou com Bate-Seba. Talvez você diga: “a misericórdia de Deus é muito grande”. Sim ela é. Ele é tardio em se irar (Na 1.3), mas preste muita atenção ao que o versículo diz: “Ele é tardio”, isso não significa que Ele nunca vai se irar! Veja o que diz em Jeremias 16.13: “porque não usarei de misericórdia convosco”. Para você que está vivendo uma vida de pecados ocultos, a qualquer hora a misericórdia poderá ser retirada e você estará totalmente entregue às mãos do inimigo!
 

Segunda consequência: A perda de sua força. 

 
“(…) e retirou-se dele a sua força”. Jz 16.19 
 
Como eu havia dito antes, Sansão era conhecido por sua estrondosa força física, mas pelos seus pecados sua força se foi, Sansão ficou fraco, sem qualquer possibilidade de vencer uma luta ou guerra; Sansão estava inofensivo diante do seu inimigo: os filisteus. Agora ele tinha se tornado um homem comum: não detinha mais o poder sobrenatural que lhe confiava grande força.
Eis a segunda consequência do pecado: perdemos a força, ficamos fracos, não temos força para orar, não temos força para estudar a Palavra, não temos força para uma vida cristã saudável e, principalmente, não temos força para enfrentar o nosso inimigo: Satanás e seus exércitos. Com uma vida em pecado, não temos a menor chance contra ele! A força espiritual que nos revestia e as qualidades espirituais se foram devido ao pecado. Um dia já tivemos força, ânimo, poder, autoridade; lembra-se quando você não tinha medo de ninguém e tinha disposição para fazer qualquer coisa que dissesse respeito a Cristo e sua obra? Agora você se pergunta por que está tão fraco, desanimado, incrédulo, com anemia espiritual; às vezes você pensa que é culpa de alguém, que é o diabo que está causando essa fraqueza; às vezes atribui que é a vontade de Deus, que é um tempo ou uma fase em sua vida e nunca que se trata do efeito do pecado de uma vida cheia de brechas e engano!
Talvez possa ser isso que está tirando sua força, meu querido irmão! Não é esse nem aquele fator: é consequência do pecado! O pecado enfraquece, corrói, destrói e mina as forças de qualquer cristão conhecedor das Escrituras, mas que a transgride voluntariamente. Se você está assim: não tem força para mais nada na sua vida, mesmo sendo cristão, examine sua vida à luz da Bíblia e veja quais brechas você tem dado e em quais pecados você está envolvido.
 

Terceira consequência: Ausência da presença de Deus. (cap. 16.20) 

