terça-feira, 19 de janeiro de 2016





Fui novamente cativado pela história de Davi contra Urias (assassino) e Bete-Seba (adultério), bem como pela relação de Deus em 2 Samuel 11 e 12. Davi reconheceu que o autor de tais ofensas merecia a morte (2 Sm. 12.5). Contudo, o profeta Natã lhe disse no final: "Também o Senhor te perdoou o teu pecado; não morrerás" (2 Sm. 12.13). Isto é graça admirável. Deus perdoa o pecado e remove a penalidade da morte. 

Embora o pecado tenha sido perdoado e removida a sentença de morte, Natã disse: "Mas, posto que com isto deste motivo a que blasfemassem os inimigos do Senhor, também o filho que te nasceu morrerá." (2 Sm. 12.14). Apesar de haver perdão, ainda permanece alguma "penalidade" por causa do pecado. Destaquei o vocábulo penalidade porque acredito que temos de distinguir as consequências do pecado perdoado (v. 13) das consequências do pecado não perdoado. Estas são adequadamente chamadas de penalidades; aquelas deveriam ser chamadas de "consequências disciplinares". Ou seja, estão relacionadas ao pecado e refletem o desprazer de Deus para com este, mas não têm como alvo a justiça equitativa. O objetivo das consequências do pecado não é acertar as contas exigidas por uma penalidade justa. 

É para isso que existe o inferno. Existe um julgamento cujo propósito é vindicar o direito por meio da restituição do erro, estabelecendo, assim, a equidade no reino de Deus, um reino de justiça. A crus faz isso para aqueles que estão em Cristo. A maldição que merecíamos foi lançada sobre Cristo, na cruz, se cremos nEle (Gl 3.13), mas recairá sobre nós, o inferno, se não cremos nEle (Mt 25.41). "A mim me pertence a vingança, eu é que retribuirei, diz o Senhor" (Rm 12.19).

Se Deus perdoa o pecado e, conforme aconteceu com Davi, os trata como merecedores de punição, isto é apenas um misericordioso adiantamento na retribuição. Ou o pecado é corrigido na cruz, conforme Paulo disse em Romanos 3.25, ou o será no "dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus" (Rm 2.5).

No entanto, o alvo das consequências do pecado perdoado, as quais são enviadas por Deus, não é acertar as contas exigidas pela penalidade da justiça. Os alvos dessas consequências são: 1 - demonstrar a excessiva malignidade do pecado; 2 - mostrar que Deus não trata com leviandade o pecado, mesmo quando deixa de lado a punição; 3 - humilhar e santificar o pecador perdoado.

Hebreus 12.6 nos ensina que "o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe". O propósito não é penalizar, e sim purificar. "Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade. Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados,fruto de justiça" (Hb 12.10-11).

Nem toda dor da disciplina ordenada por Deus resulta diretamente de algum pecado que cometemos, mas todas as dores são designadas para o nosso bem como pecadores perdoados. É imensamente importante que ensinemos isso num tempo em que existe desequilíbrio de ênfase na ternura perdoadora do Pai e exclusão da severidade perdoadora do Pai. Por isso, muitas pessoas não têm quaisquer parâmetros para lidar com as consequências do pecado em suas vidas, exceto o de subestimar a preciosidade do perdão ou o de acusar a Deus de castigo duplo em punir o que já foi perdoado. 

Pelo poder da verdade e do Espírito, temos de aprender a nos deleitarmos na graça de Deus, no perdão dos pecados. Não devemos igualar o perdão à ausência de consequências dolorosas. A vida de Davi é uma ilustração vívida desta verdade. 

_________________________________________________________________________________

Por: John Piper
Livro: Uma Vida Voltada para Deus
Editora Fiel 
    

Nenhum comentário:

Postar um comentário