Não Me Envergonho do
Evangelho
Por R. M. M’Cheyne
“E assim, quanto está em
mim, estou pronto para também vos anunciar o evangelho, a vós que estais em
Roma. Porque não me envergonho do evangelho
de Cristo, pois é o poder de
Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro
do judeu, e também do grego.
Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o
justo viverá pela fé. Porque do céu se manifesta a
ira de Deus sobre toda a
impiedade e injustiça dos homens, que detêm a
verdade em injustiça.”
(Romanos 1:15-18)
1. Onde Paulo desejou pregar:
“Estou pronto para também vos anunciar o evangelho, a vós que estais em Roma”.
Roma era naquele tempo a cidade mais poderosa de todo o mundo. Daniel a
comparou a um animal com dentes de ferro pisando outros reinos com seus pés.
Ela foi chamada de senhora de reinos. Ainda assim, Paulo estava disposto a
pregar ali o E-vangelho. Esta era a cidade mais erudita do mundo. Seus poetas,
pintores, oradores, histo-riadores da época de Augusto, eram famosos por todo o
mundo. Alguns dos exemplares mais perfeitos de composição humana que já foram
produzidos foram publicados em Roma naquele tempo. Era a cidade mais perversa
do mundo. As contaminações que fluíam por suas ruas eram iguais às de Sodoma e
Gomorra. O imperador era um dos monstros mais cruéis que já apareceram na forma
de um homem. Esse foi o lugar onde Paulo desejava ardentemente ser autorizado a
pregar o Evangelho.
2. O que Paulo queria pregar:
“O Evangelho, o Evangelho de Cristo”. Não era para ver Ro-ma que Paulo desejava
estar ali; não era para ver os seus templos, e teatros, e estátuas, as
maravilhas do mundo. Não era para mostrar sua própria eloquência, não era para
anun-ciar uma nova obra, de modo a ganhar a estima e o aplauso do povo Romano.
Foi para pregar o Evangelho, o caminho da salvação pela justiça de Deus.
“Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este
crucificado” [Coríntios 2:2].
3. O que Paulo sentia: “Não me
envergonho do Evangelho de Cristo”. Mais é significado nestas palavras do que é
expresso. Ele não quer dizer apenas que ele não tinha vergonha do Evangelho,
mas que se gloriava nele. É muito semelhante a Gálatas 6:14: “Mas longe esteja
de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”. Duas coisas
estão implícitas: (1) Que ele não se envergonhava do Evangelho diante de Deus.
Ele arris-cou sua própria alma neste caminho da salvação. Ele poderia dizer,
como Davi: “Pois toda a minha salvação e todo o meu prazer está nele” [2 Samuel
23:5]. O caminho da salvação pelo Senhor Nossa Justiça é doce para Paulo. Sua
alma descansou ali com grande prazer. Issuu.com/oEstandarteDeCristo
Ele esteve assim diante de Deus em secreto; assim, em
público; assim ao morrer. Ele espe-rava estar diante de Deus por toda a
eternidade vestido em justiça Divina. (2) Que ele não se envergonhava do
Evangelho diante dos homens. Embora todo o mundo estivesse contra ele, Paulo se
glorificaria neste caminho da salvação. Ele tinha um desejo ardente de fazê-lo
conhecido aos outros homens. Ele o sentia tão docemente, ele viu que ele é tão
glorioso, que desejaria ter uma voz tão alta que todos os homens pudessem
ouvir, de uma vez, o caminho da salvação por Cristo.
Homens
poderiam rir da ideia de um pobre verme como Paulo dominar a poderosa Roma com
algumas palavras de seus lábios; mas Paulo viu tal poder Divino no Evangelho e
por isso não se envergonhava dele. Ele sabia que o Evangelho poderia quebrar o
coração mais duro, e unir o mais quebrantado. Os homens cultos de Roma poderiam
rir das palavras da-quele tagarela; mas Paulo viu tal sabedoria no Evangelho,
que toda a sabedoria humana parecia absoluta loucura ao lado dele. A maldade de
Roma alcançou o céu, esta era uma fumaça contínua nas narinas de Deus, um fogo
que queimava todo o dia; mas Paulo sabia que a justiça de Deus poderia cobrir o
pecado de mil Romas. Ele o viu ser tão vasto, tão imenso, tão gratuito, tão
infinitamente glorioso, tão divino, que poderia fluir mais e cobrir os pecados
do maior pecador em Roma.