 
“(…) Porque ele não sabia que já o SENHOR se tinha retirado dele”. Jz 16.20
 
É um grande erro pensarmos que Deus, por causa de Seu amor, é conivente com nossas ações pecaminosas, pois Ele não tolera o pecado e também não tolera o pecador (Na 1.3) e também Deus não tem comunhão nem caminha com ímpios (Sl 1, 2Co 6.14-16). O Espírito de Deus, a presença de Deus se retirou de Sansão, essa é a mais trágica consequência que o pecado traz sobre nós: a ausência de Deus.
Davi sentiu exatamente isso quando cometeu seus gravíssimos pecados e ele sabia o perigo que corria de ocorrer o mesmo em sua vida, quando escreveu o Salmo 51.11: “Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo.” Davi sabia que uma vida de pecado, que delitos graves, conscientes, praticados contra Deus e Sua Palavra, poderiam leva-lo a ausência de Deus.
Essa é a terceira consequência: perder Sua presença. O que somos nós sem o Espírito de Deus, sem a Sua presença para nos guiar, nos regenerar, nos policiar, nos advertir? Ela é o fluxo de vida da Igreja, o fluxo de vida do cristão. Sem a presença de Deus estamos mortos, entregues a sorte, ao mundo, e aos desejos da carne. Como cegos em um mundo sem luz, completamente perdidos e sem direção: eis o que ocorre com aqueles que estão vivendo uma vida de pecado. Então te pergunto: quantos cristãos dentro da Igreja não estão em pecado? Quantos ministérios de louvor e da Palavra não estão em pecado? Quantas igrejas inteiras não têm seus alicerces fundamentados no pecado? Mas ainda prevalecem, ainda funcionam normalmente, entretanto, sem saber que sutilmente a presença de Deus já os deixou faz muito tempo.
Notem o que o versículo diz: “Nao sabia Sansão”. Ele nem percebeu, tinha se tornado insensível, carnal, não diferenciava mais o santo do profano, assim é a vida de muitos cristãos. Estão regendo suas vidas e ministérios na emoção, na carne, no intelecto. Só que tem outra questão importantíssima, que eu não poderia deixar de abordar: se há ausencia de um espírito, há a presença de outro! Não ficamos sozinhos, vazios. Se o Espírito de Deus sai, o espírito do mal entra, assim Satanás e seus demônios passam a dominar aquela pessoa.
Veja o exemplo do rei Saul: “E o Espírito do SENHOR se retirou de Saul, e atormentava-o um espírito mau da parte do SENHOR.” (1Sm 16.14). Essa consequência é inevitável. Agora eu te pergunto: será que você que está escondendo todos esses pecados, transgredindo a Lei de Deus diariamente não está tendo a sua vida e o seu ministério regidos por Satanás? Meu Deus do céu, que condição execrável se encontra tal homem, tal mulher, tal denominação, que estão edificando Sião com sangue e Jerusalem com iniquidade! (Mq 3.10)
 

Quarta consequência: Cegueira.

 
“(…) Então os filisteus pegaram nele, e arrancaram-lhe os olhos”. Jz 16.21
 
Os filisteus vêm, vazam os olhos de Sansão e os arrancam, deixando-o totalmente cego. Essa é a quarta consequência: cegueira. Uma pessoa que vive na prática do pecado não tem mais discernimento espiritual, não sabe mais por qual caminho anda, não sabe quando houver decisões a tomar quais serão as corretas, fecham negócios errados, “batem cabeça” de um lado para o outro, tem atitudes incoerentes, pensa estar fazendo o bem, quando na verdade está fazendo o mal!
Veja o que diz Provérbios 14.12: “Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte”. Será que você não está assim: caminhando por veredas que aos seus olhos são saudáveis, no emprego, no relacionamento, no que diz respeito à Igreja, mas na verdade está em completa cegueira, cavando covas nas quais você mesmo cairá? Será que você não está magoando pessoas, ferindo sua família, oferecendo fogo estranho no altar do Senhor e achando que tudo isso é correto, que tudo isso é benefíco e que Deus ainda está te aprovando?
Sinto te dizer: se você estiver vivendo uma vida de pecado, é exatamente assim que a sua vida se encontra! Você não pode dar crédito a si mesmo! Como se fiar em um cristão conhecedor da Lei que ao mesmo tempo é transgressor da mesma?! Tal pessoa, tal crente, não é digno de confiança, nem é digno de em si próprio confiar, pois a quarta consequência de uma vida de pecado é a cegueira.
 

Quinta consequência: Ficar amarrado.

