sábado, 31 de outubro de 2015

Reforma Protestante e a Igreja de Hoje

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Por Kenneth Wieske

Em 31 de outubro de 1517 o monge Martinho Lutero que era Doutor e Professor na Universidade de Witemberg, na Alemanha, afixou uma lista de 95 teses na porta da Igreja com o propósito de serem analisadas e discutidas. Isso trouxe uma grande reação no mundo eclesiástico da época e deflagrou a Reforma Protestante do século XVI. 

O que foi a Reforma Protestante? O que ela significa? Até os não religiosos têm conhecimento do fato, visto que trouxe grande influência não só na Europa, mas em todo mundo. A Reforma significa que a Igreja passou por uma restauração onde o clímax foi o retorno à Palavra de Deus. Podemos dizer que o ponto alto da Reforma foi o retroceder de uma igreja desviada da Palavra de Deus para os caminhos da verdade. Não foi algo semelhante a uma simples reforma de uma casa. Não foi também uma simples mudança estética ou a introdução de algumas novidades porque a Igreja precisava de coisas mais atuais. Muitos entendem “Igreja reformada, sempre reformando” como a introdução de novidades, inovações, na vida da Igreja. A Reforma foi uma volta à Palavra de Deus. Na essência não somos Luteranos, não temos oficialmente um nome de um homem – Calvinista – apesar da grandeza de Calvino, mas somos Reformados. Por quê? Porque somos a igreja de Cristo, a noiva de Cristo, a Igreja que sempre existiu e existirá. Somos uma Igreja que experimentou o processo de voltar à Palavra de Deus.

Somos a Igreja Católica que significa universal, a Igreja de Cristo em todo mundo. É uma Igreja que se livrou das doutrinas e acréscimos dos homens e voltou para a Palavra de Deus. Temos vários nomes: Igrejas Presbiterianas, Igrejas Reformadas... As igrejas Presbiterianas vieram da Escócia e Inglaterra, enquanto que as Reformadas vieram da Europa Continental como Holanda, Suíça, etc. As Igrejas Presbiterianas não têm um nome de um homem, como dissemos acima (por exemplo, “calvinistas”), mas este nome foi tirado do seu sistema de governo e isso é até uma confissão de fé. É Presbiteriana porque não é uma Igreja hierárquica, episcopal, papal, onde existe um papa que manda em tudo. A Igreja Presbiteriana é uma Igreja que voltou para a Palavra de Deus; tem a doutrina Reformada, sua Confissão é Reformada e seu sistema de governo é bíblico. As autoridades locais são os presbíteros que governam e não há forte distinção entre pastores e presbíteros, pois todos são presbíteros: os docentes e os regentes. Esta Igreja enfatiza o governo exercido por presbíteros e não por um “papa”. Mas é vergonhoso existirem Igrejas Presbiterianas que não estão praticando o que o nome diz (Presbiterianismo) e estão colocando novamente um tipo de “papa” (um homem só) que está mandando em toda a Igreja.

Hoje existem muitas Igrejas Presbiterianas liberais, que têm se voltado para uma hierarquia episcopal, papal. Não estão respeitando suas raízes. É claro que existem também Confederações de Igrejas Reformadas que estão desviadas da verdade e são liberais.

Como era a situação há 500 anos? Era uma situação terrível e triste porque o homem vivia sob o medo; só conseguia ver um Deus irado, enraivecido, que ditava castigos e julgamentos sobre a terra. Já no século XIV houve a peste bubônica que matou dezenas de milhares de pessoas e até o século XVI, milhares de pessoas passaram por muitos sofrimentos, aflições, catástrofes. A igreja se aproveitou disso para ensinar sobre um Deus carrasco que, irado, bradava com o povo exigindo arrependimento. Mas o povo não tinha a Bíblia para entender quem é Deus e como Ele se revela na Sua Palavra. O povo só tinha o que o padre dizia em latim, na missa (um ritual apenas). Isso levou as pessoas a ficarem ignorantes da Palavra e a consequência foi um povo extremamente supersticioso, vivendo numa atmosfera de medo, onde havia muitas referências de ameaças sobre o inferno, purgatório, pecado e a ira grotesca de Deus. As pessoas ficavam tremendo com a visão de um Deus iracundo. Muitas coisas eram vistas como algo demoníaco; viam-se bruxas e vultos em todo lugar. Foi um período de muita superstição e não havia a luz da Palavra de Deus. O Salmo 119 se refere à Palavra como uma luz, e essa luz faltava nessa época. Por isso o povo andava nas trevas, obscurecido, confuso, perdido e triste. Sem essa luz, as pessoas não tinham uma regra de fé e prática; não sabiam como fiscalizar o que os padres nas igrejas estavam dizendo. Os padres, bispos, cardeais e o papa podiam inventar qualquer coisa e afirmar que aquilo era o que Deus dizia. Na época, não era só a Palavra de Deus que era autoridade, mas especialmente a tradição da Igreja (Deus falava através da Igreja). Portanto, qualquer coisa que o Papa imaginasse isso era colocada como doutrina.

A igreja se aproveitou da situação para roubar o povo. Aproveitou-se do medo para roubar o povo usando como pretexto ensinos como purgatório, inferno, um Deus enraivecido, e, então, os clérigos conclamavam que dessem dinheiro para a Igreja, para Deus, e Ele receberia estas pessoas caridosas. Dessa forma a Igreja conseguiu construir grandes catedrais e os bispos e cardeais ficavam cada vez mais ricos e o povo mais pobre. Foi nesta época que o padre João Tetzel teve uma missão especial. Ele ia por todos os lugares falado “em nome de Deus e do Papa” dizendo: “Venham comprar este pedaço de papel, um documento que garante perdão a todos os seus pecados e, assim, terão acesso ao céu. Além disso, poderão comprá-lo para toda família e para pessoas que até já morreram. Se você gostava muito de seu avô que já morreu, isso poderá livrá-lo do purgatório”. Primeiro ele pregava sobre o purgatório, o inferno e do irmão de alguém que poderia estar sofrendo muito no fogo. Depois ele oferecia este documento chamado de indulgência e num momento, quando a moeda caísse dentro da caixa, a alma dos mortos pularia do purgatório para o céu. Todos queriam comprar este papel de João Tetzel para ter a garantia de que seus pecados e de seus familiares estavam perdoados, inclusive os que já haviam morrido. Assim, depois de receberem o perdão, poderiam viver de qualquer forma, fazendo o que desejavam, porque já haviam comprado o perdão e a salvação.

Lutero, vendo isso ficou irado, pois tudo era completamente contrário à Palavra de Deus. A Igreja estava tratando o arrependimento com um ato e não como um estilo de vida. Essa diferença é importante. A Bíblia na época era escrita em latim e o povo não tinha acesso a ela. É verdade que os pastores e pregadores sempre precisaram saber as línguas originais. Por isso os pastores reformados, em todo mundo, estudam as línguas originais para evitar basearem seus estudos apenas numa tradução. Em Mateus 4:17, lemos: “Daí por diante passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus”. A expressão “arrependei-vos”, na versão latina (latim), é: “fazei penitência”. Então, a Igreja, sem olhar com cuidado o que isso significava, entendia que os filhos de Deus deveriam fazer alguma coisa (penitência) para cobrir seus pecados. Assim, o arrependimento tornava-se um ato. Você peca e depois faz penitência. Ora o Pai Nosso, reza a Ave Maria, dá algum dinheiro, faz caridade ou outras coisas semelhantes. Mas, Lutero tomou a Bíblia no grego, uma obra do erudito Erasmus de Roterdã, e viu que não era “fazei penitência” e sim “arrependei-vos ou convertei-vos”. O verbo não significa um ato de fazer alguma coisa, mas “humildemente tenha uma mudança de mente e de coração”. Por isso, em suas 95 teses, Lutero colocou como a primeira tese: “Nosso Senhor e mestre Jesus Cristo, em dizendo, arrependei-vos, afirmava que toda a vida dos fiéis deve ser um ato de arrependimento”. Então, essa mudança de mente e de coração deve se manifestar numa vida de santificação. Isso tinha consequências importantes e práticas.

Vejamos o que Lutero estava denunciando no ponto 45 e 46 das suas teses.
“Deve ensinar-se aos cristãos: um homem que vê um irmão em necessidade e passa de lado para dar o seu dinheiro para compra dos perdões, merece não a indulgência do Papa, mas a indignação de Deus” (45). 

As pessoas pensavam que para tirar o pecado e a culpa tinham de fazer alguma coisa para Deus. Diziam: “Se for assim, eu vou dar dinheiro para Deus e receber um documento que me absolve, uma indulgência. Dessa forma posso adquirir perdão e ser santo.” Mas isso não tem sentido! Não podemos ver irmãos necessitados, famintos, em sofrimento, e fazer vista grossa não assistindo o carente, mas em lugar disso, vamos comprar nosso perdão. Ao invés de fazer o que a Bíblia diz, praticar a verdadeira religião que é cuidar dos necessitados, viúvas, órfãos, vamos “comprar” a graça de Deus. Esta é uma falsa doutrina. 

“Deve-se ensinar aos cristãos que, a não ser que haja grande abundância de bens, são obrigados a guardar o que é necessário para os seus próprios lares e de modo algum gastar seus bens na compra de perdões” (46). 

Lutero estava condenando aquele pai que, em lugar de suprir seu lar, esposa e filhos, usava o dinheiro para comprar o perdão como se fosse a vontade de Deus ver seus queridos sofrendo, tirando-lhes o pão e comprar da igreja o seu perdão. Isso era terrível. Era uma falsa doutrina. Não era alguma coisa de pouca importância como se apenas fosse um pequeno ensino diferente da Bíblia sem maiores consequências . Ao contrário, devemos dizer que falsa doutrina é um perigo para a Igreja, pois destrói a vida das pessoas. A falsa doutrina é uma força destrutiva. 

Lutero vendo tudo isso e comparando com a Palavra de Deus concluiu que não deveria ser assim. Ele leu Romanos 1:16-17, e finalmente entendeu sobre a justiça de Deus que nós precisamos para entrar na Sua presença, para termos comunhão com Ele. O Salmo 15 diz: “Quem pode entrar na presença de Deus?”. “Quem, Senhor, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte?”. A resposta é: Ninguém —se não for completamente santo e limpo.