I. Razões pelas quais os homens mundanos
envergonham-se do Evangelho.
1. Porque é
loucura: “Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os
ju-deus, e loucura para os gregos” (1 Coríntios 1:23). “Ora, o homem natural
não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não
pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Coríntios 2:14).
Homens não-regenerados não podem compreender o caminho da salvação pela justiça
de outro. Isso parece um plano tolo. Eles não acreditam de forma alguma que
isso esteja na Bíblia. Que um homem entre no Céu por suas boas obras, eles
conseguem entender, isso é agradável para o orgulho do coração natural; ou que
Deus se esqueça de punir o pecado, e admita maus e bons ao Céu, eles podem
compreender isso. “Pensavas que era tal como tu” [Salmos 50:21]. Mas que um
pe-cador deva ser coberto com a justiça de outro, que ele deva ter os
sofrimentos e vida santa de outra Pessoa colocada em sua conta, de forma a
apagar todos os seus pecados, isso é loucura total para os homens mundanos. Por
isso que muitos de vocês se envergonham do Evangelho de Cristo. Vocês têm
vergonha de ouvi-lo pregado: quando ele é claramente definido diante de vocês,
vocês o desprezam em seu coração. Vocês têm vergonha dele diante de Deus. Vocês
não vão ao Pai por este caminho. Vocês não entram no santuário pelo sangue de
Jesus. Vocês não entram culpados e repugnantes em si mesmos, confiando apenas
na obediência dEle. Vocês têm vergonha dele diante dos homens, envergonham-se
de afirmá-lo para os seus filhos e servos como a única forma de perdão e
aceitação. Issuu.com/oEstandarteDeCristo
2. Devido ao mensageiro. Certa vez, quando Jesus estava
pregando em Seu próprio país, disseram: “Não é este o carpinteiro, filho de
Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão? e não estão aqui
conosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele” (Marcos 6: 3). Quando Pedro e
João estavam diante do Conselho Judaico, é dito: “informados de que eram homens
sem letras e indoutos” (Atos 4:13). Quando Paulo pregou em Atenas, eles
disseram: “Que quer dizer este paroleiro?” [Atos 17:18]. Em Corinto eles
disseram: “a pre-sença do corpo é fraca, e a palavra desprezível” (2 Coríntios
10:10). Assim ainda é. Temos este tesouro em vasos de barro. Cada ministro que
eu conheço tem algum defeito doloroso sobre ele. Homens ímpios sempre tropeçam
com isso, e se envergonham do Evangelho por causa da fraqueza daqueles que o
carregam.
3. Porque eles
odeiam a sua santidade. Aqui está a principal razão por que os homens
não-regenerados têm vergonha do Evangelho, a saber, ele é um Evangelho
santificador. Ele não permitirá que os homens vivam em seus pecados Se Cristo
viesse salvar os homens em seus pecados; arrebatá-los do inferno, e deixá-los
desfrutar de suas paixões, os homens não-regenerados aclamariam o Evangelho.
Mas Jesus é um Salvador santo. “O qual se deu a si mesmo por nós para nos remir
de toda a iniquidade, e purificar para si um povo seu” [Tito 2:14]; “Porque ele
salvará o seu povo dos seus pecados” [Mateus 1:21]. Ele primeiro cobre a alma
com as Suas vestes brancas, então, faz a alma gloriosa interiormente; restau-ra
a imagem perdida de Deus, e enche a alma com santidade pura, celestial. Homens
não-regenerados dentre vós não podem suportar isso. O bêbado no meio de vós
diz: “Oh! Ele me levará para longe da taberna”; o blasfemo: “Oh! Ele retirará
minhas queridas impreca-ções”; o sensual: “Ele me fará casto e puro”. Daí a
vossa malignidade contra o Redentor; por isso, vocês não veem nenhuma beleza
nem formosura nAquele que é totalmente dese-jável. Vocês envergonham-se do
Evangelho de Cristo.