 
“(…) e amarraram-no com duas cadeias de bronze (…).” Jz 16.21
 
Depois de cegar a Sansão, os filisteus o tomaram e amarraram com duas cadeias de bronze, anulando assim qualquer movimento extenso de Sansão. Essa é a quinta consequência: uma vida amarrada, limitada, atrofiada.
Será que sua vida não está assim? Todas as áreas emperradas: casamento em crise, filhos rebeldes, dívidas por todos os lados, doenças, nada anda bem, você se sente totalmente amarrado, portas fechadas, o “não” passou a ser seu companheiro. Você atribui isso ao governo, à economia, põe e culpa no diabo, nos familiares, xinga, murmura, blasfema e esquece de pensar: talvez tudo isso é efeito dos meus pecados, de uma vida cristã relaxada, desregrada?
Note uma coisa: uma pessoa amarrada não está totalmente impossibilitada de fazer as coisas. Tal pessoa possui ainda alguns movimentos: ela pode andar, mexer as mãos, a boca, os olhos, porém, as cadeias de bronze são pesadas, ela está atada, ela tem seus movimentos limitados! Dessa forma é a vida de uma pessoa amarrada: ela não deixa de fazer nada, entretanto, todas as suas ações e áreas da sua vida são limitadas. Não conseque concluir nada que inicia, nem ter progresso e sucesso nos seus projetos, pois está amarrada.
Outro detalhe importante: as cadeias são de bronze, são impossíveis de ser quebradas pela força humana, necessitam de uma força sobrenatural para serem quebradas, mas como o pecado retirou essa força – a presença de Deus – essa pessoa jamais conseguirá se libertar. Isso implica que, por seus pecados, essa pessoa está condenada a uma vida cristã sofrível, arruinada e infeliz.
 

Sexta consequência: Escravidão.

 
“(…) e girava ele um moinho no cárcere”. Jz 16.21
 
Depois de ser acorrentado, Sansão foi colocado em uma prisão, numa masmorra, foi condenado a ficar ali trabalhando num moinho. Essa é a sexta consequência: o pecado nos faz escravos, pois Pedro diz: “(…) Porque de quem alguém é vencido, do tal faz-se também servo”. (2Pe 2.19).
Sansão foi vencido pelo pecado, se tornou escravo dele, sujeitando-se aos seus moldes, ao seu domínio e ao seu poder destruidor. Também se tornou escravo de outro inimigo, porque estava no cárcere dos filisteus, era então prisioneiro dos filisteus, escravo deles, estava sujeito às suas ordens e vontades. Dessa maneira ocorre na vida daqueles que vivem em pecado: se tornam escravos do nosso inimigo, o diabo. E querendo ou não, sabendo ou não, estão sujeitados a sua vontade! Você já parou para pensar que consequência trágica ser escravo do diabo, depois de ter a liberdade em Cristo, depois de ter acesso ao sangue da nova e eterna aliança que veio do Calvário, depois de gozar da redenção e da verdade que liberta (Jo 8.32) se tornar de novo escravo de Satanás, voltar para suas garras maléficas, como isso pode ser possível? A resposta você sabe: pecado.
O diabo é legalista, atua usando princípios da Lei de Deus, quando a quebramos, por mais que Deus seja misericordioso e perdoador, a quebra contínua e voluntária dará autoridade para Satanás nos tocar e nos dominar. Essa então foi a sexta consequência do pecado ilustrada na vida de Sansão.
 

Como, então, evitar todas essas consequências?

 
Você que está lendo deve pensar: “que mensagem dura, que pavor veio ao meu coração ao ler isso, pois me identifico com muitas coisas que estão aqui escritas, o que devo fazer então”?
Se você foi confrontado pela Palavra de Deus, como todo homem deve ser, se ela trouxe luz e revelação daquilo que você está fazendo e pela Palavra você viu que é pecado e que todas essas consequências estão ocorrendo em sua vida, só há uma maneira de anular o efeito do pecado; é o arrependimento. Veja o que diz Provérbios 28.13: “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia”. Confessar nossos pecados, arrepender-nos dos mesmos, pedir a misericórdia do Senhor, foi isso que Sansão fez – completamente desnorteado e destruído pela força descomunal do pecado ainda houve solução para Sansão – em Juízes 16.28 ele clamou ao Senhor dizendo: “Senhor Jeová, peço que te lembre de mim, esforça-me agora, só essa vez”!
Sansão com essa frase – e com o tempo sofrido de cárcere – mostra arrependimento. A força de Sansão volta novamente, então ele abraça as duas colunas do templo dos filisteus e as derruba, matando todos os filisteus daquele lugar. Quer dizer que você sabe que Sansão se arrependeu e foi perdoado? Sim, pois ele é citado em Hebreus 11.32 na galeria dos heróis da fé!
Esse é o caminho meu caro leitor: deixe sua vida de pecados, antes que seja tarde demais, antes que não haja mais remédio, antes que você seja exposto e envergonhado e colha consequências irreversíveis a você e a sua família, pois o salário do pecado é a morte (Rm 6.23).
Você pode estar correndo o risco de ser fulminado pelo pecado aqui nesta terra e ainda padecer a eternidade no inferno! Não estou dizendo de um deslize, de uma fraqueza momentânea que todos nós estamos sujeitos, estou dizendo de uma vida na lama do pecado, estou dizendo de pecados maquinados, premeditados.
Lembre-se do que diz a 1João 1.9: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça”. Para aqueles que confessam e se arrependem há perdão de Deus, há sangue suficiente para te purificar, há graça abundante sendo derramada sobre você, da mesma forma que foi com o filho pródigo, que arrependido voltou ao lar e foi completamente restaurado e perdoado (Lc 15.11-32). Como Paulo escreveu para aqueles que estão em Cristo, que são nascidos de novo: “Porque o pecado não terá domínio sobre vós”. (Rm 6.14).
 