Então, só o homem justo pode ter comunhão com Deus. Mas como adquirir esta justiça que Deus requer? Como conseguir um nível de santidade e perfeição que permite entrar na presença de Deus e viver com Ele para sempre? Lutero, como a maioria da Igreja da época, pensava que era através de fazer coisas; de fazer boas obras, de fazer por onde merecer o favor de Deus e se esforçar para chegar a este nível. Mas ele chegou a terrível conclusão de que era impossível conseguir a perfeição diante de um Deus santíssimo. Cada vez que tentava, via o quanto era um terrível pecador aos olhos deste Deus Santo. Ao ler Romanos 1:16 e 17, Deus abriu seus olhos para que visse claramente que a justiça de Deus é revelada: “...visto que a justiça de Deus se revela no Evangelho” (Rm1:17) - “é revelada”. Ou seja, que Ele está revelando na Sua Palavra e dizendo: “Minha justiça, que é meu Filho Jesus Cristo, eu a estou revelando”. Este é o dom de Deus que nos é dado como um presente para termos comunhão com Ele; para todos aqueles que, pela fé, vão a Cristo.

Lutero, nesta época entendeu estas coisas e afixou suas noventa e cinco teses na porta do Castelo de Witemberg e provocou uma “explosão” no mundo de então. Numa época em que a Igreja e Estado estavam juntos as coisas que aconteciam na Igreja repercutiam em toda sociedade. Este é mais ou menos um resumo do que estava acontecendo naqueles dias. 

Semelhança com nossos dias. 

Dr. Sinclair Ferguson, um Doutor e pastor Reformado da Escócia e Estados Unidos, certa vez advertiu à igreja evangélica de hoje de que uma nova escuridão estava caindo sobre nós, uma escuridão semelhante a da Idade Média, sem a luz da Palavra de Deus. Estas trevas estão caindo novamente sobre a Igreja. Ele cita cinco pontos onde os evangélicos de hoje estão caindo no mesmo “buraco negro” da Idade Média. Devemos ver como a chamada igreja evangélica dos nossos dias é semelhante àquela igreja escravizada na escuridão da Idade Média. 

1) O arrependimento era visto como um ato desligado da vida de santidade. 

Na Idade Média o arrependimento era um ato que alguém fazia para conseguir, por merecimento, o perdão de Deus. O ato de fazer alguma coisa e conseguir perdão era algo separado de uma mudança de coração e mente. Naquela época eu podia entrar no lugar onde Tetzel estava “pregando”, estando o meu coração cheio de pecado, mas com meu dinheiro comprar meu perdão e sair interiormente do mesmo modo como entrei: cheio de pecado, porém, agora, com o perdão. Não tinha nada do arrependimento descrito nas Escrituras. Era um simples ato. Podia-se pecar e simplesmente ir ao padre que recomendava algumas práticas, como rezar várias vezes o Pai Nosso e várias Ave Marias, algumas penitências e tudo estava resolvido. Mas, no coração não havia mudança. Hoje, em nossos dias, vemos a mesma coisa, não somente na Igreja Católica Romana, mas nas igrejas chamadas evangélicas. O grande ato de arrependimento, hoje, não é fazer penitências, ou rezar vários Pai Nossos e Ave Marias, ou comprar alguma indulgência como na Idade Média, mas o grande ato é o “aceitar Jesus” quando algum pregador arminiano faz aquele apelo após alguns minutos de pregação. Porque, se alguém aceita a Jesus está fazendo algo semelhante. Sai da igreja como se tivesse conseguido mérito diante de Deus, mesmo estando em pecado, pois esta pessoa, por seu livre arbítrio, “abriu” seu coração e deixou “Jesus entrar”. É algo meritório, pois “eu deixei” o Deus do Universo entrar em meu coração. Ele estava querendo entrar, mas não podia! Este ato torna a pessoa um “crente” e tira dele sua condição de pecado, mas quando ele cai, novamente fica em problemas. Isso era verdadeiro arrependimento? Não. Mas esse pensamento leva muitas pessoas que caíram, dizerem que um dia voltarão e “aceitarão a Jesus” outra vez fazendo um mesmo “ato de penitência” e quando o pecado sair novamente eles se acharão justos diante de Deus. Isso é exatamente a mesma coisa do que acontecia na Idade Média com a compra de indulgências que era vendida pela Igreja Católica.

Devemos fazer uma diferença entre a chamada Igreja Católica Romana, que é uma igreja que tem sua sede numa cidade da Itália (Roma), uma igreja Papal, Igreja Romanista, e a Igreja Católica da qual fazemos parte e que significa Universal, a igreja de Cristo espalhada por todo o mundo.

Enfatizamos que não há muita diferença entre aquele ato da Idade Média, onde se fazia alguma coisa para se conseguir perdão e o que vemos na igreja de hoje quando é aceito como um ato de arrependimento o “aceitar a Cristo” num apelo feito pelo pregador que escraviza as consciências dos ouvintes com suas ameaças e promessas.

Não é por acaso que hoje em dia a mesma coisa que acontecia na Igreja Católica Romana esteja acontecendo nas chamadas igrejas evangélicas. Pois, a igreja de hoje está roubando os pobres fazendo com que as pessoas deixem suas ofertas na igreja em troca de perdão. Muitos perguntam: “Você não quer deixar Deus entrar em sua vida? Você não tem fé? Abra sua carteira e dê do seu dinheiro como um ato de fé”. Então o pai de família toma seu salário de um mês e dá tudo, com a promessa de que receberá a bênção de Deus porque foi ensinado que fez alguma coisa por Deus, um ato merecedor de “bênçãos”. Isso é a mesma coisa da Idade Média. E mesmo que não seja tão evidente, o ato do apelo por decisão nos conduz de volta à ideia indulgente de arrependimento.

Assim, o arrependimento não é um ato de mudança de mente e coração realizado por Deus, mas um ato realizado por mim mesmo, com meu esforço, totalmente desvinculado de uma obra regeneradora do Espírito Santo. 

2) A voz do Espírito Santo não só é ouvida quando Deus fala através das Escrituras. 

As igrejas de hoje estão buscando novas revelações do Espírito. Toda vez que falamos que há uma possibilidade do Espírito de Deus falar além das Escrituras, a Bíblia “perde” todo seu valor. Isso aconteceu também na Idade Média. A Bíblia só tinha um valor supersticioso, pois se era usada, não era para levar instrução sobre a obra de Cristo e Sua salvação. Mas apenas se usava um texto de uma forma mágica para tirar “mau olhado”. Hoje se faz a mesma coisa quando vemos nos carros a figura de uma Bíblia aberta para que Deus evite algum acidente ou de alguma ação demoníaca. O mesmo que acontecia na Idade Média está acontecendo nas igrejas ditas evangélicas de hoje, porque a Bíblia não mais é a voz do Espírito Santo, mas Deus pode falar ao homem à parte das Escrituras através de revelações e através da voz direta de Deus.

A igreja de hoje não está usando a Bíblia como a única regra de fé e prática, mas está perdida, confusa, nas trevas.

Outra consequência deste ponto é que as pessoas não estão dando o valor nem a atenção devidos ao ensino da Palavra de Deus. Na Idade Média não se dava nenhum valor ao ensino da Palavra, mas procurava-se por milagres. Hoje, quando alguém recebe uma revelação extraordinária, todo mundo quer ouvir. Isso é estar no mesmo “buraco negro” da Idade Média. 

3) A presença de Deus está nas mãos de um líder, de alguém que tem “poder”. O poder de Deus está nas mãos de um líder, alguém especial, uma pessoa “ungida” que pode comunicar o poder do Espírito através de meios físicos. Na Idade Média essa pessoa era o padre com seu poder místico que podia controlar os mistérios de Deus. Quando ele dava a hóstia, ele estava dando Jesus Cristo e o povo não entendia nada, pois o clérigo falava em latim. Mas o povo pensava que ele podia dar um pouco de Cristo quando colocava a hóstia na boca dos “fiéis” e tirar seus pecados e colocar graça. Hoje vemos o mesmo nas igrejas, na TV, nos cultos de igrejas chamadas evangélicas, onde há um grande líder da igreja que Diz: “Espírito de Deus, vem!”. Vemos isso nos movimentos neo pentecostais e carismáticos, onde até se controla o Espírito. Não há muita diferença da Igreja Católica Romana. 

4) A adoração a Deus se tornou um evento para expectadores. A congregação está assistindo a um show, a um espetáculo e não é o corpo de Cristo adorando o Seu cabeça, não é o povo de Deus cultuando ao Senhor com reverência em Espírito e em verdade, mas é um grupo de pessoas que chegam para assistir a um espetáculo. Na Idade Média era o padre com todos os seus rituais mágicos em latim, os grandes corais e orquestras e o povo como expectadores admirando e esperando para receber o poder de Deus. Não é diferente hoje. Vemos tantas pessoas juntas que não têm comunhão e nem unidade entre elas. É como em um teatro ou restaurante onde não se têm laços fraternais entre os espectadores e os clientes. É como se fosse um “self service” onde se vai para tirar algo. Todos estão assistindo ao show, assistindo aos corais e peças teatrais. O povo só faz assistir e aplaudir. 

5) O sucesso é aferido por grandes multidões e grandes edifícios. Na concepção de hoje, uma igreja bem sucedida é aquela que se reúne em um grande prédio com vários pastores e repleto de pessoas. Por isso surgiram as mega igrejas com milhares de membros, onde você chega com sua criança e recebe um ticket para colocar o bebê no berçário. São mega igrejas onde a cada mês pessoas entram e saem (desistem). Uma membresia que não é fixa; irmãos que não se incorporaram de fato à igreja. A visão de hoje é de uma grande multidão que lota uma igreja. Isso é sinal de sucesso e o oposto é sinal de decadência. O pastor está falando o que agrada ao povo. Isso não é uma coisa nova e diferente da Idade Média. Naquela época os cardeais estavam preocupados em construir grandes catedrais e para eles isso era a igreja; cheia de riquezas, edifícios e shows espetaculares. As pequenas e humildes comunidades não tinham valor. Hoje as pequenas igrejas não são valorizadas e muitos afirmam que o Espírito Santo não está agindo porque se Ele estivesse no meio delas estas igrejas “explodiriam” e muitas pessoas viriam. Eles afirmam: “Não foram três mil pessoas que se converteram no dia de Pentecostes? Mas se as igrejas ficam pequenas e pobres, obviamente o Espírito não está presente.” 

