segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

SIM!!! Romanos 9 é a Kryptonita dos defensores do livre-arbítrio.

SIM!!! Romanos 9 é a Kryptonita dos defensores do livre-arbítrio.

    O Pr Ciro Sanches nesse dia 31 de agosto escreveu uma resposta sobre a "Kryptonita dos arminianos e semi-pelagianos (os defensores do livre-arbítrio)" mencionada pelo Pr Marcos Granconato em um debate, onde o mesmo se referia ao texto de Romanos 9. Segundo Ciro, esse texto não é suficiente para poder rechaçar a doutrina que defende haver uma livre escolha humana na salvação. Por que não? segundo ele os que se opõe ao livre-arbítrio usam versículos isolados e fazem uma interpretação errônea do texto. Será?

    A primeira acusação de uso isolado vem do texto de Romanos 9:16. Segundo Ciro os oponentes da doutrina do livre-arbítrio usam de modo isolado esse texto com o fim de defender sua visão. Ele diz:

"Os oponentes da doutrina do livre-arbítrio apegam-se, sobretudo, a frases isoladas de Romanos 9, como a do versículo 16: “Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece”. De fato, essa passagem, isoladamente, parece sugerir que Deus ignora a livre-escolha humana." 

     No capítulo 9:14-18 Paulo está respondendo ao seu interlocutor uma suposta objeção sobre a injustiça da parte de Deus por ter rejeitado Israel, Paulo responde de forma negativa:  "De modo nenhum!" esse pensamento é tão intolerável que deve ser rejeitado de forma rude. No vers. 15 Paulo apela para as Escrituras do AT para responder a indagação a respeito da Justiça de Deus. Ele cita o texto de Êxodo 33.19. uma reposta Divina a solicitação de Moisés "Rogo-te que me mostre a tua Gloria" (Ex 33.18). como ressalta John Murray:

       
    "O favor demonstrado a Moisés é confirmado como procedente da Misericórdia soberana de Deus. Nem o próprio  moisés nem o povo de Deus com ele, podiam reivindicar para si mesmo qualquer favor Divino; porquanto tudo era uma questão que dependia da escolha e da outorga gratuita da parte de Deus."  

      Segundo Murray o termo ὃν ἄν "Não é bem expresso em português pela tradução "a quem lhe apraz", deveria ser traduzida por " a quem quer que lhe apraz". ressaltando a soberana e livre escolha de Deus." O aspecto mais importante do vers. 15 é este: em apoio a negativa " de modo nenhum!", no vers. 14, a misericórdia de Deus  não é uma questão de justiça para com aqueles que participam dela, pois tudo depende da livre e soberana graça Divina."

    Consideremos por um instante que a interpretação do Pr. Ciro esteja correta, em que a eleição seja algo apenas no modo coletivo e não em particular (o que pretendo tratar mais adiante), mesmo assim a eleição jamais dependeria de uma livre escolha de uma certa nação para ser eleita, como vimos, isso também dependeria da soberana graça de Deus em eleger tal nação. de cara, a ideia de livre-arbítrio cai por terra.

    Em fim chegamos ao vers. 16. Considerando a verdade afirmada no contexto, fica claro a intenção de Paulo nesse vers.  se Deus tem misericórdia de quem quer que lhe apraz, logo: " não depende de quem quer ou de quem corre" mas de Deus usar a misericórdia mencionada no contexto.  Podemos ver então que o contexto só reforça a ideia de que qualquer ênfase de uma determinação humana deve ser totalmente excluída.

QUEM SÃO ENTÃO OS VASOS DE IRA??