FONTE: www.defesadoevangelho.com.br

Uma palavra aos Jovens - por Paul Washer
LEMBRE-SE DA BREVIDADE DA VIDA
O primeiro homem foi criado à imagem de Deus. Se ele tivesse se submetido à vontade de Deus, ele teria sido imortal. Ele passaria pelos anos da sua interminável existência de força a força, sem deterioração ou decadência. A passagem do tempo o teria levado a maiores níveis de maturidade, contentamento, e alegria. Sua existência teria abundado com propósitos e glória. Com o advento do pecado, tudo foi perdido, e a existência dos homens tornou-se tragicamente distorcida e deformada acima de reconhecimento. O homem ficou um mortal de breve duração, cansaços, e futilidades. Ele agora vive a sua vida até que toda a sua vitalidade é esgotada, todos os seus propósitos são demolidos, e o corpo finalmente volta ao pó do qual ele veio. Não é sem razão que o pregador grita, “Vaidade de vaidades! Tudo é a vaidade” (Eclesiastes 1:2). Como um moço ou moça, você deve constantemente lutar contra a tentação de esquecer-se da brevidade da vida e da vaidade, até da vida mais longa, vivida fora da vontade de Deus. Você deve aprender das Sagradas Escrituras que a sua vida é menos que um vapor. Você deve ficar convencido desta verdade, e, então, você deve estabelecê-la diante de você como um lembrete constante. Você é mortal e os seus dias são numerados!
“Quanto ao homem, os seus dias são como a erva, como a flor do campo assim floresce. Passando por ela o vento, logo se vai, e o seu lugar não será mais conhecido.” (Salmo 103: 15, 16; ACF). “Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa.” (Tiago 4: 14; NVI).
Você sabe que a Bíblia é verdadeira. Você sabe que a morte é uma certeza para você. Cada lápide e elegia testemunha a realidade inescapável que você vai morrer. E mesmo assim, como é que você tão rapidamente se esquece e se entrega às vaidades passageiras desta vida? É porque você é rodeado por uma cultura que faz tudo ao seu alcance para evitar algum pensa-mento sobre o fim de vida. É porque o deus deste século trabalha com toda a sua astúcia para mantê-lo entretido e distraído. É porque, embora você tenha sido remido, você ainda vive em um corpo da carne, decaído, que corre para tudo que é carnal e temporal. Conhecendo essas coisas, você faria bem em memorizar e orar muito a oração de Davi no Salmo 39: 4:
“Mostra-me, Senhor, o fim da minha vida e o número dos meus dias, para que eu saiba quão frágil sou.” (NVI)
Manter a sua mortalidade na frente de seus pensamentos não tem como objetivo ser mórbido ou se lamentar como aqueles que não têm nenhuma esperança, mas compeli-lo a esperar em Cristo somente e dar-se de todo coração à Sua vontade para sua vida. Só em Cristo a sepultura é consumida pela vitória, e a futilidade temporal substituída pelo propósito eterno e glorioso de Deus para você.
LEMBRE-SE DO SEU CRIADOR
Conhecendo algo da brevidade da vida, “Como então viveremos?”. O escritor de Eclesiastes responde a esta pergunta para nós na forma de uma ordem: “
“Lembre-se do seu Criador nos dias da sua juventude...” (Eclesiastes 12: 1).
A palavra “lembrar” vem do he-breu “zakar” que significa chamar ou trazer à memória. Esta ordem de lembrar-se de Deus é mais que uma lembrança casual que há um Deus. Ela significa mais do que simplesmente curvar a sua cabeça cada vez que você passa pela igreja. Não é uma ordem cumprida simplesmente indo à igreja cada vez que as portas se abrem. É uma ordem radical e transformadora de vida para conhecermos e entendermos o Deus das Escrituras, reconhecermos a sua soberania em todas as coisas, buscarmos a sua glória em todas as coisas, e esforçarmo-nos para obedecer Ele em todas as coisas.