Nestes cinco pontos podemos ver a similaridade da igreja desviada de hoje, a falsa igreja, com a Igreja Romana da Idade Média. O que muitas pessoas não entendem é que a Reforma não foi uma divisão entre Catolicismo Romano e Protestantismo. Se perguntarmos a alguém: qual foi a divisão na época da Reforma ou quais os dois grupos que surgiram com a reforma? Todos vão dizer que foram os Católicos Romanos e os Protestantes. Mas não é assim. Na Reforma nós tivemos uma tríade: Igreja Universal (Católica) de Cristo; Igreja Católica Romana e Igreja Anabatista. Temos a Igreja Católica (Universal) que é de todos os tempos e lugares, pois Cristo só tem um corpo, só há uma comunhão, uma unidade num só Espírito, uma só fé, um só Pai de todos nós. Esta igreja reformou-se. Antes desta reforma a igreja estava andando mais e mais no caminho das trevas sem conhecer a luz da Palavra de Deus. Mas na Reforma, a Igreja, pela graça de Deus, voltou para o caminho da Escritura e assim continuava como corpo de Cristo. Não era pensamento dos reformadores sair da Igreja Católica Romana e começar uma nova igreja e chamá-la de Igreja Reformada. Não, eles pensavam na Igreja de Cristo! Mas quando realizaram a Reforma, a Igreja Romana e Papal continuou no seu erro, na falsa doutrina e se manteve fora da Igreja de Cristo.

Há três caminhos na Reforma e muitas pessoas confundem as igrejas anabatistas como incluídas na Reforma e com as igrejas Protestantes. No entanto os anabatistas rejeitavam a Igreja Católica Romana. Foi um grupo de pessoas que rejeitou qualquer coisa da Igreja Romana; foi uma hiper-reação contra a Igreja Romana. Não foi uma volta para a Palavra de Deus, enquanto a Reforma Protestante de fato foi. Por isso as Igrejas Reformadas não deixaram de respeitar o valor da Santa Ceia como algo importante, não apenas para lembrar Jesus Cristo e Sua obra, mas porque Ele estava presente espiritualmente nesta ordenança. As Igrejas Reformadas não deixaram de batizar as crianças porque isso é bíblico – elas estão na aliança de Deus. Para as Igrejas Reformadas a circuncisão é agora o batismo. Mas os anabatistas fizeram tudo que puderam contra a Igreja Romana e terminaram negando tudo isso.

Hoje, infelizmente, muitas pessoas pensam que anabatistas e reformados não são muito diferentes. Mas espero que depois destes cinco pontos possamos ver que as igrejas anabatistas estão muitas vezes mostrando os mesmos erros manifestados na Igreja Romana da Idade Média. Há, portanto, uma divisão tremenda entre Reformados e Anabatistas e entre Reformados e Católicos Romanos. Não há semelhança entre Anabatistas e Reformados quando se considera a Igreja Romana.

Infelizmente, no Brasil, o ensino reformado nunca chegou de forma completa. Durante a ocupação Holandesa e Francesa, sim, mas os portugueses, ao expulsarem os invasores, expulsaram os reformados também, apesar de alguns índios terem se tornando reformados e fugiram para o interior, onde ensinaram o catecismo aos índios e seus filhos, as antigas doutrinas da graça. Os padres católicos chegavam e ensinavam que tudo aquilo era errado e que eles deveriam voltar para a Igreja Romana. Os índios diziam: não! Os padres católicos vendo a fé daqueles índios afirmavam que aqui, no interior do Brasil, estava uma verdadeira Genebra. Mas, há muito que o Brasil não está com o testemunho da Reforma. Não quero generalizar, mas hoje são poucas as igrejas Reformadas neste país. O Brasil precisa de uma reforma, à semelhança da Idade Média onde as pessoas eram completamente ignorantes da graça de Deus. Assim, as pessoas nas igrejas que se dizem evangélicas, estão sofrendo por não conhecer a graça de Deus em Cristo Jesus; não conhecem o nível de certeza do perdão nem a remissão dos seus pecados. Pastores estão dizendo que pessoas que pecam perdem sua salvação, perdem a remissão dos seus pecados e provocam assim o medo, a confusão, asuperstição, e levam as pessoas a fazerem “coisas” para comprar de Deus a Sua graça. Mas a graça é algo dado pelo Senhor e não vendido. Nosso querido Brasil precisa de reforma, de uma volta à Palavra de Deus, às doutrinas da graça.

Relembrando estes cinco pontos que abordamos podemos ver que as Igrejas Reformadas são diferentes da Igreja da Idade Média.

Verdadeiro arrependimento não é fazer alguma coisa para ganhar o perdão de Deus, mas a Palavra de Deus ensina que o verdadeiro arrependimento é concedido por Deus e manifestado numa vida de santificação. Com o verdadeiro arrependimento vem uma mudança de mente e coração, um desejo forte de viver uma vida que cresce no conhecimento do Senhor e na santificação. Por isso, nas igrejas Reformadas as pessoas não se tornam membros da noite para o dia. Isso não é porque somos cruéis e queremos deixar as pessoas de fora da verdade, mas porque os presbíteros, a liderança, não podem ver o que se passa no coração e por isso precisam de: (1) Que a pessoa confesse a sua fé, que saiba o que a Bíblia diz sobre a redenção realizada por Cristo na cruz e que isto é real na sua vida. Que a pessoa creia que já tem o perdão e vida eterna em Cristo Jesus. (2) Que a pessoa deve estar vivendo de forma consequente e aplicando esta fé em sua vida. Como os presbíteros da igreja podem saber disto? Só após um período de ensino a estas pessoas e uma observação acurada da sua vida prática; elas devem dar mostras de viver o que confessam. Às vezes um congregado poderá passar até mais de um ano sendo instruído e tendo oportunidade de mostrar através de seu testemunho de vida que sua fé não é só de palavras, mas é uma fé consequente que revela uma vida de arrependimento e santificação.

Somente as Escrituras são a única regra de fé e prática. Se na igreja, o pastor prega alguma coisa errada, um simples membro pode adverti-lo com amor e dizer que ele está ensinando algo errado. Nesse caso, o pastor deverá reconhecer seu erro e mudar. Não são os presbíteros que mandam, não são os pastores que mandam, não é o Presidente do Supremo Concílio que manda, não é o Papa, nem bispo ou cardeal, mas é a Palavra de Deus; é Jesus falando e o Espírito Santo nos lembrando de Suas palavras. Cristo fala à Sua Igreja pela Palavra (única regra de fé e prática) e não é o pastor que vai criar alguma coisa como mandar as pessoas tomarem um copo de água abençoado por ele, ou que um crente não ande de bicicleta ou de bermuda. Temos muitas igrejas que estão sofrendo porque os pastores estão impondo na cabeça das pessoas várias regras. Tudo isso porque a Palavra não é a única regra de fé e prática. Graças a Deus porque onde existir uma verdadeira igreja de Cristo não é o homem que manda, mas sim, a Palavra de Deus.

No culto Reformado a pregação da Palavra é o ponto central. Cantamos, oramos e logo abrimos a Palavra e o ensino se torna o ponto central. A Palavra é aberta e pregada porque o Espírito trabalha pela Palavra como uma espada de dois gumes para cortar o coração do pecador e para endurecer o rebelde e lhe deixar mais merecedor do inferno por rejeitá-la; mas também para cortar o coração do pecador a quem Deus derrama misericórdia para mudá-lo, trocando seu coração de pedra por um coração de carne; dá-lhe verdadeiro arrependimento e frutos da fé. A Palavra é o instrumento que Deus usa para tudo isso.

Em Romanos 10 vemos Paulo dizendo algo que vivenciamos hoje. No início deste capítulo Paulo diz que Israel estava buscando sua própria justiça: “Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus” (Romanos 10:3). Diz mais que eles tinham muito “zelo por Deus, porém não com entendimento” (v.2). É o que a Igreja Católica faz ainda hoje. São zelosos, fazem muitas coisas, mas sem entendimento. São operosos, mas sem entender nada. Eles não têm lido Romanos 1:16-17, pois ali Paulo diz que Deus tem uma justiça que Ele próprio nos dá. Continuam ignorantes disso e correm a todo lugar tentando comprar esta justiça, enquanto que Deus está dizendo: “Vem, toma”. Mas eles dizem: “Eu quero comprar”. Isto é zelo sem entendimento, pois a justificação não é possível através da prática da Lei. Paulo diz no v. 8: “Porém que se diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé que pregamos”. Paulo fala do que é necessário para recebermos todos os benefícios de Cristo: Confessar Jesus como Senhor (v.9), ter a verdadeira fé (v.10) e como podemos adquirir esta fé salvadora: “Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Rm10:13). Apenas isso e teremos a plena remissão dos nossos pecados. Paulo ainda diz: “Como, porém, invocarão aquele em quem não creram?”. Temos de crer. É impossível invocar o nome de Deus se não cremos. “E como crerão naquele de quem nada ouviram?”. Como posso crer se nunca ouvi nada a respeito dele? “E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas! (Rm 10:14-15). Paulo está dizendo aqui que, a pregação é algo muito importante no processo da salvação. Na pregação, Deus se revela aos pecadores e através dela surge a fé que salva o pecador.

Mas, a Igreja de hoje não valoriza a pregação da Palavra de Deus e quer dar mais valor ao emocional, ao coral de crianças, às peças teatrais, aos testemunhos, às cantatas, etc, do que à pregação da Palavra. Esta é uma igreja que não merece o nome de igreja. É apenas um grupo religioso, um clube onde pessoas gostam de falar de religião, mas não é a Igreja de Cristo. A verdadeira Igreja prega Cristo sabendo que Sua palavra é eficaz para salvação de pecadores.

A verdadeira igreja de Deus ensina que o arrependimento não é apenas um ato, mas uma vida de santificação e só a Palavra faz isso e não a imaginação do homem (João 17:17).

A Igreja verdadeira é aquela onde se ensina que a Bíblia é a única regra de fé e prática.

A Igreja verdadeira é aquela onde o culto é reverente e dedicado à glória de Deus. Não é um show; o homem não está no centro, mas Deus. Nesta igreja os crentes se preocupam com a honra de Deus e é onde o povo de Deus tem um encontro com Ele. Mas, o culto de hoje é um conjunto de pessoas assistindo outras fazerem apresentações; é alguma coisa horizontal entre pessoas que não têm reverência, que entram e saem porque já ouviram certos testemunhos pessoais por várias vezes. O povo não está na presença de Deus; estão apenas buscando manifestações e sinais. A verdadeira igreja de Cristo adora a Deus em espírito e em verdade e em reverência.