II. Razões pelas quais os crentes
gloriam-se no Evangelho de Cristo.
1. Devido ao
seu poder: “É o poder de Deus para a salvação”. Para homens ímpios nada parece
mais fraco e impotente do que o Evangelho. Eles o consideram como os genros de
Ló consideraram seu aviso solene: “Foi tido porém por zombador aos olhos de
seus genros” [Gênesis 19:14]. Ele parece um conto ocioso; a fábula de uma velha
senhora; mas é, na realidade, “o poder de Deus para a salvação”. O Evangelho é
uma arma incrível quando Deus exerce o Seu poder: “Porque as armas da nossa
milícia não são carnais, mas sim po-derosas em Deus para destruição das fortalezas”
[2 Coríntios 10:4]. Quando Deus maneja o Evangelho, ele é poderoso para
despertar os corações mais duros. Paulo sentiu isso em sua própria experiência.
Ele foi um fariseu orgulhoso, hipócrita, blasfemo, perseguidor e injuriador.
Você diria: Nada no mundo pode despertar aquele homem. Jesus revelou-Se a Issuu.com/oEstandarteDeCristo
ele, e ele foi ao chão, tremendo e atônito. Assim ele o viu
em outros; em Lídia, e no carcerei-ro; em Sérgio Paulo, procônsul de Chipre:
“creu, maravilhado da doutrina do Senhor” (Atos 13:12). “O poder de Deus para
salvação!”. Não o poderoso braço de Deus para destruir, mas Seu braço poderoso
para salvar. Ele sabia que ele teria o mesmo poder sobre todo o que cria, seja
judeu ou grego. O coração obstinado do judeu, e o coração orgulhoso do gre-go,
ambos seriam quebrados sob a lâmina afiada do Evangelho.
Não admira que
Paulo foi tão corajosamente a Roma, quando ele tinha tal arma na mão. Ele sabia
que os corações dos Romanos eram duros como diamante, orgulhosos como Lú-cifer,
e cheios de luxúrias como o inferno está cheio de espíritos imundos; ele sabia
que Satanás tinha aquela cidade orgulhosa em seus braços; ainda assim, ali
havia um poder — a verdade simples como é em Jesus — pela qual Deus poderia
abater o mais orgulhoso e mais endurecido, levá-los a sentarem-se aos pés de
Jesus, vestidos e em seu perfeito juízo. Isso é o que nos habilita a continuar
a pregar no meio de vós. Agora, eu tenho alguma expe-riência da dureza dos
vossos corações, e que é mais fácil criar um mundo do que converter uma de
vossas almas; mas o Evangelho é “o poder de Deus”, e eu não me desespero sobre
a conversão de qualquer um de vocês. Deus é capaz de fazê-lo através deste
poderoso Evangelho: “Porque para Deus nada é impossível”.
Oh, irmãos! você
já sentiu o poder do Evangelho? Será que o Evangelho chega a você não apenas em
palavras, mas em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza? Ele quebrou
seu coração, e o refez? Poderoso Evangelho! Só ele pode salvar. Pecador
despertado! o Evangelho é “o poder de Deus para salvação de todo aquele que
crê”. Embora você tenha os pecados do judeu e do grego, há o suficiente em
Jesus para apagar todos eles. Embora seu coração seja duro, Deus é capaz,
através deste poderoso Evangelho, de conquistá-lo.