A grande importância desta ordem fica clara quando você se lembra que vocês são constantemente bombardeados com distrações temporais projetadas para fazê-lo esquecer do valor de Deus e dos prazeres da Sua vontade. A menos que você proponha o seu coração a lembrar-se de Deus e usar cada meio a sua disposição para permanecer fiel àquele propósito, você cairá em vaidade e a sua vida será desperdiçada! Considere cuidadosamente o que escrevi. Não estou pedindo que você simples-mente concorde comigo. Estou suplicando para que você PROPONHA em seu coração fixar os seus olhos em Deus como se a sua vida dependesse disso (porque depende) e a ativamente, agressivamente, até violentamente (Mateus 11.12) procurar e usar cada meio ao seu alcance para impedir ser distraído e cair na vaidade desta geração perversa! É importante observar que o pregador de Eclesiastes não só nos ordena a lembrarmos de Deus, mas ele nos diz o tempo mais conveniente para fazer isto - os dias da nossa juventude. Não é bom preparar-se para uma bata-lha no fim da batalha, ou esperar até a última volta da corrida para amarrar o seu tênis. Do mesmo modo, é uma idéia ridícula (encontrada na cabeça de muitos jovens) que devemos adiar viver para Deus até o fim da vida e geralmente depois que boa parte da vida foi desperdiçada. Não seja como o filho pródigo que “caiu em si” só depois de desperdiçar a sua fortuna e a força da sua juventude. Caia em si nos dias do início da sua vida. Estabeleça o seu coração para buscar a Deus agora - para conhecê-Lo, adorá-Lo, servi-Lo, e alegrar-se na bondade dEle. Como alguém mais velho do que você, como um embaixador para Cristo, como se Deus mesmo fizesse um apelo através de mim, peço-o em nome Cristo, não desperdice a sua vida.
“Por que gastar dinheiro naquilo que não é pão, e o seu trabalho árduo naqui-lo que não satisfaz? “Escutem, escutem-me, e comam o que é bom, e a alma de vocês se deliciará com a mais fina refeição.” (Isaias 55:2; NVI).
ESTABELEÇA O SEU CORAÇÃO PARA SEGUÍ-LO
Estou hesitante em usar este tipo de linguagem com você porque temo que você entenderá errado. Para a maior parte dos Cristãos, a admoestação “seguir a Deus ” traz pensamentos de dever, obediência, e ministério, mas essas coisas por elas mesmas somente o deixaram cansado, sem vida e amargurado. Eu já estive neste caminho e eu farei tudo ao meu alcance para livrá-lo dele. Ele leva a um lugar horrível! Quando falo de seguir a Ele, estou primeiramente me referindo a relacionar-se com Sua pessoa; reconhecê-lo e compartilhar com Ele cada experiência; comprometer-se em não se esconder dEle ou deixá-lo fora de algumas áreas da sua vida; ver tudo como sagrado e nada como mundano; permitir que Ele tenha proeminência em cada momento da sua vida, cada pensamento na sua cabeça, cada palavra que provém da sua boca, e cada trabalho que você se esforça em fazer - andar, falar, comer, beber, rir, gritar, trabalhar, jogar - experimentando tudo isto Nele, por Ele, para Ele, e acima de tudo COM Ele! Você percebe como você pode fazer qualquer coisa pelas razões erradas? Você pode ter um ministério pela satisfação pessoal ou pela fama que ele pode trazer. Você pode até crescer em conhecimento e piedade pela reputação que isso pode trazer para você entre outros crentes. Mas é o coração verdadeiro e fiel que busca só estar com Ele pela motivação de estar com Ele! Você pode considerar-me um cristão maduro, que aprendeu