O tamanho da igreja não é medido fisicamente, mas espiritualmente. Não medimos o sucesso da igreja pelo seu edifício ou quantas pessoas estão dentro dele. Poderemos prometer muitas coisas ao povo para fazer encher o edifício ou até prometer riquezas. O tamanho do edifício ou do número de membros não é uma manifestação do sucesso da igreja, mas o tamanho espiritual de um povo que vive a Palavra de Deus.

As igrejas sempre estão falando do Espírito Santo, mas pouco se fala do fruto do Espírito (Gl 5). Como isso é raro! O fruto do Espírito não são coisas espetaculares, impressionantes, mas é uma vida simples de serviço. Você não pode pular e gritar: “Eu tenho paciência!!”. Mas paciência se manifesta através de uma vida paciente, serena. Você não pode gritar: “Eu tenho amor!!”. Mas amor é algo que se demonstra ao irmão, ao marido, à esposa, aos filhos, aos colegas, aos vizinhos. Isso é difícil de ser visto, de ser manifestado, porém, é mais fácil buscar sinais e maravilhas, os dons extraordinários. Jesus disse que “uma geração perversa é má, busca sinais”. A igreja de Cristo não busca sinais, nem coisas que impressionem, ou prédios cheios de pessoas, mas busca crescimento no Senhor Jesus Cristo; crescimento espiritual e amadurecimento em Cristo. Como podemos crescer assim? Como podemos manifestar o amor de Cristo em nossas vidas? Como podemos testemunhar cada vez mais da obra de Jesus Cristo em nossos corações? Temos uma fonte: A Palavra de Deus. Devemos sempre voltar à Palavra de Deus – Reformado, sempre reformando. Nesta fonte somos fortalecidos na nova vida em Cristo. Nesta fonte somos cada vez mais ensinados pela graça de Deus que nos liberta do pecado; ela nos aperfeiçoa, nos faz mais maduros até que o dia da Sua vinda chegue. Tudo isso é possível se estivermos bebendo desta fonte.

Começamos vendo a questão do arrependimento que está na primeira tese de Lutero: “Nosso Senhor e mestre Jesus Cristo, em dizendo, arrependei-vos, afirmava que toda a vida dos fiéis deve ser um ato de arrependimento”. Lutero chamou a Igreja para voltar ao ensino da Palavra de Deus. A vida cristã é uma vida de santificação onde a Palavra de Deus está agindo cada dia mais nos filhos de Deus

Isso é verdade em nossas vidas? Isso está sendo ensinado nas igrejas ditas evangélicas? Creio que não. Vamos trabalhar e orar para que Deus possa agir em nosso país e produzir a reforma que precisamos.
Amém.
__________________ 
Mensagem proferida pelo Pr. Kenneth Wieske, das Igrejas Reformada do Brasil (na Congregação Reformada do Ibura – Recife/outubro/2001.

Fonte: Projeto Os Puritanos 

16 argumentos que mostram que Cristo não morreu pela salvação de todos os homens


Por John Owen


1. Dois argumentos baseados na natureza do novo concerto

Argumento 1 - Em Mateus 26:28 o Senhor Jesus Cristo fala de "o meu sangue, o sangue do Novo Testamento". Este novo "testamento", ou "concerto" é um novo acordo, ou contrato, que Deus fez para salvar os homens. O sangue de Cristo derramado em Sua morte, é o preço desse acordo, e diz respeito somente àqueles a quem o acordo se aplica.

Este novo acordo, ou aliança, é diferente do velho acordo que Deus fez com os homens. Pelo velho acordo (ou concerto) Deus prometeu salvar todos os que guardassem as Suas leis: "o homem que fizer estas coisas viverá por elas". (Romanos 10:5; Levítico 18:5). Mas, em razão dos homens serem pecadores, eles não podem guardar as leis de Deus. Portanto, o velho acordo ficou sem efeito.

No novo acordo, Deus promete colocar Suas leis em nossas mentes e escrevê-las em nossos corações (Hebreus 8:10). É claro, então, que esse acordo diz respeito somente àqueles em cujos corações e mentes Deus realmente faz isso. Desde que Deus, obviamente, não faz isso para todos os homens, todos os homens não podem estar incluídos no acordo pelo qual Cristo morreu.

Alguns têm sugerido que Deus iria escrever Sua lei em nossas mentes se apenas crêssemos. Mas, fé é a mesma coisa que ter a lei de Deus escrita em nossos corações!

Então, falar como alguns, significa dizer: "se a lei está em nossos corações (isto é, como ela é, em todos os crentes), Deus promete que Ele irá escrever Sua lei em nossos corações" - o que é uma tolice! A natureza do novo concerto deixa claro que a morte de Cristo não foi por todos os homens.

Argumento 2 - O evangelho - em outras palavras, as novas sobre o novo concerto - tem estado no mundo desde os tempos de Cristo. Contudo, nações inteiras têm vivido sem qualquer conhecimento dele. Se o objetivo da morte de Cristo era salvar todos os homens, sob a condição de que eles cressem, então o evangelho devia ter sido anunciado a todos os homens.

Se Deus não providenciou para que todos os homens ouvissem o evangelho, então, ou deveria ser possível que todos os homens fossem salvos sem fé e sem conhecimento do evangelho, ou o propósito de salvar todos os homens falhou, uma vez que nem todos os homens ouviram o evangelho. A primeira afirmativa não pode ser verdadeira, pois a fé é uma parte da salvação (ver Parte Dois, capítulo cinco). A última afirmativa também não pode ser verdadeira; seria próprio da sabedoria de Deus enviar Cristo para morrer a fim de que todos os homens fossem salvos, sem, contudo, certificar-Se de que todos os homens ouvissem o evangelho? Seria a benignidade de Deus demonstrada através de tal comportamento?

Isso seria como se um médico dissesse que tem um remédio que curaria a doença de todos. E, no entanto, escondesse, deliberadamente, tal conhecimento de muitas pessoas. Poderíamos realmente argumentar, nesse caso, que o médico pretendia, genuinamente, curar a doença de todos?

Há muitos versículos bíblicos que deixam claro que milhões jamais ouviram uma palavra sobre Cristo. E não podemos apresentar outra razão para isso, senão a razão que o próprio Jesus deu: "Sim, ó Pai, porque assim te aprouve". (Mateus 11:26). Tais versículos como Salmo 147: 19-20; Atos 14: 16; Atos 16: 6-7; confirmam os fatos de nossa experiência comum de que o Senhor não tomou qualquer providência para assegurar que todos ouvissem o evangelho. Precisamos concluir que não é propósito de Deus salvar todos os homens.

2. Três argumentos baseados nas descrições bíblicas da salvação

Argumento 3 - As Escrituras descrevem o que Jesus Cristo obteve com Sua morte como "redenção eterna" (isto é, nossa libertação do pecado, da morte e do inferno, para sempre). Ora, se esta bênção foi comprada para todos os homens, então todos os homens têm esta redenção eterna automaticamente; ou ela está à disposição de todos os homens na dependência do cumprimento de certas condições.

De acordo com nossa experiência, não é verdade, de maneira alguma, que todos os homens têm redenção eterna. Portanto, seria a redenção eterna disponível sob certas condições?

Pergunto, Cristo satisfez essas condições por nós, ou apenas nos tornamos merecedores do cumprimento dessas condições se outras condições forem cumpridas por nós? A primeira dessas afirmativas - que Cristo realmente cumpriu todas as condições necessárias quanto ao dom da redenção eterna - significa que todos os homens têm realmente essa redenção; o que, como já temos visto, não concorda com nossa experiência a respeito dos homens! Temos que dizer, portanto, que se Cristo não cumpriu as condições para que todos os homens obtivessem a redenção, Ele deveria ter cumprido essas condições apenas por aqueles que cumpririam outras condições. Estamos agora andando em círculos, fazendo com que aquelas condições que foram cumpridas dependam de que outras condições sejam cumpridas! Estes argumentos demonstram quão irracional é supor que Cristo morreu a fim de obter a salvação eterna para todos os homens.

Se insiste ainda que a redenção eterna é obtida sob o cumprimento de certas condições, então, todos os homens deveriam ser notificados. Mas, esse conhecimento lhes tem sido sonegado, como vimos na Terceira Parte, capítulo um.

Além disso, se a obtenção da redenção eterna depende do homem cumprir condições, então ou eles têm ou não têm o poder para fazer isso. Se são capazes por si mesmos de cumprir as condições necessárias, então temos que dizer que todos os homens podem, por si mesmos, crer no evangelho. Mas isto é bastante contrário às Escrituras, as quais mostram que os homens estão mortos em pecado e, portanto, não podem cumprir quaisquer condições.

Se concordamos que os homens não podem, por si mesmos, cumprir as condições para a obtenção da salvação eterna, então, ou Deus intenta dar-lhes esta habilidade, ou não. Se Ele realmente intenta isto, então, por que não o faz? Assim, todos os homens seriam salvos.

Se, entretanto, Deus não pretende dar a todos os homens a capacidade de crer, e, contudo, Cristo morreu para que todos os homens tenham a salvação eterna, então, Deus está requerendo dos homens que tenham habilidades as quais Ele recusa dar-lhes. Isto não seria uma loucura? É como se Deus prometesse dar a um homem morto o poder de vivificar-se a si mesmo, mas ao mesmo tempo não tenha a intenção de lhe dar o poder prometido!

Argumento 4 - A Bíblia descreve cuidadosamente aqueles pelos quais Cristo morreu. Lemos que toda a raça humana pode ser dividida em dois grupos, e que Cristo morreu apenas por um desses grupos.

Os versículos bíblicos que mostram que Deus dividiu os homens em dois grupos são:

Mat. 25:12 e 32 Jo. 10:14,26
Jo. 17:9, 1Ts. 5:9
Rom. 9:11-23


Daí aprendemos que há aqueles a quem Deus ama, e aqueles a quem Ele odeia; aqueles a quem Ele conhece, e aqueles a quem Ele não conhece.

Outros versículos deixam claro que Cristo morreu apenas por um destes dois grupos. É-nos dito que Ele morreu por:

Seu povo - Mt. 1:21
Suas ovelhas - Jo. 10:11,14
Sua igreja - At. 20:28
Seus eleitos - Rom. 8:32-34
Seus filhos - Heb. 2:13

Acaso não deveríamos concluir, de tudo isso, que Cristo nã morreu por aqueles que não são Seu povo, ou Suas ovelhas, ou Sua Igreja? Ele não pode, portanto, ter morrido por todos os homens.