     Outra acusação de uso do texto isolado é o ver. 21 e 22 do romanos 9. Ciro diz:

      "Outras frases de Romanos 9 empregadas fora do seu contexto para “refutar” a doutrina do livre-arbítrio estão nos versículos 21 e 22: “Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou os vasos da ira, preparados para perdição”. Entretanto, quando a Palavra de Deus menciona a analogia dos vasos, a ênfase recai no fato de que, de acordo com a nossa resposta moral a Deus (cf. 2 Tm 2.20,21), o vaso poderá ser moldado ou desfeito nas mãos do Oleiro, como foi o caso de Israel (Os 8.8, ARC)."

    logo após ele usa o texto de Jr 18 para reforça sua ideia de que os vasos de ira não são indivíduos e sim uma nação, e que a rejeição vem por que tal nação se recusa a se arrepender e assim permanece no pecado. O problema é que Paulo não tem em mente o texto de Jr 18 mas sim o de Is 45.9 que diz: " Ai daquele que contende com o seu criador! E não passa de um caco de barro entre os outros cacos. Acaso dirá o barro ao que lhe dá forma: Que fazes? Ou: a tua obra não tem alça" Esse texto não se refere a uma nação, mas sim a um individuo que contende com o seu Criador. Nesse mesmo tópico o Pr. Ciro faz outra afirmação:

    "Segue-se que os vasos da ira são objetos da ira divina porque se recusam a se arrepender. Daí o fato de Deus suportá-los com longanimidade (Rm 9.22), isto é, esperar pacientemente por seu arrependimento (2 Pe 3.9)."

    Segundo ele, os vasos de ira são objetos da ira Divina por que se recusam a se arrepender. concordo com ele até certo ponto, por que ele diz que o meio para estes recusarem o arrependimento é o livre-arbítrio e não a condição pecaminosa a qual os homens estão entregues ( Ef 2.1). Os homens recusam a se arrependerem pois são "homens de dura servis e de duros coração (At 7:51)" por natureza, "tanto judeus como gregos estão debaixo do pecado, de modo que não há um justo se quer, quem entenda e quem busque a Deus (Rm 3:9-10)." Então o meio para os vasos de ira recusar o arrependimento é a sua natureza caída e depravada, e não seu "livre-arbítrio", pois após a queda, todos os sentimentos, desejos e vontades foram afetados pelo pecado, de tal modo que até o arbítrio ficou escravo das vontades pecaminosas , sendo escravo não pode ser livre. O texto de Rm 9:22 e o de 2 Pe 3:9
embora os dois fale de um atributo de Deus, a saber sua longanimidade, abordam propósitos diferentes. Em Rm 9:22 o propósito é mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, em 2 Pe 3.9 o propósito é que nenhum dos teus se perca, embora o evangelho seja pregado universalmente, somente aqueles que o Pai levar e quem pode ir a Cristo (Jo 6:37). Sobre isso Calvino em seu comentário de 2 Pe 3:9 disse:

  "Pois Deus ali estende sua mão a todos sem qualquer diferença, PORÉM segura, para atrair a si, somente aqueles quem escolheu antes da fundação do mundo"
  
POR QUE DEUS AMOU A JACÓ E ABORRECEU ESAÚ?

    Segundo o Pr Ciro, o texto de Rm 9 dos vers. 11 a 13, não se refere a uma eleição incondicional de indivíduos e sim de uma eleição corporativa e condicional, ele diz:

    "[...]Em primeiro lugar, o apóstolo Paulo não está falando de indivíduos! Jacó (Israel) e Esaú (Edom) representam duas nações. Basta lermos com atenção Gênesis 25.23 para chegarmos a essa conclusão: “E o Senhor lhe disse: Duas nações há no teu ventre, e dois povos se dividirão das tuas entranhas, e um povo será mais forte do que o outro povo, e o maior servirá ao menor”.
   