muitas coisas, mas eu estive tão errado de tantas formas. E este foi o meu maior erro: eu sempre me esforcei muito para realizar algo, quando eu deveria ter me esforçado muito somente para estar com Ele! Sim, meu caro jovem cristão, você pode até desperdiçar momentos preciosos da sua vida no trabalho de ministério e missões! Lembre-se disto: confinar Deus a um tempo de meditação é grotesco, reduzir o discipulado a somente obediência é patético, e fazer do ministério outra coisa que não a vida de Cristo fluindo do seu íntimo relacionamento com Ele é fazer nada mais que um trabalho estúpido da carne.
LEIA A BÍBLIA
Eis agora uma novidade! Uma das maiores coisas que um jovem cristão pode fazer é a prática de ler a Bíblia sistematicamente de Gênesis a Apocalipse repetidas vezes ao longo da vida. Se você pode, faça assim nas línguas originais que é até melhor, mas eu só conheço um punhado de homens que são capazes de tal coisa, e não sou um deles. A maior parte do conhecimento dos cristãos das Escrituras é muito fragmentado, porque eles só leram partes da Bíblia. Conheci indivíduos que eram brilhantes em certos aspectos de doutrina, mas muito fracos no conhecimento geral da Bíblia. Para evitar este buraco, você deve ler a Bíblia SISTEMATICAMENTE de capa a capa. Ninguém em sã consciência leria um livro de literatura saltando para cá e para lá pelo livro e lendo só certos capítulos. Eles começariam do começo e seguiriam progressivamente pelo livro, capítulo por capítulo, até que eles chegassem ao fim. E ainda assim, muitos poucos cristãos já leram a Bíblia deste jeito! Lembre-se: a Bíblia é a Palavra inspirada e infalível de Deus entregue a nós em forma de livro. Para entendê-la no total e em parte, devemos ler toda ela! Um dos modos mais recompensadores de aprender as Escrituras é escrever as suas reflexões e perguntas enquanto você lê. Cada vez que você passar pelas Sagradas Escrituras você notará isto: você é capaz de responder muitos das suas velhas perguntas e que novas perguntas vieram a mente. Você também será capaz de refinar e clarear muitos das suas reflexões prévias. Desta forma, você aprenderá que a Bíblia é o melhor comentário dela mesma. Uma palavra de alerta: a maior parte de pessoas nunca lê a Bíblia inteira porque eles se desgastam tentando entender tudo, ou tentam escrever um comentário em cada livro. Ofereço duas sugestões: primeiro, não fique atolado. Escreva breves resumos e as perguntas e continue lendo. Em segundo lugar, só escreva aquelas reflexões que Deus colocou sobre o seu coração para lembrar-se. SEJA BREVE! Já temos bastantes comentários para levar à falência cada estudante de seminário na terra! A um cristão jovem, a Bíblia pode parecer incrível. Isto nunca se modificará. A Bíblia é incrível! Ela contém mais verdades sobre Deus do que qualquer homem irá compreender ou obedecer. Ainda assim, é uma magnífica viagem ler por suas páginas e não só aprender, mas ser transformado. O Cristianismo requer que a mente esteja totalmente engajada, mas não apenas ou até principalmente sobre o intelecto. É sobre conhecer Deus de um modo pessoal e íntimo, e ser transformado na semelhança de Seu Filho. Não fique desencorajado! Cada dia que você lê à Palavra de Deus faz com que conseqüentemente você chegue a anos de estudo e uma riqueza de conhecimento bíblico. Cada dia perdido reduzirá o tamanho deste tesouro final.
ORE