Argumento 5 - Não devemos descrever a salvação de nenhuma maneira diferente daquela que a Bíblia a descreve. E a Bíblia não diz, em lugar algum, que Cristo morreu "por todos os homens", ou por cada homem em particular. Ela diz que Cristo deu Sua vida "em resgate de todos"; entretanto, isso não pode provar que signifique mais que "todas as Suas ovelhas" ou "todos os Seus eleitos". Se estudarmos cuidadosamente qualquer versículo que emprega a palavra "todos" e o examinarmos em seu contexto, logo estaremos convencidos de que, em lugar algum, as Escrituras dizem que Cristo morreu por todos os homens, sem exceção de nenhum.

(Na Quarta Parte, capítulos três e quatro, vamos considerar, detalhadamente, muitos versículos bíblicos nos quais as palavras "mundo" e "todos" são usadas em conexão com a morte de Cristo.)

3. Dois argumentos baseados na natureza da obra de Cristo

Argumento 6 - Há muitos versículos bíblicos que falam do Senhor Jesus Cristo tornando-Se responsável por outros na Sua morte; por exemplo:

Ele morreu por nós - Rom. 5:8
Foi feito maldição por nós - Gál. 3:13
Foi feito pecado por nós - 2Co. 5:21

Tais expressões deixam claro que qualidade de substituto de outro.

Ora, se Ele morreu em lugar de outros, segue-se que todos aqueles cujo lugar Ele tomou devem estar agora livres da ira e do julgamento de Deus. (Deus não pode punir justamente Cristo e aqueles a quem Ele substituiu!) Contudo, está claro que nem todos os homens estão livres da ira de Deus (ver João 3:36). Portanto, Cristo não pode ter sido o substituto de todos os homens.

Se insiste ainda que Cristo realmente morreu como um substituto de todos os
homens, então devemos concluir que Sua morte não foi um sacrifício bastante suficiente, pois nem todos os homens são salvos do pecado e do julgamento!

De fato, se Cristo realmente morreu em lugar de todos os homens, então, ou Ele Se ofereceu a Si mesmo como um sacrifício por todos os pecados deles (neste caso, todos os homens são salvos), ou foi um sacrifício por alguns dos pecados deles apenas (neste caso, ninguém é salvo, pois alguns pecados permanecem). Nem uma nem outra dessas declarações pode ser verdadeira, como nós já temos visto neste livro (Primeira Parte, capítulo três). Deve ser evidente que não podemos dizer, de maneira alguma, que Cristo morreu por todos os homens.

Argumento 7 - As Escrituras descrevem a natureza da obra que Cristo realizou, como a obra de um mediador e de um sacerdote:

Ele "é Mediador dum novo Testamento" (Hebreus 9:15). Ele age como um mediador sendo o sacerdote daqueles que Ele leva a Deus. Que Jesus Cristo não é o sacerdote de todos é óbvio, tanto pela experiência como pelas Escrituras; nós já discutimos isso na Segunda Parte, capítulo dois.

4. Três argumentos baseados na natureza da santidade e da fé

Argumento 8 - Se a morte de Cristo é o meio pelo qual aqueles por quem Ele morreu são purificados do pecado e são santificados, então Ele deve ter morrido somente por aqueles que realmente estão limpos de pecados e santificados. É óbvio que nem todos os homens são santificados. Portanto, Cristo não morreu por todos os homens.

Talvez eu deva provar que a morte de Cristo é, de fato, o meio para obter a purificação e a santidade. Vou fazer isso de duas maneiras:

Primeira, o padrão de adoração do Velho Testamento destinava-se a ensinar verdades a respeito da morte de Cristo. O sangue dos sacrifícios do Velho Testamento fez com que aqueles por quem era derramado se tornassem adoradores aceitáveis a Deus. Se foi assim, quanto mais o sangue de Cristo deve realmente purificar do pecado aqueles por quem Ele morreu? (Hebreus 9: 13-14).

Segunda, há versículos bíblicos que declaram com clareza que a morte de Cristo faz realmente as coisas que ela intencionava fazer; o corpo do pecado é destruído, para que não mais sirvamos ao pecado (Romanos 6:6); temos redenção através do Seu sangue (Colossenses 1: 14); Ele Se deu a Si mesmo para nos remir e nos purificar (Tito 2: 14). Estes versículos, e muitos outros, enfatizam que a santidade é o resultado certo nas vidas daqueles por quem Cristo morreu. Visto que todos os homens não são santos, Cristo não morreu por todos os homens.

Alguns sugerem - inutilmente! - que a morte de Cristo não é a única causa dessa santidade. Dizem que ela somente se torna verdadeira ou real quando o Espírito Santo a traz, ou quando é recebida por fé. Mas a obra do Espírito Santo, e o dom da fé, são também o resultado ou o fruto da morte de Cristo! Assim sendo, essa sugestão não altera o fato que a verdadeira santidade é o resultado certo somente nas vidas daqueles por quem Cristo morreu. O fato do juiz dar permissão ao carcereiro para destrancar a porta da prisão, não é a causa do prisioneiro ser posto em liberdade; a causa é que alguém pagou seus débitos por ele.

Argumento 9 - A fé é essencial à salvação. Isso é claro nas Escrituras (Hebreus 11:6) e a maioria das pessoas aceita o fato. Mas, como já temos visto, tudo que é necessário para a salvação foi obtido para nós por Cristo.

Ora, se esta fé essencial é obtida para todos os homens por Cristo, então é nossa com ou sem certas condições. Se é sem condições, então todos os homens a têm. Mas isso é contrário à experiência, e também às Escrituras (2 Tessalonicenses 3:2). Se a fé é dada somente sob certas condições, então eu pergunto: sob que condições?

Alguns dizem que a fé é dada sob a condição de que nós não resistamos à graça de Deus. Contudo, não resistir significa, realmente, obedecer. Obedecer significa crer. Portanto, o que estes amigos realmente estão dizendo é: "a fé é concedida somente àqueles que crêem" (isto é, àqueles que têm fé!). Isso é completamente absurdo.

Por outro lado, alguns argumentam que a fé não é obtida para nós pela morte de Cristo. Então, seria a fé um ato de nossa própria vontade? Mas isso é bastante contrário àquilo que muitos versículos bíblicos ensinam, e ignora o fato de que os incrédulos estão mortos em pecados, incapazes de realizar qualquer ato espiritual (I Coríntios 2:14). Portanto, volto à posição de que a fé é obtida por Cristo. 

A fé é uma parte essencial da santidade. No Argumento 8, mostrei que a santidade é obtida para nós pela morte de Cristo. Portanto, Ele também obteve a fé para nós. Negar isso é dizer que Ele obteve apenas uma santidade parcial, isto é, uma fé deficiente. Ninguém sugere isso seriamente. Mais ainda, Deus escolheu Seu povo, como nos é dito, a fim de que ele fosse santo; Deus "nos elegeu ... para que fôssemos santos" (Efésios 1 :4). Repetindo, a fé é uma parte essencial da santidade. Ao eleger Seu povo para ser santo, necessariamente Deus decidiu que ele teria fé.

Era parte do pacto entre Deus, o Pai, e Deus, o Filho, que todos aqueles por quem Cristo morreu tivessem as bênçãos que o Pai tencionava dar-lhes. A fé é uma das bênçãos que o Pai dá (Hebreus 8:10,11).

As Escrituras afirmam claramente que a fé é obtida para nós por Jesus Cristo, que é "o autor e consumador da fé" (Hebreus 12:2). Declarações como esta e as declarações dos três parágrafos acima, que acabamos de ler, confirmam, todas elas, que a morte de Cristo obtém fé para Seu povo. Visto que não são todos os homens que a têm, Cristo não pode ter morri do por todos os homens.

Argumento 10 - O povo de Israel era, de muitas maneiras, uma espécie de ilustração da Igreja de Deus do Novo Testamento (I Coríntios 10:11). Seus sacerdotes e sacrifícios eram exemplos daquilo que Jesus viria fazer pela Igreja de Deus. Jerusalém, a cidade deles, é usada como uma figura do céu do crente (Hebreus 12:22).

Um verdadeiro israelita é um crente (João 1:47) e um verdadeiro crente é um israelita (Gálatas 3:29). Portanto, eu argumento da seguinte maneira:

Se a nação dos judeus foi escolhida por Deus, entre todas as nações do mundo, para ilustrar Suas relações com a Igreja, segue-se, então, que a morte de Cristo foi somente pela Igreja e não pelo. mundo todo. A maneira como Deus tratou o Seu povo escolhido no Velho Testamento é uma ilustração de que a salvação obtida por Cristo não é para todos os homens, mas é apenas para o Seu povo escolhido.

5. Um argumento baseado no significado da palavra "redenção"

Argumento 11 - A maneira como a Bíblia descreve uma doutrina deve nos ajudar a entender a doutrina. Uma palavra bíblica que é usada para descrever a salvação obtida por Cristo é a palavra redenção. Exemplo: " ...temos a redenção pelo seu sangue"(Colossenses 1:14). Essa palavra significa "libertar uma pessoa do cativeiro através do pagamento de um preço". A pessoa não está redimida a não ser que seja libertada. Por isso, a própria palavra nos ensina que Cristo não pode ter obtido a redenção para aqueles que não estão livres. A redenção universal (assim chamada!) que finalmente deixa alguns ainda no cativeiro é uma contradição de termos.

O sangue de Cristo é realmente chamado de preço, e de resgate, em alguns versículos bíblicos (vide Mateus 20:28). Ora, o propósito de um resgate é obter a libertação daqueles pelos quais o preço é pago. É inconcebível que um resgate seja pago e a pessoa ainda continue prisioneira. Por conseguinte, como pode ser argumentado que Cristo morreu por todos os homens, quando nem todos os homens são salvos? Somente os que estão realmente livres do pecado podem ser aqueles por quem Cristo morreu. "Redenção" não pode ser "universal", como "romano" não pode ser "católico"! A redenção tem que ser particular, visto que somente alguns são redimidos.

6. Um argumento baseado no significado da palavra “reconciliação

Argumento 12 - Uma outra palavra que a Bíblia usa para descrever aquilo que
Cristo obteve mediante Sua morte, é a palavra reconciliação: "...inimigos... vos reconciliou." (Colossenses 1:21). Reconciliação quer dizer restaurar as relações de amizade entre duas partes que anteriormente eram inimigas. Na salvação, da qual a Bíblia nos fala, Deus é reconciliado conosco e nós somos reconciliados com Deus. 