2. Devido a
justiça de Deus revelada nele. Esta razão brota da anterior. É o poder de Deus:
“Porque nele se descobre a justiça de Deus”. É esta a justiça que lhe dá todo o
seu poder; o torna tão atrativo aos pecadores — apaziguando assim a consciência
perturbada. “A jus-tiça de Deus” é exatamente os sofrimentos e obediência do
Senhor Jesus, que era Deus, oferecido gratuitamente para salvar pecadores. Os
sofrimentos de Cristo, desde a manje-doura de Belém até a cruz do Calvário,
foram todos os sofrimentos de Alguém que era Deus: “Porque um menino nos
nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se
chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade,
Príncipe da Paz” [Isaías 9:6]; “Ó espada, desperta-te contra o meu pastor, e
contra o homem que é o meu companheiro, diz o Senhor dos Exércitos” [Zacarias
13:7]. O sangue de Cristo é chamado de o sangue de Deus (Atos 20:28). Foi isso
que deu valor infinito aos sofrimentos de Cristo. [...]. A obediência de
Cristo, desde a infância até a morte, foi toda a obediência de Alguém que era
Deus. Sua vontade Divina concordou com Sua Issuu.com/oEstandarteDeCristo
santa vontade humana em cada ato de obediência. Sua
obediência aos pais é a obediência de Deus; Suas orações eram as orações de
Deus; Suas lágrimas, as lágrimas de Deus; Se-us santos pensamentos, os
pensamentos de Deus; Suas santas ações, as ações de Deus — toda a Sua
obediência é Divina. Há perfeição Divina nEle. Ele tem a plenitude e
excelên-cia Divina que nenhuma outra obediência já teve, ou pode ter, é “a
justiça de Deus”. Isto é o que se revela no Evangelho — oferecido gratuitamente
a toda criatura, para apagar o pecado, e justificar diante de Deus.
Foi isso o que
animou os braços de Paulo. Ele sabia que estava trazendo esta gloriosa jus-tiça
à visão dos pecadores. Embora os homens de Roma estivessem cobertos até o céu
com inúmeros pecados; ele sabia que esta gloriosa justiça era suficiente para
apagá-los completamente.
Ó irmãos! é
isso que passamos a oferecer-lhes no dia de hoje; uma justiça tão grande que é
capaz de vestir-lhe Divinamente. Para cada pecado de vocês aqui, há uma ferida
em Jesus. Pelos pecados da infância, aqui estão os sofrimentos de Sua infância;
pelos pecados da juventude, aqui estão os sofrimentos de Sua juventude; pelos
pecados da maturidade, aqui estão os sofrimentos de Sua maturidade. Para a sua
infinita desonra feia à Lei de Deus, aqui está a honra infinita feita à Lei.
Sua obediência é obediência Divina. Pela sua vida profana, aqui está a Sua vida
Divinamente santa para cobri-lhes. Aqui estão Seus pen-samentos Divinamente
santos para cobrir seus pensamentos impuros; aqui estão as Suas santas
palavras, para cobrir as suas palavras profanas; Suas santas ações, para cobrir
suas ações profanas.
Há algo
infinitamente vasto e glorioso na justiça de Deus. Quando o dilúvio cobriu a
terra, ele cobriu as montanhas mais altas. Olhando de cima para baixo, e nenhum
topo de monta-nha poderia ser visto, a não ser um vasto mundo de águas; uma
vasta planície refletindo os raios de sol. Assim, se vocês neste dia
inclinarem-se sob a justiça de Deus, as montanhas de seus pecados não serão
vistas, mas apenas a grande vasta, profunda e gloriosa justiça do seu Deus e
Salvador. Se vocês jogassem uma pedra na parte mais profunda do oceano, ela
seria perdida e engolida pelas profundas ondas do oceano; semelhantemente,
quando um pecador é lançado para baixo, sob a justiça de Deus, ele é como que
absorto e imerso em Cristo.
A justiça
descoberta no Evangelho é muitíssimo gratuita: “de fé em fé”! O significado
disso é que ela é recebida pela fé. Ainda que alguém oferecesse todos os bens
de sua casa pela Sua justiça de Deus, certamente o desprezariam. É “sem
dinheiro e sem preço” [Isaías 55:1]. Cristo oferece-Se livremente para cada um
de vocês, para ser Jeová vossa Justiça.
Via o Estandarte de Cristo
Via o Estandarte de Cristo
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