Eu divido a minha oração em duas categorias distintas: Oração nos meus sapatos de passeio e oração nas minhas botas de trabalho. A primeira categoria refere-se à comunhão, adoração, e ação de graças. É andar com o Deus como um companheiro presente em todos os momentos, desfrutando de sua companhia, e buscando maiores e maiores manifestações da Sua presença. Este tipo de oração tem um objetivo – conhecê-lo e simplesmente “estar” com Ele. Sem este tipo de oração, todo o conhecimento na sua cabeça nunca será nada mais do que jargões teológicos de segunda mão. Você passará a sua vida inteira falando correta-mente de alguém que você nem sabe quem é e sobre coisas que nunca se tornaram realidades em a sua vida. Ouvi pessoas dizerem que elas não têm um tempo específico com Deus deste jeito, mas eles conversam com Deus durante o dia enquanto eles fazem suas atividades diárias. A minha experiência diz que a capacidade de “praticar a presença de Deus” através do dia e no meio de minhas atividades só são possíveis porque eu separei-me das minhas atividades diárias e busquei a Deus em tempos específicos de oração. Isto parece ter sido a prática do nosso Senhor Jesus Cristo durante a sua encarnação:
“De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus levantou-se, saiu de casa e foi para um lugar deserto, onde ficou orando.” (Marcos 1:35).
A segunda categoria de oração – oração nas minhas botas de trabalho - refere-se à oração intercessora. Não deixe ninguém o enganar. Este tipo de oração é trabalho duro! Não é uma pequena coisa para um homem mortal lutar com Deus (Gênesis 32:24-32) e contra o diabo (Efésios 6:12). Os desafios são altos e tudo é ganho ou perdido neste campo de batalha. Perseveramos em oração para a glória de Deus, a Grande Comissão, e o avanço do Reino (Mateus 6:9-10); perseveramos em oração pela preservação e santificação da Igreja; trabalhamos em oração para cada necessidade e para o cumprimento de cada promessa que Deus deu. Isto pode muito bem ser a tarefa mais sagrada dada a homens! Terminarei o tópico da oração com um conselho que foi muito útil para mim. Foi-me dado por um pregador mais velho, que o recebeu de um pregador ainda mais velho. É algo assim:
“Ore até que você possa orar, e então ore até que você tenha orado.”
Muitas vezes, quando curvamos os nossos joelhos em oração, nós não sentimos a liberdade ou poder para orar. Parece que há um céu de bronze em cima de nós. Isto não deve ser uma causa de desânimo, mas isto deve levar-nos a lutar em oração até que tenhamos “rompido os céus” até Deus. E é então que devemos pôr-nos a orar até que as nossas cargas tenham sido levadas e saibamos que, de fato, oramos.
PROCURE COMPANHEIROS DEVOTOS
Correndo o risco de lhe ofender, eu devo dizer que se você for jovem, há provavelmente muitas coisas tolas ainda amarradas em seu coração (Provérbios 22: 15). Se as maiores influências em sua vida são outros jovens como você, então você é um companheiro de tolos e está andando um caminho perigoso. As Escrituras ensinam uma verdade que pode salvar vidas, mas que é muitas vezes negligenciada hoje:
“Aquele que anda com os sábios será cada vez mais sábio, mas o companheiro dos tolos acabará mal.” (Provérbios 13: 20; NVI)