Estas duas coisas têm que ser verdadeiras; a reconciliação de uma parte e da outra são dois atos separados, mas ambos são necessários para tornar uma reconciliação completa. É uma tolice sugerir que Deus, por intermédio da morte de Cristo, agora está reconciliado com todos os homens, mas que somente alguns homens estão reconciliados com Ele. Espero que ninguém sugira que Deus e todos os homens estão reconciliados desta maneira. Isso seria uma reconciliação capenga! Não há verdadeira reconciliação a menos que ambas as partes estejam reconciliadas uma com a outra.

O efeito da morte de Cristo foi a reconciliação tanto de Deus com os homens como os homens com Deus; "fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho" (Romanos 5:10) e "nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação."(Romanos 5:11). Ambas as reconciliações são, também, mencionadas em II Coríntios 5:19-20 - "Deus ... reconciliando consigo", e "vos reconcilieis com Deus"

Ora, como esta dupla reconciliação pode ser "reconciliada" com a noção de que
a morte de Cristo é para todos os homens, eu não posso entender! Porque, se todos os homens são, pela morte de Cristo, assim duplamente reconciliados, como pode acontecer que a ira de Deus esteja sobre alguns? (João 3:36). Sem dúvida alguma, Cristo somente pode ter morri do por aqueles que estão realmente reconciliados.

7. Um argumento baseado no significado da palavra " satisfação"

Argumento 13 - E verdade que a palavra satisfação não é usada na versão inglesa da Bíblia, com referência à morte de Cristo. Mas, aquilo que a palavra significa, isto é, "um pagamento total daquilo que é devido a um credor por um devedor" é um pensamento frequentemente usado no Novo Testamento, quando se refere à morte de Cristo.

Em nosso caso, os homens são devedores a Deus, pois falharam em obedecer aos Seus mandamentos. A satisfação requerida para pagar nosso pecado é a morte - "o salário do pecado é a morte" (Romanos 6:23). As leis de Deus nos acusam, expressando a justiça e a verdade de Deus. Perante elas estamos convictos de que somos seus transgressores, merecendo, portanto, morrer. A salvação só é possível se Cristo pagar nosso débito e, assim, satisfazer a justiça de Deus. Sua morte é chamada de uma"oferta" (Efésios 5:2) e de "propiciação" (l João 2:2). A palavra oferta significa um sacrifício de expiação ou um sacrifício para fazer reparação devido o pecado.

Propiciação significa uma oferta para satisfazer a justiça ofendida. Dessa forma, podemos usar corretamente a palavra satisfação para abranger todo o ensino bíblico quanto ao significado da morte de Cristo.

Ora, se Cristo pela Sua morte realmente fez uma satisfação por alguns, então Deus precisa agora estar completamente satisfeito com eles. Deus não pode requerer licitamente um segundo pagamento de qualquer espécie. Então, como pode ser que Cristo tenha morrido por todos os homens e ainda muitos vivam e morram como pecadores sob a condenação da lei de Deus? Reconciliem essas coisas aqueles que podem! Afirmo que somente os que estão realmente livres do débito nesta vida podem ser aqueles pelos quais Cristo pagou a satisfação.

8. Dois argumentos baseados no valor da morte de Cristo

Argumento 14 - O Novo Testamento fala, frequentemente, do valor da morte de Cristo, com a qual Ele pôde comprar e obter certas coisas. Exemplo: é dito que a redenção eterna é obtida "por seu próprio sangue" (Hebreus 9:12); é dito que a Igreja de Deus foi resgatada "com seu próprio sangue." (Atos 20:28); e os cristãos são chamados "povo adquirido" (I Pedro 2:9).

Cristo por Sua morte, então, comprou para todos aqueles por quem Ele morreu, todas aquelas coisas que a Bíblia salienta como resultados de Sua morte. O valor da Sua morte comprou a libertação do poder do pecado e da ira de Deus, da morte e do poder do diabo, da maldição da lei e da culpa do pecado. O valor da Sua morte obteve a reconciliação com Deus, paz e redenção eterna. Estas coisas são agora dons gratuitos de Deus, porque Cristo as comprou. Se Cristo morreu por todos os homens, por que então todos os homens não têm essas coisas? Será que o valor da Sua morte não é suficiente?

Será que Deus é injusto por não dar a todos aquilo que Cristo comprou? Tem que ser óbvio que Cristo não pode ter morrido para adquirir essas coisas para todos os homens, e sim somente para aqueles que realmente desfrutam delas.

Argumento 15 - Há frases que são frequentemente empregadas para se fazer referência à morte de Cristo, tais como: morrendo por nós; suportando nossospecados; sendo nossa segurança. O significado evidente de tais frases é que Cristo, em Sua morte, foi um substituto de outros para que eles pudessem ser livres.

Se, em Sua morte, Cristo foi um substituto de outros. como podem eles mesmos morrerem também, carregando ainda seus próprios pecados? Assim sendo, Cristo não pode ter sido um substituto a favor deles. Daí, fica claro que Ele não pode ter morrido por todos os homens.

De fato, dizer que Cristo morreu por todos os homens é a maneira mais rápida de provar que Ele não morreu por ninguém. Porque se Ele morreu em lugar de todos, e, contudo, nem todos são salvos, então Ele falhou em Seu propósito.

9. Um argumento geral baseado em versículos específicos das Escrituras 

Argumento 16 - Há um grande número de versículos bíblicos que eu poderia usar para argumentar que Cristo não morreu pelos pecados de todos os homens. Vou selecionar apenas nove, e, com eles, encerrar nossos argumentos nesta parte.

1. Gênesis 3: 15. Este é o primeiro versículo bíblico no qual Deus indica que há uma diferença entre o povo de Deus e seus inimigos. "...sua semente" (da mulher) significa Jesus Cristo e, portanto, também todos os crentes em Cristo. (Isto é claro a partir do fato de que a profecia sobre a semente da mulher é cumprida em Cristo e em Seu povo). "...tua semente" (da serpente) significa todos os homens incrédulos do mundo (Vide João 8:44). Desde que Deus prometeu somente inimizade entre a semente da serpente e a semente da mulher, é óbvio que Cristo, a semente da mulher, não morreu pela semente da serpente!

2. Mateus 7:23. Cristo aqui declara que há pessoas que Ele jamais conheceu. Contudo, em outro lugar (João 10:14 a 17) Ele diz que conhece todo o Seu povo. Será que Ele não conhece todos aqueles por quem morreu? Se há alguns que Ele não conhece, então Ele não pode ter morrido por eles.

3. Mateus 11:25-27. Conforme estas palavras, é claro que há alguns dos quais Deus esconde o evangelho. Se é a vontade do Pai que o evangelho não seja revelado a eles, Cristo não pode ter morrido por eles. E nós devemos notar que Cristo, aqui, agradece ao Pai por fazer esta diferença entre homens - uma diferença que somente alguns homens ainda se recusam a acreditar!

4. João 10:11, 15-16, 27-28. Destes versículos fica bastante claro que:

I. Nem todos os homens são ovelhas de Cristo.
II. A diferença entre os homens um dia será óbvia.
III. As ovelhas de Cristo são identificadas como "aquelas que ouvem a voz de Cristo"; outros não a ouvem.
IV. Alguns que ainda não são identificados como ovelhas já estão escolhidos e se tornarão conhecidos ("outras ovelhas").
V. Cristo morreu, não por todos, mas especificamente por Suas ovelhas.
VI. Aqueles por quem Cristo morreu são os que Lhe foram dados pelo Pai. Ele não pode, então, ter morrido por aqueles que não Lhe foram dados.

5. Romanos 8:32-34. Destes versículos entendemos com clareza que a morte de Cristo pertence somente ao povo eleito de Deus e, também, que a intercessão de Cristo é somente em favor desse mesmo povo.

6. Efésios 1: 7. A partir deste versículo, podemos dizer que se o sangue de Cristo foi derramado por todos, então todos devem ter esta redenção e este perdão. Mas, certamente, nem todas as pessoas os possuem.

7. II Coríntios 5:21. Portanto, em Sua morte Cristo foi feito pecado por todos aqueles que nEle foram feitos justiça de Deus. Se Ele foi feito pecado por todos, então, por que todos não são feitos justiça?

8. João 17:9. A intercessão de Cristo não é por todos os homens, e, portanto, nem a Sua morte o foi. (Ver Segunda Parte, capítulos quatro e cinco).

9. Efésios 5:25. Cristo ama a Igreja e isto é um exemplo de como um homem deve amar a sua esposa. Mas se Cristo amou outros tanto quanto a Sua Igreja, até ao ponto de morrer por eles, então os homens podem certamente amar outras mulheres além de suas esposas!

Pensei que poderia acrescentar outros argumentos - mas, considerando aquilo que já disse, estou certo de que o que já foi argumentado é bastante para satisfazer os que se satisfarão com argumentos; no entanto, aqueles que são obstinados não se satisfarão ainda que eu inclua outros argumentos. Portanto, encerro meus argumentos aqui

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Fonte: John Owen, Por quem Cristo morreu, págs. 49-70. Editora PES - 1986.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

COMO DEUS FALA HOJE?


"AMADOS, PROCURANDO EU ESCREVER-VOS COM TODA A DILIGÊNCIA ACERCA DA SALVAÇÃO COMUM, TIVE POR NECESSIDADE ESCREVER-VOS, E EXORTAR-VOS A BATALHAR PELA FÉ QUE UMA VEZ FOI DADA AOS SANTOS." Judas 3.

"TOMAI TAMBÉM O CAPACETE DA SALVAÇÃO, E A ESPADA DO ESPÍRITO, QUE É A PALAVRA DE DEUS;" Efésios 6:17.