    É bem verdade que no vers. 13 Paulo não trata de indivíduos e sim de dois povos, uma nação rejeitada e uma nação eleita, mas o que Paulo tem em mente com nação eleita é um Israel espiritual (Gl  6:16), a saber a igreja, o corpo de Cristo (Ef 1:23). Por isso ele ressalta: " Nem todos os de Israel, são de fato, Israelitas (vrs 6)". ou seja, nem todos os de Israel são eleitos. Asim como um corpo é feito de membros uma nação é feita de indivíduos, e uma nação eleita (Israel espiritual) só pode ser composta por indivíduos eleitos. Deus soberanamente elegeu cada indivíduo que fará parte do corpo de Cristo, ele não apenas predestinou o corpo, mas também cada membro desse corpo (1 Co 12:18, Ef 1: 4,5). Essa eleição não é com base no livre-arbítrio e sim segundo o propósito de Deus - "E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus segundo a eleição, prevalecesse, NÃO POR OBRAS [qualquer tipo de ação humana], mas por aqueles quem Deus chama (vrs. 11)."  No entanto, Deus elege indivíduos de cada nação do mundo, para poder fazer parte de uma nação eleita segundo o seu propósito, "Os quias não nasceram do sangue [segundo a descendência humana],  nem da vontade da carne [qualquer esforço humano], nem da vontade do homem [mediação humana] , mas de Deus [propósito soberano, segundo a eleição] (Jo 1:13)."

  Quanto a questão do ódio de Deus a Esaú Ciro diz:

"Outrossim, o ódio de Deus a Esaú (Edom) precisa ser entendido de acordo com o sentido original da palavra usada para “odiei” (ou “rejeitei”), que, no hebraico, significa “amar menos”. Trata-se do mesmo termo aplicado ao sentimento de Jacó por Léia, inferior ao que nutria por Raquel: ele amava muito esta e “desprezava” aquela (Gn 29.30,31)."

  Lembrando que o texto que Paulo tem em mente é o do Ml 1:,2. O contexto de Ml 1:1,2 é de juízo, castigo e indignação "...Odiei a Esaú, e fiz seu monte uma desolação...eles edificarão eu  porém destruirei." Então podemos concluir que "amou menos" não justifica Ml 1:3 e nem Rm 9.13. Pois estas passagens são referentes a nada mais do que condenação.

COMO ENTENDER O ENDURECIMENTO DE FARAÓ

   Nesse último tópico, Ciro usa o argumento de que não foi Deus quem primeiro endureceu o coração de faraó, mas o próprio faraó em quem obstinou em coração, Paulo não tem em mente o texto de Ex  7:13,14 e 22 como cita ele,  mas sim o texto de  Ex 9:16 que ressalta que Deus não apenas endureceu como manteve o coração de faraó endurecido afim de mostrar seu poder. Ele usa o texto de Ex 8:15 com o fim de provar que é o próprio faraó é quem endureceu pelo seu livre-arbítrio. Isso seria possível se não houvesse nenhum texto afirmando quem está por trás desse endurecimento do coração de faraó, o causador desse endurecimento não foi ninguém além do próprio Deus como diz Ex 4:20 " ... Mas Eu endurecerei o seu coração, e ele [faraó] não deixará o povo ir."

  Ciro por fim diz: 

"Finalmente, considerando que o termo hebraico usado para “endurecer” denota “fortalecer”, Deus apenas “fortaleceu” o desejo que já estava no coração de Faraó. Não foi Ele quem desejou que Faraó fosse obstinado, mas apenas o abandonou às suas paixões infames e o entregou a um sentimento perverso (Êx 8.15)..."  
  
   Apesar de concordar que o coração de faraó já é duro por natureza, o texto de Ex 4:20 e o do Rm 9:17  deixa claro que Deus não apenas fortaleceu mas ele próprio levantou a faraó e endureceu seu coração com um propósito X. No vers. 18 do cap. 9 de Romanos Paulo deixa claro que Deus endurece quem lhe apraz. 


  Concluímos então que o texto de Romanos 9 joga por terra qualquer possibilidade de livre-arbítrio na salvação, qualquer tipo de sinergismo é descartado a luz desse texto, não deixando brecha alguma para qualquer tipo de colaboração humana na salvação, pois é Deus quem escolhe, leva a Cristo e preserva até o dia do Senhor os teus Eleitos.

Ps: Esse texto não foi escrito para desmerecer a pessoa do Pr. Ciro Sanches, nem dos demais irmãos que compartilham da mesma ideia dele.

Em Cristo.

Hugo Ciel
Brasília 1 de setembro de 2015
Via Blog da Rô

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