A idéia de um “abismo entre as gerações” nasceu da contracultura sem Deus da dos anos 60 e foi completa-mente adotada agora pela maior parte de igrejas. A idéia que pessoas jovens têm de estar com outras pessoas jovens é uma direta contradição às Sagradas Escrituras. Embora momentos com outros jovens possam ser tanto agradável como útil, as Sagradas Escrituras ensinam que cristãos jovens têm de estar com os cristãos mais velhos e mais maduros para que eles possam aprender os seus caminhos e evitar as ciladas da juventude e da inexperiência. Segundo as Escrituras, as maiores influências na sua vida devem ser os seus pais, na condição que eles sejam devotos e maduros. Depois deles, é o papel dos anciãos da igreja e de toda congregação adulta modelar a vida cristã para você. Resumindo, você fará bem em rodear-se de homens e mulheres cujo progresso em santificação e serviço a Deus é evidente. Conheça não só os cristãos de nosso tempo, mas também os santos do passado pelos seus escritos e os escritos de outros sobre eles.
FUJA DAS PAIXÕES DA MOCIDADE
Em Efésios 6:10-12, você é ordenado a resistir ao diabo. Em Tiago 4:7 há a garantia que se você resistir a ele, ele fugirá de você. Ainda assim, em II Timóteo 2:22 você é ordenado a fugir das paixões da mocidade. É um tanto assombroso ver que você é ordenado a ser forte, resistir e lutar contra anjos caídos, e ao mesmo tempo, você é ordenado a fugir com medo das paixões da mocidade. Isto demonstra que a paixão da sua carne e a sensualidade desenfreada da sua cultura é mais perigosa do que uma batalha face a face com o diabo. Eu conheço inúmeros jovens cristãos que demonstraram evidências genuínas de conversão, e ainda assim ao entrar em uma relação com o sexo oposto, eles caíram em imoralidade. Eu sei que eles memorizam as Sagradas Escrituras, oram, e até jejuam para serem puros na sua relação, e mesmo assim eles caíram. Por quê? Porque eles não entenderam que todas as disciplinas espirituais das Sagradas Escrituras não poderiam salvá-los das paixões da juventude. Eles tentavam lutar uma batalha enquanto Deus ordenou eles a fugir. Resumindo: Você não pode ficar sozinho em um relacionamento com uma pessoa do sexo oposto durante um período extenso de tempo sem cair. Por isso, vocês nunca devem ficar sozinhos em uma casa, carro, ou qualquer outro lugar onde a luxúria e os desejos podem ser acesos e o fracasso é certo.
ENTREGUE-SE A PROPÓSITOS NOBRES
Eu vejo jovens cristãos na universidade desperdiçando o seu tempo jogando vídeo-game, indo a shoppings e cinemas. Eles deveriam estar buscando objetivos mais nobres! Você foi não comprado pelo sangue do Cordeiro para dar-se a tais coisas. Você foi adotado em uma família real e feitos nobres são esperados de você. Evite o entretenimento despreocupado da idade e se entregue à vontade de Deus. As Escrituras declaram em II Timóteo 2:20-21: “Ora, numa grande casa não há somente utensílios de ouro e de prata; há também de madeira e de barro. Alguns, para honra; outros, porém, para desonra. Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando preparado para toda boa obra.” Você deseja ser um vaso para honra e usado para propósitos nobres? Você deseja ser um instrumento nas mãos do Mestre? Então se livre dos jogos tolos de menininhos e menininhas fúteis, e torne-se o homem ou mulher que você foi chamado para ser. Acredito que foi A.W. Tozer quem disse que na lápide da América seriam escritas as palavras, “Eles se divertiram até a morte”. Isto é um epitáfio patético, quando comparado ao que foi dito sobre o Rei Davi: “ [Ele] serviu ao propósito de Deus na sua própria geração, caiu adormecido, e foi posto junto de seu pais ... ” Que legado você deixará? O que será esculpido na sua lápide? Mais importante, o que irá Deus declarar sobre a sua vida durante o grande Dia do Juízo que o espera? Que Deus possa ter misericórdia de você e conceder-lhe graça para superar de longe o caráter e feitos daquele que lhe está escrevendo esta carta.
Seu irmão, Paul David Washer
 
FONTE: Voltemos ao Evangelho