Algumas pessoas reivindicam que Deus fala-lhes por sonhos e visões. Em uma ocasião, eu perguntei a uma mulher como ela sabia que tinha sido salva e disse me que sabia que tinha sido salva porque estava no hospital, numa noite, próxima à morte e, no meio da noite, o Senhor apareceu-lhe em uma visão e lhe disse que não se preocupasse porque ela ficaria bem.
Algumas pessoas reivindicam que Deus fala-lhes através de revelações especiais ou pelo dom de profecia. Afirmam que Deus dá-lhes as mesmas revelações especiais que deu aos apóstolos, no tempo do Novo Testamento. Algumas pessoas reivindicam que Deus fala-lhes com voz audível. Conheci um pastor que constantemente dizia: "Deus disse-me para fazer isso" ou "Deus falou-me que isso ia acontecer."
Algumas pessoas reivindicam que Deus fala-lhes através de impressões imediatas nas suas mentes ou daquilo ao qual gostam de se referir como "uma voz suave e quieta". Dizem que fizeram isso ou aquilo porque repentinamente sentiram-se fortemente movidos a fazer algo.
Como Deus fala, hoje? Como revela Deus a Sua vontade a nós, hoje? Como Deus fala aos homens, hoje, chamando-os a pregar o evangelho? Como Deus fala-nos em tempos de tristeza e morte, a fim de trazer-nos conforto e paz? Os dois versículos do nosso texto dão-nos respostas a todas essas perguntas.
A BÍBLIA É A PALAVRA FINAL DE DEUS AOS HOMENS
Judas 3 diz: "Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos." "Fé", nesse caso, não se refere à fé pela qual uma pessoa recebe a salvação. Não se refere à convicção nem a confiança que tem o salvo no Senhor Jesus Cristo para a salvação. Essa "fé", ou literalmente a ÚNICA fé, aqui, refere-se a todo o corpo de doutrina que o Senhor deu ao Seu povo pela revelação. Refere-se ao corpo da verdade revelada. A Bíblia, às vezes, refere-se a essa fé como a PALAVRA DA FÉ (Romanos 10:8). "FÉ", nessa passagem de Judas, é um termo objetivo e se refere à totalidade daquilo no qual os cristãos crêem.
Judas menciona o fato de que essa fé, ou, ainda, a Palavra de Deus, FOI DADA aos santos. A palavra grega traduzida aqui como "dada" significa que esse ato se completou no passado sem que tivesse continuidade. A força da expressão "uma vez" no grego exclui qualquer possibilidade de repetição. "De uma vez para sempre" é o que essa expressão significa.
Toda a verdade de Deus para o homem está contida nas Escrituras, pois, "de uma vez para sempre", foi-lhe entregue a Palavra de Deus, a Bíblia. Tudo aquilo de que precisamos saber de Deus e da nossa relação com Ele encontra-se na Bíblia Sagrada. Toda a verdade que veio de Deus contem-se nas Escrituras. A Bíblia é a única revelação que Deus nos deu. A revelação de Jesus Cristo nas Escrituras foi a última palavra entregue por Deus ao homem. Dessa forma Deus deu a Sua última palavra. Ele não tem mais nada a adicionar ao que está expresso na Bíblia Sagrada. Nenhuma nova revelação deve ser esperada. A Palavra de Deus foi dada uma única vez. A fé foi dada uma única vez.
Não estamos dizendo que Deus não poderia dar uma nova revelação se quisesse. Esse não é o assunto agora! Estamos afirmando que Deus não revela novos fatos porque é isso que Judas e outros afirmam, na Bíblia. A Bíblia é a total e completa revelação de Deus para o homem.
TUDO o que se exige que o homem saiba de Deus, o Seu trabalho e a Sua vontade contem-se nas Escrituras. Nada, além disso, é necessário. As Escrituras são absolutamente suficientes para se saber as coisas de Deus. "Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa", diz o Apóstolo Paulo em II Timóteo 3:16-17, "para que o homem de Deus seja perfeito (espiritualmente amadurecido), e perfeitamente instruído (totalmente equipado) para toda a boa obra."
A Bíblia é a verdadeira e completa revelação de Deus para o homem. Deus não tem nada mais a dizer ao homem debaixo do céu que não possa ser achado na Bíblia. Eu gosto das palavras daquele grande e velho hino AS PROMESSAS DE DEUS que diz (#166 no Cantor Cristão, 6a impressão):
ACASO PODÍAMOS NÓS CONSEGUIR
MAIOR SEGURANÇA DO QUE POSSUIR
AS LINDAS PROMESSAS DO NOSSO BOM DEUS
FIRMADAS NA BÍBLIA PRA TODOS OS SEUS,
FIRMADAS NA BÍBLIA PRA TODOS OS SEUS.
Então, se a revelação de Deus está completa, não pode haver mais nenhumas visões, revelações, sinais milagrosos ou predições infalíveis. São realmente reivindicadas visões, sonhos divinos vindos de Deus, vozes e dons especiais de profecia, pois há aqueles que querem receber comunicações especiais ou inspiradas de Deus. Mas o Senhor Jesus claramente afirma-nos, em João 15:15, que "... tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer." Como pode alguém reivindicar a possibilidade de mais revelação levando em conta essa declaração?
Provérbios 30:6 adverte-nos: "Nada acrescentes às Suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso." Nosso texto, em Judas 3, diz que a fé foi dada aos santos uma vez e que vale para sempre. Como uma pessoa pode acrescentar algo à fé que uma vez foi dada aos santos? Além disso, o Senhor Jesus considera um anátema, amaldiçoado, qualquer um que acrescenta algo ao que já está escrito na Bíblia: "Se alguém acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro;" em Apocalipse 22:18.
Por que é anátema aquele que acrescenta algo ao livro de Deus? Porque a revelação está completa! Nada mais é necessário. Deus fechou o Livro! Apocalipse é o último livro que veio de um Apóstolo. Qualquer profecia, depois dos tempos dos Apóstolos, é anátema, segundo Deus.
A posição que os batistas assumiram ao longo da história acerca desse assunto está expressada claramente na Confissão de Fé da Filadélfia.
"Todo o conselho de Deus relativo a todas as coisas necessárias para a Sua própria glória, a salvação do homem, fé e vida, ou está expressamente afirmado ou necessariamente contido nas Escrituras Sagradas; nada pode ser-lhe acrescentado, seja por nova revelação do espírito, seja pelas tradições dos homens."
Muitas pessoas, hoje, querem "uma nova mensagem do céu" em vez das Escrituras Sagradas. Alguns, com olhos escurecidos, lêem as próprias declarações do Filho de Deus e, depois, procuram por coisas mais excitantes fora delas! As pessoas que buscam sonhos e VISÕES como sendo revelações vindas de Deus estão pressupondo claramente que a Bíblia não pode tornar um homem perfeito e perfeitamente instruído para toda a boa obra. Estão negando a suficiência das Escrituras!
Henry W. Frost, um dos principais escritores do movimento Pentecostal moderno, fez uma declaração reveladora em seu livro "Cura Miraculosa" (Publicações Evangélicas Selecionadas, São Paulo, páginas 99-100, 1984.):
"Talvez se possa esperar com confiança que, à medida que a atual apostasia aumentar, Cristo manifestará Sua deidade e Seu senhorio em proporção cada vez maior através de sinais prodigiosos, inclusive curas. Não dizemos, portanto, que a Palavra é suficiente. É suficiente para os que a conhecem e acreditam nela; mas não é para aqueles que nunca ouviram falar dela ou que, tendo ouvido, não creram nela. Para essas pessoas, deve ser feito um apelo num plano mais facilmente entendido, a saber, no plano físico."
Esse modo de pensar, abertamente e sem nenhuma ressalva, nega que a Bíblia seja capaz o suficiente para suprir todas as necessidades do homem
DEUS FALA AOS HOMENS HOJE PELA BÍBLIA
Os meios ou as ferramentas pelos quais Deus fala aos homens hoje não são visões, sonhos, vozes ou dons especiais de profecia. O meio pelo qual Deus fala hoje é a Palavra de Deus escrita.
O Apóstolo Paulo diz em Efésios 6:17: "Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus." O Apóstolo Paulo está dizendo aqui que o Espírito Santo de Deus usa a Palavra de Deus para falar e para fazer o Seu trabalho nesse mundo hoje. A Palavra de Deus escrita é a espada, o instrumento e a ferramenta do Espírito Santo, com os quais Ele opera nesse mundo para falar aos homens, hoje. As Escrituras são uma espada afiada que convence os homens do pecado, mostra a ira de Deus, refuta o erro e a heresia, resiste às tentações de Satanás e revela a vontade de Deus.
A BÍBLIA e SOMENTE A BÍBLIA é a Palavra de Deus, hoje. O único meio pelo qual o Espírito Santo fala a esse mundo hoje é a Palavra de Deus escrita, a Bíblia. Somente nEla e através dEla que chegamos ao conhecimento dAquele que é a imagem do Deus invisível e ao contato com Ele.
Como sabemos qual é a vontade de Deus, hoje? Como descobrimos qual é especificamente a vontade de Deus para nossas próprias vidas? Pastores, conselheiros, pais e amigos podem ajudar-nos a entender a mensagem e o significado da vontade de Deus, mas eles, contudo, devem estar baseados nas Escrituras Sagradas. Não há nenhum conhecimento da vontade de Deus de que o homem necessite hoje que não esteja declarado na Bíblia ou que não possa ser deduzido da Bíblia através de meditação espiritual dEla.
Toda necessidade espiritual que possamos ter está completamente abordada na Palavra de Deus escrita. Ela é absolutamente suficiente para cada necessidade que possivelmente tenhamos, se não em declarações diretas, em princípios estabelecidos. Repetindo, II Timóteo 3:16-17 afirma que "toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra." Escute! O Espírito Santo nunca revela nada à alma que não está nas Escrituras! Não tenha dúvidas!
E a vontade de Deus para a tua e a minha vida? Como Deus revela a Sua vontade a nós, hoje? Em primeiro lugar, precisamos reconhecer que a vontade de Deus está sempre concordante com a Sua Palavra. Deus não tratará conosco sem observar a Sua palavra (as Escrituras Sagradas)!
O que, então, devemos fazer dos sonhos, visões, impressões e dons de profecia etc." O que devemos pensar sobre os sonhos? Muitas pessoas crêem que seus sonhos são mensagens de Deus. Precisamos entender que todo mundo, mais cedo ou mais tarde, sonha. Este é um fenômeno que Deus construiu na psique humana.
Há muita coisa envolvida quando o assunto são sonhos. Quando eu trabalhava na penitenciária estadual em Granito, Oklahoma, cheguei a perceber que os presos têm alta incidência de sonhos sérios e por isso comecei a pensar e a estudar sobre sonhos. Uma coisa que descobri foi o fato de que, durante o nosso sono, nossas mentes e, especialmente nosso subconsciente, está livre e desinibida. Muitas vezes, o que ouvimos, pensamos ou relembramos nas últimas 24 horas volta-nos em sonhos à noite.
Eu também descobri que coisas como culpa, especialmente a culpa, mexe com o subconsciente de forma que os pensamentos, às vezes, tornam-se muito mais vívidos e sérios. Homens que se sentem culpados freqüentemente têm pesadelos, visões e sonhos sérios mais do que aqueles que não se sentem culpados. Existem várias outras coisas que produzem e estimulam sonhos, tais como indigestão e preocupação.
Eu também descobri que sonhos são um dispositivo que Deus embutiu em nossas mentes a fim de nos ajudar a permanecer adormecidos quando estamos prestes a despertar ou quando temos um sono leve. Portanto sonhos têm um propósito no esquema de Deus, mas esse propósito não é revelar a mensagem de Deus ou a Sua vontade!
E as fortes impressões que as vezes nos animam a fazer algo para o Senhor? O perigo de confiar que impressões são mensagens ou instruções de Deus está no fato de que, além do Espírito Santo, existem outros seres espirituais e influências que podem trazer-nos impressões. I João 4:1 diz: "Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo." E o fundamento pelo qual julgamos os espíritos é, obviamente, a Palavra de Deus.
Quando uma mulher se sente "impressionada" ou "conduzida pelo espírito" para pregar no púlpito, ela não está sendo movida pelo Espírito Santo, está guiada por um "outro espírito", porque as Escrituras Sagradas, pela qual o Espírito de Deus fala, proíbe radicalmente que as mulheres preguem em I Timóteo 2:12. Se um jovem Cristão se sente "conduzido" a se casar com uma incrédula, ele está sendo movido por um "outro espírito", não pelo Espírito Santo, porque a Palavra de Deus proíbe isso estritamente em II Coríntios 6:14-18.
De maneira nenhuma devemos viver de acordo com nossas próprias intuições e impressões aparte da Palavra de Deus. Temos que medir essas impressões pela Palavra de Deus. Temos que buscar aquilo que Deus diz na Sua palavra. O critério que devemos usar para julgar a liderança do Espírito em todas as coisas é unicamente a Palavra de Deus. Tudo deve ser medido pela Palavra de Deus. O Espírito Santo comove as pessoas para que façam coisas. Mas sempre concordantes, fundadas e consistentes tendo em vista a Palavra de Deus escrita.
O Espírito Santo faz que o coração se disponha a aceitar a verdade e os deveres ensinados pelas Escrituras. Quando ficamos fortemente comovidos a testemunhar a alguém sobre o Senhor Jesus Cristo, é porque o Espírito Santo está implementando a Palavra de Deus que nos manda pregar o Evangelho a toda criatura. Num tempo ou outro, lemos ou recebemos essa instrução da Palavra de Deus e Ele impressiona essa verdade em nossos corações em relação a algum indivíduo particular.
Pensemos um pouco mais sobre a obra que o Espírito Santo tem de falar através das Escrituras. Como é que o Espírito Santo fala pela Bíblia? Como é que Ele fala pela Palavra de Deus?
É possível que alguém conheça fatos da Bíblia e, ainda assim, não saiba qual é a vontade de Deus. Os Judeus, na época de Jesus, tinham as Escrituras e a conheciam nos mínimos detalhes de cada letra e, mesmo assim, não conheceram a Deus, o Filho, quando apareceu entre eles. O que estava errado?
A Palavra de Deus é uma espada, uma espada afiada de dois gumes, mas a sua eficácia depende no Espírito Santo. Sem a obra do Espírito Santo na Palavra, Ela não é eficaz. O Espírito Santo faz com que a Palavra de Deus seja eficaz e poderosa. Um pregador explica isso da seguinte maneira: O ESPÍRITO NÃO NOS ENSINARÁ SEM A PALAVRA. A PALAVRA NÃO NOS ENSINARÁ SEM O ESPÍRITO.
Esse trabalho educador que tem o Espírito Santo, a eficácia da palavra do Espírito, que é a Palavra de Deus, é aquilo a que normalmente nos referimos como a obra iluminadora do Espírito Santo ou a obra de iluminação pelo Espírito Santo. John Owen definiu iluminação como:
"A operação efetiva do Espírito Santo, livrando nossas mentes da escuridão, ignorância e preconceitos, permitindo-nos discernir coisas espirituais da maneira correta."
A iluminação interior do Espírito de Deus se faz necessária para que haja compreensão salvadora das coisas que são reveladas na Bíblia. Não podemos chegar a qualquer compreensão adequada da palavra sem essa obra do Espírito Santo.
O Espírito Santo ilumina o nosso entendimento e conduz a nossa vontade para que façamos o que agrada a Deus. O Espírito Santo opera na palavra e pela palavra, abrindo o nosso entendimento aos ensinos, às advertências, às condenações e a convites da Palavra de Deus. Deus fala hoje pela operação iluminadora do Espírito Santo, abrindo a compreensão daqueles em quem Ele trabalha, para que façam a sua vontade como é revelado na Sua Palavra.
ALGUMAS APLICAÇÕES
Primeiramente, se Deus fala pela Palavra escrita, a espada do Espírito, temos que nos tornar estudantes diligentes da Sua Palavra se queremos saber qual é a Sua vontade. Sabendo qual é a vontade de Deus, muitos problemas podem ser resolvidos se, em vez de perguntar "é essa a vontade de Deus?", perguntássemos, "isso está de acordo com a Palavra de Deus?"
A cada decisão que tomamos, a cada plano que temos, a cada ação que executamos, perguntamo-nos, "isso está em harmonia com a Palavra de Deus escrita?" Se alguma coisa está em harmonia com a Palavra de Deus, podemos assegurar-nos de que essa é a vontade de Deus, porque ela está revelada na Sua Palavra. Se estou fazendo o que ensinam as Escrituras, devo ser conduzido pelo Espírito de Deus, porque o Espírito nunca leva ninguém a agir em oposição à Palavra de Deus escrita.
Em segundo lugar, se Deus só fala pela Sua Palavra, hoje, é essencial que oremos para que o Espírito Santo nos ilumine de forma que possamos entender a Palavra que recebemos. Não precisamos de revelações adicionais de Deus. Precisamos orar para que o Espírito de Deus nos ilumine de tal forma que entendamos a Sua Palavra que já temos conosco. Temos que orar fervorosamente para que o Espírito de sabedoria e de revelação abra os olhos da nossa compreensão. Precisamos orar como Davi no Salmo 119:18, "Abre Tu os meus olhos, para que veja as maravilhas da Tua lei." Essa é uma oração que pede a obra iluminadora do Espírito Santo.
Em terceiro lugar, se a Bíblia é a fé uma vez dada aos santos, como Judas 3 diz que é, temos que orar, temos que ensinar e distribuir a Palavra de Deus com toda dedicação. De outra forma, o mundo não se conforma à vontade de Deus para a salvação, no quotidiano ou em qualquer outra atividade.
Em quatro lugar, se somos chamados para batalhar pela fé que Deus deu aos santos para sempre, sobre a qual Deus nos deu Sua última palavra, temos que rejeitar qualquer reivindicação por novas revelações. Nem anjos nem milagres deverem levar-nos a aceitar qualquer acréscimo à Palavra de Deus escrita. A Palavra de Deus escrita é perfeita, completa, suficiente e o homem de Deus deve, portanto, recusar qualquer outra revelação. Porque a revelação de Deus está completa e porque unicamente o Espírito Santo opera pela Palavra de Deus escrita. Qualquer reivindicação por outra revelação, além daquela que Deus já nos concedeu pela Bíblia, é falsa e deve ser rejeitada.
Algumas seitas reivindicam o fato de Deus ter se pronunciado através de outros livros desde a época em que a Bíblia foi escrita. Por isso temos "Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras", "O Livro de Mórmon", "Doutrinas e Alianças" e "Pérola de Grande Valor". Algumas das marcas de uma seita são reivindicar outros livros, outras revelações consideradas necessárias além da Bíblia e que Deus continua falando desde que a Bíblia se completou.
CONCLUSÃO
A Bíblia, a preciosa Palavra de Deus, é de extrema importância. Tudo o que se relaciona à salvação, à vida presente e ao porvir depende dela.
Deus, por meio da Bíblia, fala aos pecadores perdidos. A Bíblia fala aos homens e às mulheres e aos meninos e às meninas que estão perdidos no pecado e indo ao inferno por isso. A Bíblia nos diz que não há nada que um pecador possa fazer para se salvar ou para ajudar a se salvar. A Bíblia nos diz que a salvação é uma obra da graça de Deus e que, somente quando o Espírito Santo regenera um pecador e lhe dá vida espiritual, esse pecador pode arrepender-se dos seus pecados, crer no evangelho de Jesus Cristo e ser salvo.
Meu amigo pecador, a Bíblia tanto manda quanto convida que te arrependas de teus pecados e venha a Cristo para a salvação. Que o Espírito Santo ilumine teu coração hoje, abrindo os seus olhos de forma que você entenda e responda à vontade de Deus como é revelado na Sua Palavra.
LAURENCE JUSTICE
Laurence Anson tem cinqüenta e sete anos, é casado com Lyndy Eddy que veio de Searcy, Arkansas, e tem três filhos. Justice é formado pela Universidade Batista de Oklahoma e pelo Seminário Teológico Batista do Sudoeste. Ele tem pastoreado a Igreja Batista na Avenida Kentucky, Oklahoma City, a Primeira Igreja Batista de Willow, Oklahoma, e a Igreja Batista Hillcrest, Midwest City, Oklahoma, e está pastoreando a Igreja Batista da Vitória em Kansas City, Missouri. Ele também tem pastoreado no Alabama e servido como Chapelão na prisão estadual de segurança média em Granite, Oklahoma.
Entre suas publicações, incluem-se: "Pequeno Alcatraz", "A Música na Igreja", "Por que, Senhor, Por que?", "O Pentecostalismo", "Uma Igreja Batista Deve Ter Anciões?", "Uma Igreja Batista Deve Reconhecer O Batismo Estranho?", "Uma Igreja Batista Deve Consagrar Diaconisas?", "Uma Igreja Batista Deve Praticar Um Governo Democrático Na Igreja?", "Os Batistas Devem Adotar Confissões de Fé?", "Cristãos Devem se Aposentar?", "O Cristão e o Serviço Militar" e "Deve uma Igreja Batista Tolerar Musica Contemporânea Moderna?"

Autor: Pr Laurence A. Justice
Tradução: Calvin G. Gardner 12/00
Revisão Textual: Albano Dalla Pria 01/01
Fonte: www.palavraprudente.com.br